ANÁLISE E COBRANÇA NÃO É PEDIR DEMISSÃO

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

A rotina atleticana de demissão de treinador por atacado nos últimos anos gerou traumas e interferiu no comportamento do torcedor na arquibancada com reflexo nas redações dos veículos de comunicação. Qualquer análise dos jogos deve ser obrigatoriamente positiva de ponta a ponta, caso contrário, será recebido como perseguição, interesse na queda do profissional ou início do processo de fritura do técnico.

Se nosso clube mantém o ritual de contratar três nomes por ano, a culpa não é da arquibancada, muito menos da mídia. Nossa reação diante de resultado ruim é padrão no futebol mundial. O atleticano reclama como o corintiano, gremista, vascaíno. Para falar a verdade, acho que nossa característica extremamente passional sempre nos fez aliviar mais que a média. É como a mãe que finge que bate por ter dó do filho.

Capas e manchetes trarão trechos de entrevistas, estatísticas ou frases que resumam todo o cenário em poucas palavras. Pode se destacar que houve grande atuação e que, apesar disso, o resultado não veio ou descrever a dificuldade em evoluir, corrigir erros e fazer o time engrenar sem que esse seja um abaixo assinado para a contratação do próximo treinador.

Desde o período ‘Roger Machado’ não é correto, segundo a cartilha de blindagem, fazer qualquer análise sobre o cargo no clube. Ninguém sobrevive tempo suficiente para obter autorização de cobranças. Micale precisava de tranquilidade para o período decisivo da Copa do Brasil e Libertadores. Eliminado de ambos, foi para a rua depois meses depois. Oswaldo pegou a equipe na reta final da temporada, não havia muito o que fazer e não dava para exigir muito de quem não havia planejado aquele elenco. Após a pré-temporada de 2018, deixou o Atlético na primeira semana de fevereiro. Logo quando seria possível exigir algo após o tempo para trabalhar. Thiago Larghi sequer ocupava a função antes e estaria ali por pouco tempo. Os motivos variam, “não recebeu contratação”, “perdeu fulano”, “já chegou com rejeição”, “é preciso entender a herança assumida”.

Foram três meses com Larghi efetivado no cargo até a demissão em outubro de 2018. Levir chegou com justificativa semelhante à de Oswaldo no bolso e seguiu o mesmo destino até a demissão antes da final do campeonato estadual. Técnico interino novamente, cortina de fumaça anticrítica, efetivação no meio da temporada, queda na sequência e… Um treinador ruim assumindo bomba-relógio nos últimos jogos da temporada e que não pode ser cobrado, pois não planejou o elenco ou não teve tempo. Qual a razão de exigir algo do Mancini? Ele nem estará aqui em 2020.

Concordo que o comportamento da imprensa e da arquibancada pesaram em diversas decisões do clube, mas é a instituição quem precisa mudar o comportamento, acreditar na convicção que a levou a optar por aquele nome e então blindá-lo nos momentos de crise. Essa blindagem não deve partir da torcida, já que o “monstro”, termo usado por Alexandre Kalil, é grande demais e a mídia irá retratar aquilo que está diante dos olhos. Passar maquiagem para ficar mais bonito não é nosso papel.

Quando sentir que Dudamel está sendo fritado, peça ao Galo para abaixar o fogo. Recomende aos dirigentes que tenham paciência dessa vez. Calar o torcedor e desligar o microfone é medida paliativa. Está na hora de tratar a doença.

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