
Finalmente, após um ano de muitas oscilações e turbulências, o Cruzeiro conseguiu garantir sua permanência na Série A do Brasileirão apenas na penúltima rodada, proporcionando um alívio aos torcedores.
O ano de 2023 para o Cruzeiro começou na direção oposta, tanto em discurso quanto em prática, do que foi o Cruzeiro de 2022. Na Série B, mesmo com um time modesto e até limitado, o Cruzeiro conseguiu se estabilizar e destacar na competição. No entanto, este ano testemunhou uma inversão dessa situação, marcada por investimentos injustificados e uma notória falta de planejamento, começando pela manutenção de um técnico que claramente não queria permanecer.
É aqui que 2024 deve dar seus primeiros passos. Quanto antes, o Cruzeiro precisa buscar seu novo treinador e comissão técnica, mas com convicções claras. Os equívocos cometidos nesta temporada, com quatro comissões técnicas diferentes, não podem se repetir. Apesar da utilidade de um processo seletivo rigoroso, este não é o momento para se ater a questões de “custo-benefício”. Um técnico competente pode extrair o melhor de seus comandados, manter o vestiário coeso em momentos de pressão e desenvolver jovens talentos.
Seja com Fernando Gago, Diego Milito ou qualquer outro treinador, a precisão na escolha do comando técnico é fundamental.
A partir disso, o Cruzeiro deve iniciar uma reformulação no elenco. Ao ser questionado sobre as grandes mudanças no plantel entre 2022 e 2023, Pedro Martins alegou a necessidade de uma equipe capaz de jogar na Série A. Ao término desta temporada, torna-se evidente que muitas das contratações realizadas não atenderam a essa necessidade.
Foram 26 contratações ao longo da temporada, iniciando com Neris, contratado no final de 2022, e encerrando com a chegada de João Marcelo, emprestado pelo Porto, no final do primeiro semestre. É justo dizer que foram mais erros do que acertos, deixando pouco para formar uma base sólida para o próximo ano. Sem mencionar nomes para evitar injustiças, é notório, inclusive para os torcedores e para a crítica especializada, quem realmente tem o nível para vestir essa camisa.
Destaco a importância de aprender com os erros: ninguém pode ser perfeito em todas as decisões, mas reconhecer as falhas é demonstrar empatia. Esconder-se em palavras prolixas ou no silêncio da arrogância apenas afasta e intensifica os atritos.
Dito isso, é necessário afastar-se das muletas. Ronaldo, Gabriel Lima e os demais diretores devem parar de usar o passado como justificativa para o presente ou o futuro. A realidade financeira do clube, suas dívidas e os “esqueletos no armário” são conhecidos por todos. Ninguém espera uma solução imediata para esses problemas, mas os torcedores anseiam por um Cruzeiro competitivo, tanto em campo quanto fora dele, mesmo considerando as limitações financeiras do clube.
Os torcedores depositaram sua confiança em Ronaldo por enxergarem um futuro promissor.
Este é outro aspecto que requer atenção em 2024: a relação com o torcedor. O programa de sócio torcedor é caro, falho e complicado. Não há valorização daqueles que permanecem ao lado do clube. E mesmo diante de todos os problemas, a torcida entendeu e comprou a briga, tendo uma das maiores médias de público presente e ocupação em estádio da Série A. É crucial repensar todo o programa, talvez até inspirando-se em práticas bem-sucedidas no Brasil, como é o Corinthians e sua média de público na NeoQuímica Arena.
A falta de consideração pelas opiniões dos torcedores foi um dos pontos mais desgastantes da temporada. Mais do que os resultados em campo, a sensação de que a diretoria se fecha em seu próprio círculo e prefere ignorar os anseios da torcida é um erro grave que qualquer gestão no futebol pode cometer. A comunicação do Cruzeiro falhou tanto institucionalmente quanto mercadologicamente, afastando seu fiel escudeiro e desapontando seu maior cliente.
Para transformar 2024 em um ano verdadeiramente distinto de 2023, é necessário agir de maneira significativamente diferente.