A CONTRATAÇÃO DE TARDELLI NA SALA DE CIRURGIA

Compartilhe

FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Comparar as janelas de transferências no futebol a uma cirurgia não seria exagero. Basta um pequeno erro para que você perca o “paciente”, mesmo que você tenha se preparado por meses observando todos os aspectos positivos e negativos do jogador. Histórias bizarras nascem nesse período; como o falso empresário, assinar com o homônimo do atleta desejado, anúncio na mídia sem o contrato em mãos – dando munição para que o agente exija acréscimo nos valores. A lista é grande e resta torcer para que o erro no nosso clube seja o mínimo possível, a fim de atenuar a diferença de orçamento anual em relação a outras equipes.

Nessa sala de cirurgia, as especulações são as bactérias que podem se tornar extremamente nocivas para o trabalho do médico. Vamos direto ao ponto; a cirurgia para contratar Diego Tardelli e como bactérias colocam risco até mesmo a imagem do ídolo alvinegro.

Ao sentar em uma mesa de negociações, Marques Batista de Abreu carrega o injusto peso de quatro temporadas seguidas com desempenho ruim do Atlético. Foram apenas dois títulos do Mineiro e uma coleção de chegadas e despedidas de jogadores, treinadores e diretores, com o agravante de um 2018 recheado de tropeços de Alexandre Gallo e Sette Câmara. Agora multiplique essa pressão por um número incalculável quando o contrato a ser negociado é o de Diego Tardelli Martins, colecionadores de marcas e taças pelo Atlético.

A bactéria mais perigosa vem na necessidade de preenchimento de parágrafos em matérias com valores nem sempre reais. Caso a informação seja muito abaixo do que pede o empresário, a pressão da arquibancada é por um fechamento instantâneo e, caso não aconteça, certamente teremos a acusação de que houve má vontade dos donos da caneta na Sede de Lourdes. Se o valor informado estiver muito acima do que realmente foi proposto nas reuniões, o ídolo se transforma em um mercenário levado à forca em praça pública com referendo popular para decidir se devemos apagar tudo o que ele fez no passado. Bactérias que se propagam rápido, espalhando o sentimento de ódio por alguma das partes e não agregam em nada no relacionamento torcida-ídolo-instituição.

Caso Tardelli vista o manto alvinegro novamente, o elenco muda de patamar e entramos mais fortes nas competições disputadas em 2019. É uma peça capaz de exercer diversas funções em campo, um paraíso para o mestre Levir Culpi. O cara da metralhadora terá a chance de bater marcas e recordes históricos, além de planejar uma aposentadoria onde sempre se sentiu em casa. Ronaldinho, Victor, Leo Silva, entre outros, encontraram um Galo mais organizado, enquanto DT09 chegou após o pesadelo do centenário e encontrou o Atlético na primeira etapa de reestruturação. Já posso imaginar o gramado da Arena MRV em festa na despedida de Diego Tardelli do futebol.

Deixando de lado a poesia e mergulhando no mundo capitalista, nosso valor de ingresso sobe, mais camisas são vendidas nas lojas, premiações recheadas de dígitos chegam na Cidade do Galo. Pelo lado do atleta, metas batidas, o maior salário do elenco, a possibilidade de renovação, apesar da idade avançada e o fato de residir onde possui negócios particulares, além de conhecer bem a cidade.

Na balança entre poesia e o mundo capitalista, não devemos nos esquecer do futuro do Clube Atlético Mineiro. Comprometer o orçamento atual é ter a certeza de que pagaremos o preço em outras temporadas. Ninguém quer mais o Tardelli aqui do que esse jornalista, mas o nerd desse espaço também quer que tenhamos times fortes em 2020, 2021 e 2022. Não existe mágica nesse mundo do futebol, apesar dos jogos eletrônicos tornarem tudo tão mais fácil na construção de elencos campeões. É impossível resetar o ano se a bola não entrar na casinha, e a folha salarial estará lá recheada de encargos e 13º.

Defendi nesse espaço que caro é trazer Denilson, comparando o reforço do Alexandre Tadeu do Vitória e a possível contratação de Diego Tardelli. Continuo com a mesma opinião desde que a quantidade de dígitos debitada na conta do Presida Sette Câmara seja compatível com a realidade de um clube que figura entre os mais endividados do país. É duro, mas é nossa realidade.

Quando Tardelli chegou em 2009, o clube não tinha dinheiro em caixa para comprar um par de chuteiras. Para que não voltemos a essa realidade, é preciso manter os pés no chão em negociações que envolvem o sentimento do torcedor com um ídolo e a pressão por uma compensação após temporadas ruins.

Difícil é manter a sanidade se outro clube brasileiro anuncia-lo. Difícil, mas necessário. Galo acima de tudo!

Boa cirurgia, Marques.

Compartilhe