E a conta, vai chegar?

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Tema central das brigas de bastidores – que já se tornaram públicas – as contas do Cruzeiro referentes ao período de 2016 (comparativo) e 2017 foram aprovadas pelo Conselho Fiscal e entrarão para votação e possível aprovação do conselho em data ainda não marcada, mas que deve acontecer dentre os próximos dez dias.

E, afinal de contas, o que nos diz o balanço fiscal? O Cruzeiro deve muito, como alegado diversas vezes por cartolas da atual gestão? Ou com dinheiro em caixa, como alega o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares? Vamos aos números:

De acordo com o balanço auditado pelos contadores Dênio de Oliveira Lima e Frederico Yuri Abreu Mendes e posteriormente aprovado pelo Conselho Fiscal do Cruzeiro, o clube celeste fechou 2017 com superávit de R$30.549.615,31, mesmo tendo um aumento significativo nos gastos com futebol.

Ser campeão tem seu preço? Para o Cruzeiro, teve. O time que foi campeão da Copa do Brasil não custou barato. Em 2016 o clube celeste gastou cerca de 10 milhões de reais no futebol. Em 2017 esses valores chegaram a 43 milhões de reais, o que se torna visível comparando os plantéis dos respectivos anos e a qualidade individual de cada um.

Outro número que também soma aos cofres celestes de acordo com o balanço é a receita total, que subiu cerca de 28%, chegando aos 283 milhões de reais – grande parte desse valor por conta dos direitos ligados às cotas e luvas da TV.

Importante: aqui, devemos lembrar que em 2016 o Cruzeiro prorrogou seu contrato (que ia até o final deste ano) com a Rede Globo, estabelecendo um vínculo com a emissora até 2020.

Mas… e a dívida?

Bom, antes de tudo é preciso deixar bem claro que o Cruzeiro sempre deveu. E sempre irá dever. Qualquer coisa diferente disso é campanha política. A gente só precisa entender como funciona essa equação.

O balanço trabalha com as dívidas, ou melhor, os passivos circulantes e não circulantes.

O passivo circulante é, basicamente, dívidas de curto prazo, que necessitam ser pagas e não podem ser postergadas ou “parceladas”. Nesse montante, o Cruzeiro soma o valor de R$225.370.874,81.

Já o passivo não circulante é o que o clube se propõe a pagar em “longo prazo”, como, por exemplo as dívidas fiscais que são oriundas de obrigações tributárias. Vale lembrar que essas dívidas são construídas dentro de um longo caminho que passa por várias administrações e dificilmente serão sanadas dentro de um ou dois mandatos – a dívida fiscal do Cruzeiro, hoje está em 170,8 milhões de reais.

Item do demonstrativo que explicita o PROFUT.

Importante (2): aqui, devemos lembrar que o Cruzeiro aderiu ao PROFUT, proporcionando ao clube benefícios fiscais que reduziram multas, juros e encargos legais dessas dívidas fiscais/tributárias.

O fundador da empresa PLURI Consultoria, especializada em gestão aplicada, economia e inteligência de mercado, Fernando Ferreira, publicou em seu twitter (@Fernandopluri) práticas considerações sobre a situação financeira do Cruzeiro em que o mesmo diz que “esperava algo pior”. Ele ainda cita que a dívida líquida do Cruzeiro caiu 5% e chega aos 517 milhões de reais.

E você pode estar se perguntando: o que tudo isso significa? Que está tudo bem, afinal o clube teve um superávit?

A reposta é sim e não.

Sim, as contas estão aí. O clube não está quebrado ou falindo. Nada de apocalíptico está acontecendo. Não tem nenhuma tragédia anunciada e nenhuma conta “a ser paga”. As contas do Gilvan não apresentam nenhuma irresponsabilidade ou gestão desastrosa como se pintou durante o período de eleições do clube. Mas, apesar de tudo isso, algumas coisas não ficam claras e cabe ao conselho o questionamento:

Parte do demonstrativo que cita “Outras Receitas” no valor de 35 milhões.

1) Quando o balanço apresenta as Receitas Operacionais, discrimina o valor de R$35.821.389,73 com a nomenclatura de “OUTRAS RECEITAS” que em nenhum momento é especificado e se trata de uma quantia significativa para o clube.

2) O “Fluxo de Caixa”, por exemplo, não é especificado no balanço. Isso cria uma confusão sobre o porquê em determinados momentos da temporada o clube ter sido acionado por entidades como a FIFA.

3) O porquê de alguns atletas considerados fundamentais para o clube terem suas % de direitos econômicos reduzidos de um ano para o outro. Transparência. Alguns casos: Arrascaeta (de 30 para 25%), Manoel (40 para 30%), Murilo (80 para 75%), Nonoca (85 para 60%) e Rafael (100 para 80%).

4) Ao assumir a presidência, o atual mandatário Wagner Pires de Sá realizou empréstimos para regularizar atrasados, como o mesmo alegou. Mas o balanço é um ponto a ser usado na contestação da real necessidade de se fazer esses empréstimos – ou linha de crédito, como quiserem. Esse superávit estava ou não no fluxo de caixa?

Para finalizar, o atual presidente solicitou no mês de março uma outra auditoria independente nas contas do clube, essa tarefa ficou a cargo da empresa BDO Brazil. Os resultados dessa auditoria estavam previstos para o início de abril, mas até o momento não foram apresentados.

Para conferir o balanço do Cruzeiro divulgado na íntegra, basta acessar o site oficial ou clicar aqui.

 

Atual presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá. (Foto: Marcos Vieira / D.A Press)

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