A GUERRA INFINDÁVEL ENTRE TORCIDA, CLUBES E IMPRENSA

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Nunca imaginei que um dia falaria sobre Augusto Cury em um espaço voltado para abordarmos as investidas em Diego Tardelli, Soteldo, Róger Guedes e tantos outros. Augusto Cury não está livre no mercado de transferências, nem calça chuteiras na profissão. Com assuntos relacionados ao funcionamento da mente, o médico psiquiatra é o autor que mais vende livros no país na atualidade. Então, qual é a razão de falar sobre Cury no Deus Me Dibre?

Basta ficar alguns minutos nas redes sociais para entender o estudo em que o autor cita que nunca houve uma geração tão triste, ansiosa e em busca de migalhas para um prazer extremamente rápido e vazio. O reflexo atinge todas as áreas da sociedade, inclusive o comportamento do torcedor apaixonado. Caminhamos para a extinção do prazer em acompanhar o futebol nos estádios e nas redações.

A relação público/clube/imprensa se tornou um enorme palco de ansiosos e mimados, sem poupar também o jornalista que escreve esse texto. O torcedor quer a informação do jeito dele, no tempo dele, na velocidade viciante das redes sociais e, muitas vezes, sedento por uma brecha que possibilite despejar todas as frustrações da rotina.

Levando para o nosso dia a dia no futebol, cito o Atlético apenas para exemplificar o que digo. Quantos atletas foram especulados na Cidade do Galo desde os últimos dias de 2019? De quem é a culpa pelo excesso de manchetes listando dezenas de possíveis reforços? Obviamente, a decisão e o erro em aplicar a morfina pedida pelo paciente é do jornalista, mas o público consumir colocou uma arma na cabeça das redações e exige uma falsa lista de cinquenta atletas, pois ela tem a necessidade de alimentar a ansiedade desse universo.

Me impressiona o comportamento padrão dos que são sedentos pela mentira. A expressão “fake news” só se popularizou por haver quem propague e quem clame por ela. Do lado de cá do muro, nós, comunicadores, vivemos um período de transição na profissão. Já não há o glamour do passado e muitos profissionais não estavam preparados para ouvir/ler o outro lado. Não bastasse o conflito com os “clientes”, salas de imprensa em clubes de futebol se tornaram verdadeiras trincheiras de guerra. A instituição precisa dos veículos de comunicação, é bom para empresas expostas no uniforme, no backdrop e ainda assim a relação caminha para um afastamento sem volta. O material institucional será suficiente para abastecer o meu torcedor, pois sem observadores, não há opinião e resolveremos o problema de críticas para os meus erros.

O clube não quer ser criticado, dirigentes são blindados e se o mandatário da instituição não estiver pronto a avaliação de um trabalho ruim, táticas de guerra são colocadas em prática. Ao fim da batalha, sangrou a comunicação e só restou forças para continuar entregando a lista com cinquenta nomes de atletas especulados. Que possamos reencontrar o caminho do prazer que existe em respirar o futebol.

Para fechar, deixo com ele, Augusto Cury. “Nunca foi tão difícil educar uma geração. Não há um culpado, o sistema é culpado. Todos temos nossa responsabilidade no assassinato da infância. O que me dói na alma é saber que esses jovens serão adultos num ambiente de aquecimento global, insegurança alimentar e competição predatória, e precisarão de notável capacidade de liderança e criatividade para dar respostas inteligentes a essas questões. Entretanto, infelizmente, estamos despreparando-os para esse mundo tumultuado que nós mesmos criamos.”

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