A NECESSÁRIA ENTREVISTA DE JORGE SAMPAOLI

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

No país em que treinador balança no cargo durante a apresentação, no clube conhecido nacionalmente como triturador de técnicos, Jorge Sampaoli concedeu a primeira entrevista coletiva e justificou em poucas palavras toda a confiança depositada pela instituição e pelo torcedor.

Sampaoli falou com naturalidade, explicando suas ideias de ofensividades, sem a subjetividade de DNA alvinegro ou que essa é a alma do Atlético, termos tão repetidos anteriormente. Ficou evidente que essa é a característica de jogo do treinador e não um discurso para que a arquibancada abrace o nome do profissional que chega, o que já acontecera também de forma natural após o acerto.

“Não ganhar por ganhar, mas ganhar de um jeito. E daqui um tempo, espero que o Atlético tenha uma forma”. A frase dita durante a entrevista justifica o conceito de ataque citado pelo argentino. Não é atacar para ter o apoio popular, não é atacar, pois o estilo defensivo causou a demissão do último técnico, é tomar as rédeas do jogo de forma organizada e consciente, pois é assim que a comissão contratada pelo clube trabalha. Ter um plano para atacar com variações de acordo com a proposta do adversário e não só pelo fato da camisa alvinegra ter visto grandes esquadrões colecionadores de gols no passado. Caso o gringo não permaneça após os dois anos de contrato, o substituto poderá dizer que herdou um sistema de jogo e que manterá por isso, não por ter visto algo parecido levantar o Mineirão na década de 70. Pouco sentimento, mas talvez essa realidade seja o ingrediente que faltava na nossa fórmula.

Ao avaliar o desempenho no clássico, Sampinha não seguiu o roteiro sentimental de Rui Costa, ex-diretor de futebol, citando sempre a emoção nos vestiários ou se baseando na adrenalina do gol no último minuto. “Muita briga, pouco jogo” – analisou Sampaoli. O técnico optou por colocar o dedo na ferida, algo tão raro nas entrevistas que mais parecem textos de assessoria. Com poucas expressões faciais e apoiando os braços tatuados sobre a mesa, se referiu ao time citando nervosismo, ansiedade, temeridade e um vestiário pressionado com a urgência de bons resultados. Desafiou o grupo a ter coragem e, caso não aconteça com algumas peças, que busquem novos ares em outros clubes. Não existe teoria para a coragem, ou você a demonstra ou está fora. Se dirigentes, treinadores e diretores estiveram contra a parede nos últimos anos, a impressão é que os novos tempos trarão exigências maiores para os atletas. Um ambiente menos infantilizado e de mais profissionalismo com a entrega de resultados, comprando a ideia de quem está no comando ou arrumando as malas e se despedindo do Atlético.

As entrevistas não acontecerão com a mesma frequência. Jorge Sampaoli conversa com a imprensa após as partidas, mas a coletiva tradicional toda tarde de sexta-feira não acontecerá com a mesma frequência dos últimos anos. Se os encontros forem tão proveitosos quanto o papo desta segunda-feira, valerá a pena. Poucas palavras, porém, produtivas, respostas diretas e análises reais, sem Alice no país das maravilhas.

Como o carequinha das bikes citou na Cidade do Galo, outros trabalhos pelo país largaram na frente e já têm cara e a base necessária para subir mais um degrau dois meses antes do início do Brasileiro. Nós estamos na estaca zero, mas o copo meio cheio mostra que acordamos a tempo de uma tragédia ainda maior para a temporada e iniciamos a reforma da casa. No sábado, Sampaoli viu a torcida impressionar o time. Agora ele quer que o time passe a impressionar a torcida. Poderia assistir a essa entrevista tantas vezes quanto assistiria ao gol de calcanhar do Igor Rabello no clássico. Mensagem tão direta quanto o chute de Otero no ângulo do rival. Se a primeira impressão é a que fica, a chave do CT é sua Sampa.

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