Membro do conselho Gestor, Anísio Ciscotto diz que “só o dinheiro do Arrascaeta já pagava a FIFA”

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FOTO: REPRODUÇÃO / SITE OFICIAL / CRUZEIRO E.C.

Conselheiro, ex-membro do conselho fiscal e atual membro do conselho gestor, nós conversamos com Anísio Ciscotto sobre a situação atual do Cruzeiro, as condições financeiras em que o clube se encontra e sobre o que foi feito nesses últimos meses em que o núcleo dirigente transitório esteve no comando do clube. 

Anísio foi enfático ao dizer que o papel do conselho gestor foi o de estancar o clube que estava, sim, à beira da falência e relembrou dos primeiros dias em que o Vittório Mediolli esteve no Cruzeiro como CEO: “A ideia do Vittorio Medioli era mesmo declarar falência. Só assim o clube poderia se reerguer. A cada dia surgia um novo contrato, uma nova dívida, nada era catalogado e era tudo uma desorganização. Era fazer igual fazem na Itália ou em outros países, como o caso do Parma.”

Muito se atribui os problemas do Cruzeiro à gestão Gilvan, mas Anísio relembra que, apesar dos problemas e das dívidas deixadas pelo presidente bicampeão brasileiro, o clube terminou em seu mandato sendo campeão da Copa do Brasil. “O time bicampeão da Copa do Brasil era todo montado pelo Gilvan,  aquele time tinha ativos que poderiam ser vendidos, a própria premiação da Copa do Brasil de R$60 milhões poderia ter sido usada para pagar a maioria das dívidas, além das classificações na Libertadores, patrocínios grandes e direitos de TV, coisas que não temos mais hoje.”

Sobre as dívidas na FIFA, o Cruzeiro apresentou em seu portal de transparência (clique aqui e confira) uma apresentação aos possíveis novos presidentes e mesa diretora do conselho deliberativo. Nela, a dívida na FIFA consta com valores de R$80 milhões. Anísio explica que o aumento da dívida se deve ao momento das moedas e da cotação atual. Uma variação de 26%, que eleva ainda mais o valor a ser pago pelo clube.

Parte da apresentação do Cruzeiro que apresenta como está a situação da dívida da FIFA do Cruzeiro (Imagem: Portal Transparência / Cruzeiro E.C.)

– Eu tenho bom trânsito na Europa, sempre que vou converso com os presidentes e demais dirigentes de outros clubes. O Cruzeiro é respeitado lá fora e diante do que nós (conselho gestor) estamos fazendo aqui, eles sentem esse respaldo para negociar as dívidas. Mas o cenário é imprevisível, como negociar com eles essas dívidas, se nós só estaremos à frente do clube até o dia 31 de maio? Eles não tem a segurança de que o próximo presidente, seja qual for, vai manter essa negociação, ou esse pagamento – disse Anísio, quando perguntado sobre as renegociações da dívida na FIFA e sobre o conselho gestor só permanecer até o final do próximo mês.

– Só o dinheiro da venda do Arrascaeta pagaria a dívida na FIFA, à época – comenta o membro do conselho gestor – mas pra onde foi esse dinheiro? Pagamento de agentes? Aumento de salário? Basta ver a conta que apresentamos no portal da transparência para entender que o clube não estava sendo gerido com juízo.

Ainda sobre a realidade financeira em que o Cruzeiro se encontra, Anísio disse que o próximo presidente vai pegar um clube organizado, mas faz ressalvas: “Sem dinheiro em caixa. O Cruzeiro não tem dinheiro para fazer as loucuras que vinham sendo feitas. O que o clube recebe, hoje, seja de patrocínio, sócio ou repasse da TV, é para pagar as contas, manter os funcionários e os jogadores recebendo, em dia. Abaixamos a folha do futebol de R$16 milhões para algo perto de R$3 mi.”

– Já se passou um ano desde que as denúncias e as investigações vieram à tona pela reportagem do Fantástico, acredito que seja tempo suficiente para o MP ao menos apresentar algumas considerações sobre o que vem sendo feito e como podemos responsabilizar aqueles que deixaram o Cruzeiro nessa situação – disse Anísio ao final da entrevista.

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