
FOTO: REPRODUÇÃO / TWITTER
Por Natália Andrade
No último domingo, dia 26, o Atlético usou as jogadoras do time profissional feminino como gandulas na partida contra o Tupynambas. A atitude gerou críticas entre as pessoas que acompanham o futebol feminino e foi defendida sob os argumentos de que os atletas da base realizam o mesmo trabalho. A coordenadora de futebol feminino do Galo, Nina de Abre, ao ser questionada, afirmou que a atitude foi “ uma oportunidade para as meninas, o Clube Atlético Mineiro está igualmente oportunizando homens e mulheres. Os atletas do sub-20 eram titulares e nessa temporada, o clube optou por dividir as vagas. (Elas) ganham por isso. ”
O primeiro ponto a se atentar é de que diferente do masculino, não foram utilizadas atletas do sub-20, mas jogadoras profissionais. Na foto, estavam presentes as goleiras Amanda e Taluane, as laterais Rayssa e Isabella e a zagueira Vitória Calhau. Todas as atletas eram titulares da equipe principal do feminino (Amanda e Taluane revezaram a função). Além delas, a volante Emilly, que acabou de ser promovida definitivamente da base, mas que já fazia partidas pela equipe principal. Amanda e Calhau inclusive são ex-atletas da seleção de base.
As atletas ganham 90 reais pela atividade. Ou seja: atletas profissionais precisam completar a renda trabalhando no período de folga, para ganhar 90 reais. Lembrando que todas elas se reapresentaram na manhã da segunda-feira para as atividades no clube.
Das atletas presentes, apenas Calhau tinha contrato vigente com o Galo. As demais tinham apenas a carteira assinada, segundo Nina. Caso o Galo Feminino jogasse, nenhuma delas estaria em condições de atuar. Os contratos estão sendo assinados essa semana.
Uma das justificativas apresentadas é de que o futebol feminino do Galo é semi-amador. Não é. Todas as atletas têm vínculo em CLT e por contrato. Todos os contratos registrados na CBF são contratos profissionais. Inclusive, o fato das atletas terem vínculo CLT torna o futebol feminino do Galo muito mais profissional do que de várias equipes. Infelizmente, isso não se refletiu no tratamento com as jogadoras. Além disso, a coordenação do Atlético foi uma das que mais pediu a profissionalização dos times para a disputa do último Campeonato Mineiro. Ora, se o Galo exige a profissionalização de outras equipes é de se esperar que seja uma equipe completamente profissionalizada.
Outra justificativa apresentada nas redes sociais é a proximidade com os jogadores e a torcida, para a divulgação da categoria. As jogadoras não foram apresentadas à torcida como jogadoras profissionais do clube. Não estavam uniformizadas como tal. Não fizeram nada que ao menos desse a entender quem são e o que fazem. A proximidade com os jogadores é ótima para os atletas da base masculina que sonham em estar ali, junto a eles ou no lugar deles. A lógica não se aplica ao feminino, ainda mais ao feminino profissional.
Para se ter ideia do que foi feito, é como se pegássemos Victor, Cleiton, Réver, Fábio Santos, Guga e Cazares e colocássemos de gandulas. Por 90 reais. E eles tivessem que treinar normalmente no dia seguinte. E fosse aceitável eles precisarem disso. Mais aceitável ainda o clube, que paga os salários, fazer esse tipo de proposta de trabalho.
A ex-jogadora do Atlético, Paçoca, reconhece a utilização das jogadoras como gandulas como uma clara desvalorização da mulher no esporte e questiona a defesa da atitude que foi feita nas redes sociais “O meu medo é ver que as pessoas não dizem “foi um vacilo” mas arrumam argumentos estranhos pra falar que está certo e tem que aproveitar. Não estou jogando pedra em ninguém por essa situação, estou pontuando em busca de uma melhoria. As pessoas enxergam tudo como briga, mas quem chama de “mimimi” é quem conhece o futebol feminino no máximo da seleção ou do colégio em que estudou. Eu que vivo o futebol feminino sofro em ver essas coisas, pra mim isso é retroceder. As mulheres da categoria precisam entender que existem outras formas de se ganhar dinheiro já que o futebol não dá retorno e elas já sofrem com isso. Não sou especialista em nada mas poderíamos usar outras armas para ajudar as atletas e a modalidade. ”
A atitude do Galo foi muito criticada pelo público ligado ao futebol feminino. Ainda assim, o clube deu a entender que as atletas continuarão sendo utilizadas como gandulas. Se a ideia é auxiliar o crescimento da modalidade, um primeiro passo seria apresentar as atletas ao público enquanto jogadoras da equipe e permitir a esse público acompanhar os jogos presencialmente. Utilizar jogadoras como gandulas não engrandece em nada o futebol feminino.