Compliance? Gestão de Wagner Pires de Sá fez contrato milionário e apenas 5% das ações foram concluídas

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FOTO: TIAGO MATTAR / REPRODUÇÃO 

Em abril de 2018, a gestão do presidente Wagner Pires de Sá assinou contrato com a Poli Consultoria Ltda. para implementar seu programa de “Compliance” – um conjunto de disciplinas e práticas que tem como finalidade cumprir regras e normas legais e institucionais. O contrato chama atenção pelo seu alto valor, especificamente de R$1.260 milhão, e consequentemente pelo descumprimento das próprias ações propostas por ele. 

Mas se o objetivo supostamente fosse demonstrar transparência e profissionalismo, a assinatura do próprio contrato levanta suspeitas: a relação entre um dos sócios da empresa (e signatários do contrato) é ser parceiro e co-autor de diversos artigos e livros com Fernanda São José, esposa do ex-presidente. A empresa também foi a responsável por escrever a instrução normativa do Conselho Fiscal do clube e, ao final do mandato, foi possível apurar através dos balanços contábeis do clube, que esteve entre as fornecedoras que mais faturaram do Cruzeiro (clique aqui e confira).

Documentos obtidos pelo portal Deus Me Dibre mostram que o contrato realizado previa o pagamento de R$38.182 em 33 parcelas mensais. No total, o Cruzeiro pagou R$747.628 do valor devido, quando a partir de agosto de 2019 as parcelas deixaram de ser pagas. O distrato do contrato foi feito em março de 2020, com a descontinuação dos serviços prestados pela empresa.

Entre os serviços prestados, está o manual de ComplianceNo mês de abril de 2019 o Cruzeiro apresentou aos seus conselheiros e associados o documento de compliance elaborado. Entretanto, investigações internas do clube dão conta de que o serviço não foi amplamente implementado. O documento não especifica o que de fato seria implementado pela Poli Consultoria Ltda. e o que seria apenas recomendação para que o clube seguisse. A matéria oficial no site você confere clicando aqui.

Em matéria apurada pelo portal Superesportes, em abril de 2019, o manual foi devidamente apresentado e analisado. Entre suas diversas ações (ou recomendações) constavam mecanismos para resguardar o clube de possíveis punições fiscais, tributárias e desportivas – que já estava sob investigação da Polícia Civil e do Ministério Público. Você confere todos os detalhes do manual de compliance clicando aqui.

Nos documentos que tivemos acessos, pode-se fazer um apanhado das ações e sugestões dadas pelo manual e apenas 5% estavam concluídas. 24% haviam sido iniciadas mas sem conclusão e 71% não foram sequer implementadas. Uma das ações da época foi criar um site para centralizar os assuntos relacionados a compliance – que envolviam até um canal de denúncias para irregularidades. Entretanto, o site que está no endereço compliancecruzeiro.com.br não esteve disponível no lançamento e atualmente está fora do ar. É preciso deixar claro que o domínio do site não pertence ao clube, estando em nome da empresa responsável (Poli).

Após a renúncia da antiga gestão e o pleito que elegeu Sérgio Santos Rodrigues como presidente, foi criado um Comitê de Governança Gestão e Compliance, que atuará de forma independente e será responsável por aconselhar e assessorar a presidência e diretorias do Cruzeiro, com o intuito de colaborar nas atribuições de cada área e também verificar se todos estão agindo em conformidade aos processos, instruções normativas e leis internas ou externas.

Nossa reportagem questionou junto ao Cruzeiro e o Comitê sobre a vigência do antigo manual publicado e o contrato realizado com a empresa de consultoria.

O coordenador do Comitê, Daniel Pardini, disse que “o Cruzeiro não vai utilizar o manual de compliance da antiga gestão. Essa gestão (atual) está mudando a cultura da governança e da gestão do Cruzeiro, que antes era praticamente feita por contatos realizados por terceiros. O que nós fizemos hoje foi estruturar o Comitê de Governaça GEstãoe  Compliance com membros independentes e gestores profissionais do clube, onde estão sendo analisados todos os contratos da gestão anterior e registrado todos os indícios de gestão temerárias. O comitê tem autonomia pra realizar essas investigações e a partir de agora, fará parte da estrutura do clube. Não terá mais contrato com terceiros.”

Daniel desconhecia o site de compliance, mostrado acima, mas sabe que “foi feito um contrato da última gestão com essa empresa de consultoria com valores significativos e que não foram implementados no clube. Volto a frisar que a gestão é outra, com um comitê institucional.”

Por fim, Daniel Pardini diz que vai verificar o manual antigo, o contrato realizado e ver o que “pode ser aproveitado na investigação e nas análises que está sendo feita na gestão de 2018 e 2019. E também verificaremos se houve superfaturamento do valor cobrado pelos serviços em relação aos preços de mercado.”

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