
Pode anotar na sua agenda: 23 de novembro de 2019, data da final da Libertadores do ano que vem. Um dia. Um jogo, apenas.
Essa novidade já havia sido anunciada pela Conmebol no fim de fevereiro deste ano. Nessa segunda, a entidade comunicou a data escolhida, após uma reunião do Conselho em Moscou. O lugar da grande decisão ainda não foi definido, e é aí que está uma importante questão.
Ao mudar a final da Copa Libertadores para um jogo único, a Conmebol tenta aproximar seu principal torneio de clubes do que é feito na Europa na Liga dos Campeões. O local será escolhido com antecedência e o objetivo é fomentar o turismo na cidade sede, criar uma “clima de Libertadores” e atrair visitantes de diversos lugares. A ideia é fazer da decisão um grande espetáculo em uma partida realizada no sábado, em horário nobre. Talvez a única boa notícia dessa mudança é a final acontecer em um sábado e não mais tarde da noite em um dia comercial.
No comunicado emitido, a Conmebol afirma que tomou a decisão “após análise rigorosa de diversos estudos técnicos preparados por consultores especializados”. Será que essa análise minuciosa considerou a possibilidade de uma decisão “Argentina” e “Brasil” em La Paz, na Bolívia, com mais de 3 mil metros de altitude? Pior ainda, se a final for entre um clube boliviano e outro brasileiro, uma equipe levará uma vantagem enorme.
“Ah Júlia, mas você está pensando em um caso extremo”.
Na América, há uma diversidade grande de características geográficas. Quais serão os critérios para definir as cidades sedes ou lugares como La Paz nunca entrarão no roteiro da Conmebol? Deve ser incrível explorar todo o potencial turístico do nosso continente e conhecer essas diferenças, inclusive usando o futebol para isso, mas não podemos deixar que essas características influenciem o resultado dentro de campo.
A área da América do Sul é quase o dobro da área da Europa e não dá nem para comparar os meios de transporte daqui com os de lá. Imagina a logística e o custo para chegar a Lima, no Peru, que é uma das cidades favoritas para receber a final? No continente europeu, é fácil ir de um país para o outro de trem e avião. Sem falar que as distâncias são menores. De Belo Horizonte a Lima, são quase 5 mil quilômetros. Então quem quiser ir, terá que comprar uma passagem de avião, fora os outros gastos com hospedagem, alimentação e o ingresso, que não será barato. Agora pense na realidade da maior parte das pessoas da América, toda essa despesa é viável?
Citei o preço alto que deve ser pago e a logística, mas e a paixão de uma torcida? É único o prazer que é chegar à final e lotar o estádio que é a sua casa. Imagine aquele torcedor que está jogando junto com o time em todos os jogos do clube e não tem condições de fazer uma viagem. O clima da torcida em Libertadores sempre foi algo diferente e ela dificilmente será mantida na decisão em partida única.
Com a mudança, a Conmebol planeja ganhar mais com vendas de direitos de transmissão e patrocinadores. Pelo dinheiro, a entidade rasga o DNA da Libertadores e esquece as nossas peculiaridades para gourmetizar no estilo europeu a nossa competição.
Não sei o que você acha, mas essa decisão, para mim, é loucura.
Foto: Divulgação/ Conmebol