COMO PERDER A VAGA NA FASE DE GRUPOS

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Existe, no voleibol, uma síndrome conhecida como terceiro set e, mesmo que não perceba, o atleticano convive com ela há algum tempo. Basicamente, a síndrome do terceiro set acontece quando uma equipe vence os dois primeiros sets da partida, mas, com a certeza da vitória garantida, sofre uma queda de rendimento no terceiro e decisivo set, permitindo o crescimento do adversário. Trazendo para o futebol e o calendário do Atlético, podemos adaptar o cenário para duas situações distintas, a síndrome do terceiro set de um jogo para o outro e sets dentro de uma mesma partida.

O Brasileiro 2012 é um exemplo de síndrome do terceiro set a longo prazo. Após excelente campanha no primeiro turno, o título parecia questão de tempo. Mesmo com os seguidos erros de arbitragem, era nítido que o desempenho do time já não era o mesmo. Se quisermos comparar apenas de um jogo para o outro, temos a final da Conmebol de 1995. Em sete dias, perdemos a vantagem de quatro gols e deixamos a taça na Argentina após a disputa de pênaltis.

Embarcando na máquina do tempo, chegamos em 2019, Uruguai e o mesmo estádio Luis Franzini, no confronto contra o Danubio. Marcamos o primeiro e o adversário aparentava estar nocauteado, até arrancar o empate nos acréscimos. Marcamos o segundo fora de casa, excelente para o critério de desempate, e sofremos novo empate segundos depois. No Horto, abrimos três no primeiro tempo e conseguimos nos complicar, transformando a pressão arterial 12 por 8 em um princípio de enfarto. Foram dois gols na casa do adversário, três no primeiro tempo, em casa, e houve tensão até o último segundo. Exemplo perfeito do que é a síndrome do terceiro set, a perda do foco quando tudo parece fácil.

Se aprendemos algo com situações vividas recentemente, entraremos em campo contra o Defensor no jogo de volta com o clima de quem perdeu por 2 a 0 o jogo de ida. Além da vantagem obtida no primeiro encontro, a vulnerabilidade do Defensor nos deixa um gostinho de fase de grupos e essa é a fórmula para que a vaca enfie o pé no balde cheio. Adversário tão frágil quanto a Chape na Copa do Brasil, o Jorge Wilstermann na Libertadores ou o Raja em um Mundial. A salvação está no banco e não me refiro a Zé Welison, Maicon ou Guga. Está nas mãos de Levir Culpi manter o foco da equipe e a missão é mais dura do que parece. Levir terá que administrar o ímpeto de um desesperado e suicida Defensor contra um sistema defensivo que ainda não consegue blindar a meta de Victor. Do outro lado da balança, abrir mão da ofensividade do time com Cazares voando e Ricardo Oliveira em grande fase seria loucura e fugiria das características do burro com sorte.

Parece confuso para nós, corneteiros de arquibancada, mas fórmulas complicadas são resolvidas com mais facilidade sob o olhar de quem entende do assunto. Ao tirar Ricardo Oliveira, contra o Defensor, imaginei que Levir chamaria o adversário para cima, já que os zagueiros uruguaios não precisariam mais ficar presos. Os caras saíram e deixam espaço para Cazares, o elemento surpresa. Bingo! Burro com sorte, mas com tática também.

Pode ser que a extensa lista de traumas tenha causado isso, mas dois gols de vantagem na casa do adversário me deixam com a mesma tensão de um placar adverso. Se a nossa missão é empurrar o time na quarta, que sejamos os primeiros a perceber que não tem nada resolvido. Quarta é final, é decisão de Libertadores. Pra cima deles! Para fechar o terceiro set.

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