
FOTO: BRUNO HADDAD / FLICKR OFICIAL / CRUZEIRO E.C.
“Vamos montar um time intragável. Quem nos enfrentar, vai sentir na pele. Vamos fazer o campo virar para eles. Vamos dar uma inclinada. Eles vão olhar daqui para lá e vão ver uma subida. (Eles vão pensar) Tá foda jogar contra esses caras”, Enderson Moreira em conversa com o elenco em 4 de julho.
Quase dois meses depois, o treinador realmente cumpriu o que prometeu. Na derrota por 2×1 para o América-MG, no Mineirão, pela sexta rodada da Série B, o quarto jogo sem vitória, o torcedor recebeu um time intragável. Porém, não para o adversário e sim para quem assiste, ansioso, torcendo pelo acesso ao fim da 38ª rodada. Sem repertório, variação tática e ideias que tirem a equipe do incômodo 14º lugar, com 4 pontos, o trabalho do técnico até aqui é frustrante. Mais perto do Z4 do que do G4, o revés no Mineirão expõe um futebol de baixíssima qualidade, escolhas equivocadas e a certeza de que o elenco, mesmo limitado, está sendo mal aproveitado pelo técnico.
Mesmo nas três vitórias iniciais na Série B, o que fez o Cruzeiro se recuperar rapidamente dos -6 pontos que iniciou devido a punição da FIFA, o futebol apresentado demonstrava que era preciso evoluir. A falta dos resultados positivos escancarou a limitação tática e técnica do time. No entanto, limitação técnica não pode ser desculpa para a falta de vitórias, afinal nenhum clube da Série B possui um grande elenco e, sim, temos mais recursos, material humano e estrutura para tanta dificuldade apresentada. Com novidades na escalação, o atacante Airton foi titular pela primeira vez depois de boa apresentação contra o CRB. Henrique entrou na vaga de Jadsom e fez dupla com Ariel Cabral, o que foi muito contestado pela torcida principalmente pelo mal futebol apresentado por ambos em 2019.

Enderson prometeu um time intragável e vem entregando. Porém, para o próprio torcedor do Cruzeiro. Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro
O clássico começou equilibrado. O Cruzeiro ia para o ataque de forma desorganizada buscando a velocidade de Airton pela direita, mas não havia ali um esboço de jogo coletivo e sim espasmos de lampejos individuais. Novamente abaixo, Régis e Marcelo Moreno pouco acrescentaram. O camisa 10 não consegue organizar a equipe e o centroavante acaba saindo muito da área, já que não recebe bolas em condições de finalizar. O América mostrava organização e, montado num 4-1-4-1, subia a marcação pressionando a saída de bola dos zagueiros do Cruzeiro, isolava Henrique e Ariel no meio-campo se impondo fisicamente e explorava bem os corredores com Matheusinho e Rodolfo. Aos 25 minutos, após cruzamento na área vindo da esquerda, Bauermann disputou pelo alto com Léo e a bola sobrou pra Rodolfo. O atacante girou e cruzou para o zagueiro completar de pé direito, superando com facilidade Giovanni e Léo, que estavam mais próximos na marcação. 1×0.
Aos 30 minutos, Zé Ricardo lançou Daniel Borges, que ganhou dividida de Ariel Cabral, muito mal na partida e que errou o passe que possibilitou o contra-ataque. A bola sobrou para Rodolfo – novamente pela esquerda – que cruzou rasteiro na segunda trave. Matheusinho finalizou, mas Cáceres salvou em cima da linha. O camisa 10 do Coelho pegou a sobra e ampliou: 0 a 2.
Pressionado e vendo suas escolhas não surtirem efeito no time, Enderson retornou com três alterações. Matheus Pereira, Jadsom e Maurício entraram nos lugares de Giovanni, Ariel Cabral e Régis, respectivamente. As mudanças, no entanto, pouco surtiram efeito no jogo. Com o placar feito, o América deu a bola pro Cruzeiro e seguiu marcando subindo as linhas para dificultar a saída de bola do time celeste que, sem ideias na frente, sequer conseguia ameaçar a meta do goleiro Matheus. Somente aos 30’,em bela cobrança de falta de Arthur Caíke que o time conseguiu diminuir o placar. Mesmo com o gol, a falta de ideias e repertório impediu que houvesse uma reação mais efetiva. Ficou por isso mesmo. Foram 27 cruzamentos (15 no segundo tempo) e somente 4 finalizações no alvo, nenhuma com real perigo.
Na próxima rodada, o Cruzeiro enfrenta o Brasil de Pelotas, na quarta-feira, às 21h30, no estádio Bento Freitas, em Pelotas, no Rio Grande do Sul. E a verdade é que até aqui o trabalho de Enderson Moreira vem sendo decepcionante, o que não inspira nenhuma confiança de que teremos uma reabilitação. Reage, Cruzeiro.