A CULPA É SUA

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Nós vivemos em um Brasil sem educação, saúde, segurança, saneamento básico e, segundo integrantes dos fãs-clubes de político que dominaram o país nos últimos anos, o principal motivo é a falta de apoio da população, seja no governo antigo ou no atual. Faltou torcida, nós votamos errado, não sabemos cobrar ou cobramos excessivamente e até reclamamos de barriga cheia. A culpa é sempre do povo, a gente se mata em guerras e acusações e eles assistem reunidos no mesmo camarote.

Aliás, a área política também aparece com certa frequência nas entrevistas do técnico Levir Culpi e no final de tudo, a culpa sempre cai no colo do povão. Segundo o treinador, o torcedor deveria canalizar a cobrança que tem com profissionais do esporte para protestar contra políticos que governam o país. O assunto pode ser a ineficácia dos laterais em jogadas de ataque, não importa, a resposta está na ponta da língua; faltou atitude do atleticano em monitorar a decisão polêmica do governador. Virou mania no Atlético, a culpa sempre será do torcedor! O treinador está certo ao fazer de tudo para ficar próximo de uma eliminação na principal competição da temporada. Errado está o torcedor e não é só o burro que pensa assim.

Sem concorrência na vaga há três anos, o lateral esquerdo se garante no time, mesmo com o péssimo futebol apresentado desde a temporada passada. Em entrevista à rádio 98FM, ao justificar o baixo rendimento da equipe trituradora de técnicos, Fábio Santos culpou o desejo do torcedor em ver o estilo Galo Doido, de ataque intenso em campo. Criou-se uma lenda de que torcedor de time A ou B teve paciência a longo prazo nos casos de sucesso. Mentira! Torcedor tem comportamento semelhante seja em Minas ou Rondônia, cabe aos profissionais do clube abraçarem a ideia do treinador e do departamento de futebol. O corintiano não teve paciência com Tite, Mano e Carille, os rivais de BH pediram a cabeça do Mano diversas vezes implorando por um futebol ofensivo. Jogadores e treinadores receberam crédito pelas conquistas e o torcedor? Para ele, apenas a culpa nas falhas.

De lateral para lateral, de Fábio Santos para Patric. Foram seguidas renovações de contrato e inexplicáveis escalações em momentos decisivos do time, desde 2011. Sabe de quem é a culpa por ele não apresentar NADA de relevante nesse período? Minha, sua, nossa, que não aplaude o arroz com feijão, que não entende a boa vontade em vestir a camisa com muito sorriso no rosto e pouca qualidade no gramado. Se você tiver boa vontade com o Patric, a partir de amanhã ele apresentará um futebol diferente desse que não deixou saudade nem no Vitória e Sport. Foi em um discurso desses que eu comprei a Tekpix, em 2012, como o auge da tecnologia em câmeras. Nós não renovamos contrato, não o improvisamos como ponta, nem demos carta branca para errar à vontade sem se preocupar com o posto de titular. Existe uma campanha velada para empurrar um dos maiores erros da instituição para a boa vontade do torcedor com um atleta de qualidade questionável.

Porém, o auge de culpa do atleticano aconteceu em 2018. Reclamamos tanto do trabalho de Alexandre Gallo, diretor com passagem pela CBF. Protesto na porta da Sede de Lourdes com um ar bastante suspeito, já que a campanha no ano nem era tão ruim assim. Foi a Massa quem supervalorizou a Sul-Americana, chiou excessivamente quanto aos cinco anos de contrato de Edinho e Denilson. Sete treinadores em três anos por pura ansiedade daquele que pagou ingresso para lotar o Horto, enquanto o elenco recheado de altos salários tomava baile da Chapecoense e do Jorge Wilstermann. Até o baixo número de revelações nas categorias de base já foi um fardo carregado pela arquibancada. André Figueiredo tinha planejamento e era desejado por diversos clubes, até pela CBF, era questão de tempo dar certo. Pena que não tivemos paciência para esperar tantas décadas para colhermos os frutos.

Atleticano, a culpa não é sua. Tentaram empurrar para a arquibancada seguidos erros nas últimas temporadas e o cenário está sendo montado para jogar no nosso colo qualquer tragédia que venha acontecer em 2019. Peças caras que não rendem há tempos, treinador que se esforça para piorar uma equipe e se descontrola ao ser questionado, dirigentes que não reforçaram setores carentes há diversas temporadas, o iceberg é fundo demais e os responsáveis pelo leme preferem enxergar apenas a ponta dele. Desde as primeiras entrevistas após as partidas até as coletivas na Cidade do Galo, viramos uma instituição varrendo erros para debaixo do caro tapete da sala e nosso papel é passar o aspirador ou ligar o ventilador. Afinal de contas, no final de tudo, a culpa pela casa bagunçada será sua.

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