
FOTO: STAFF IMAGES / FLICKR / CRUZEIRO E.C.
Intensidade, bloco alto, pressão e busca por gols. Não é raro ouvir essas palavras saindo da boca de Paulo Pezzolano, técnico do Cruzeiro. Após implementar seu estilo de jogo e fazer com que seu grupo de jogadores comprasse suas ideias, Pezzolano viu os resultados aparecendo jogo após jogo, mesmo com as habituais dificuldades do futebol brasileiro.
Desde que foi contratado pela gestão de Ronaldo, a proposta de Pezzolano se tornou um diferencial para a equipe do Cruzeiro. Acostumado a enfrentar adversários que na maioria vezes optam por se defender e buscar os erros do adversário, principalmente em âmbito estadual e também na Série B do Campeonato Brasileiro, o uruguaio foi na contramão do senso comum e quis que seu time atacasse, buscasse o gol a todo momento e mantendo a posse de bola produtiva.
É desta forma que o Cruzeiro vem consolidando sua linha de frente, principalmente na figura do centroavante Edu. Autor de 14 gols na temporada, Edu já superou os últimos “goleadores” do Cruzeiro nas últimas temporadas – Matheus Barbosa, com 7 gols marcados em 2021 e Rafael Sóbis, com 6 gols marcados em 2020 – outro que vinha em franca ascensão antes de ser negociado era Vitor Roque, que marcou 6 gols com a camisa celeste.
Mas se todo mundo presta atenção no ataque celeste, é a defesa que vem merecendo bastante elogios da crítica e dos torcedores. Após a vitória sobre o Sampaio Corrêa, o clube completou seis partidas seguidas sem sofrer gols – cinco pela Série B do Campeonato Brasileiro e uma pela Copa do Brasil – um feito marcante na história do clube.
A última vez que o clube havia ficado sem sofrer tantos gols foi na temporada de 1997. Dida, um dos maiores goleiros da história do clube, ficou iguais seis partidas sem ter sua meta vazada. O feito aconteceu entre o dia 1º de outubro, quando o Cruzeiro venceu o Grêmio por 1 a 0, no Olímpico, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro daquele ano e se estendeu até o dia 18 do mesmo mês, quando venceu o Corinthians por 1 a 0, no Mineirão.
Para o técnico Pezzolano, a sequência sem sofrer gols é ótima para que um dos protagonistas da defesa celeste, o goleiro Rafael Cabral, continue crescendo na equipe e acabe de vez com qualquer desconfiança sobre o goleiro. O técnico ainda deixa claro que não ter a meta vazada é consequência do estilo de jogo proposto, mas que apenas evitar tomar gols não é a sua ideia de jogo.
“É bom para a confiança do Rafael. Eu confio muito nele, sabíamos que seria um momento difícil para ele, substituir o Fábio não era fácil. Hoje já está vencido isso, para o bem dele e da equipe. Fico feliz, o importante é que siga bem e que siga melhorando, junto com a equipe. Porque tivemos 5 jogos sem sofrer gol? Porque definimos a jogada longe do nosso gol, então é mais fácil não sofrer gols. Deus queira que sejam muitos jogos mais. Eu quero sempre conseguir mais gols. Mas não é o primeiro que eu busco não sofrer gols.”
O goleiro ultimamente tem caído nas graças da torcida. Principalmente após ser o protagonista nas cobranças de pênaltis que classificou o Cruzeiro para as oitavas da Copa do Brasil. Rafael Cabral pegou quatro cobranças do Remo e foi o grande nome daquela noite. Ainda há quem não se sinta confortável em ver um novo nome na meta celeste, mas os números de Rafael Cabral, principalmente na Série B, impressionam.
Histórico é animador
Antes mesmo de assumir o Cruzeiro e ser reconhecido no cenário brasileiro, Pezzolano já havia proposto seu estilo de jogo nas equipes que comandava. Em 2019, o técnico conseguiu um título histórico comandando a modesta equipe do Liverpool, do Uruguai. O time foi campeão do Intermedio, torneio que acontece entre o Apertura e o Clausura. Com seis vitórias e apenas uma derrota, o time de Pezzolano terminou a competição com o melhor ataque da competição (20 gols marcados) e a melhor defesa do grupo B (apenas 5 gols sofridos). O título foi decidido nos pênaltis após a final terminar 2 a 2, contra o River Plate (URU), que foi o melhor colocado do grupo A.

Em sua última coletiva, o técnico fez questão de relembrar sua passagem pelo City Torque, na campanha que garantiu o acesso ao time à primeira divisão uruguaia e também do título comandando o Liverpool, do Uruguai.
“Tive a sorte de onde estive, como no Torque City, fomos a equipe que menos sofreu. No Liverpool, quando saímos campeões, fomos a equipe menos goleada. Em um campeonato no Pachuca também fomos um dos menos que sofreu gols. Mas não buscamos isso, buscamos fazer mais gols que o adversário, para ficar longe do nosso gol.”
Outro ponto importante da solidez defensiva do Cruzeiro vai pela linha de defensores. Desde que optou pela formação com três zagueiros, Pezzolano vem extraindo as melhores características de seus defensores. Como gosta que o time busque os melhores espaços em campo e trabalhe a bola sempre no campo de ataque, tanto a saída de bola com Rafael Cabral, quanto a construção da jogada desde o campo de defesa, precisam estar alinhados com a ideia do treinador.
É possível ver isso quando o time está com a bola. Zé Ivaldo, que também pode atuar de lateral direito, tem mais qualidade e liberdade para efetuar a saída, carregando a bola pra frente se for necessário. Lucas Oliveira tem feito o papel de líbero, ajudando tanto na cobertura dos outros companheiros, como criando as jogadas a partir do campo de defesa, trabalhando diretamente com os volantes W. Oliveira e Neto Moura. E Eduardo Brock, que viu seu futebol evoluir, como ele mesmo já relatou ao Deus Me Dibre em uma entrevista exclusiva recente, também se adaptou para fazer essa construção de saída de bola, muitas vezes com bons passes longos, buscando espaço nas costas da defesa adversária.
“O grupo todo teve o entendimento de fazer isso que ele (Pezzolano) está pedindo. De saber que isso vai dar resultado e comprar a ideia. Claro que demanda três meses pra gente estar jogando em um nível maior, mas a gente teve a tranquilidade de entender que nesses três meses teríamos esse processo evolutivo. O comando continuaria o mesmo, a ideia continuaria a mesma”, disse Eduardo Brock.
Atualmente, Paulo Pezzolano comandou o Cruzeiro em 26 jogos. São 18 vitórias, 2 empates e 6 derrotas, com um aproveitamento total de 71,8%. O time já marcou 45 gols na temporada e sofreu apenas 20.