Devendo muito para pouca gente

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Desde o primeiro dia como presidente do Atlético, Sérgio Sette Câmara tem a saúde financeira do clube como principal pauta de entrevistas ou postagens na internet. O termo “austeridade” se tornou de uso frequente entre torcedores e jornalistas, ganhando certo “marketing negativo” após resultados ruins, segundo o próprio presidente.

Apesar de não ter divulgado o balanço financeiro da temporada 2019, o portal Globo Esporte teve acesso ao documento. Rodrigo Capelo, jornalista especializado em negócios do esporte, analisou o documento e publicou uma pequena parte do balanço nas redes sociais. “A coisa está feia”, “adeus, austeridade”, foram alguns dos termos utilizados pelo repórter nas postagens sobre as finanças. Em matérias que cita informações do balanço, Capelo aponta a possibilidade de o ano eleitoral ter influenciado para que o Atlético esteja gastando cada vez mais.

Nesta quinta-feira, o portal publicou uma entrevista, por chamada de vídeo, de Rodrigo Capelo e Guilherme Frossard (setorista do clube) com Sérgio Sette Câmara e Paulo Braz, Diretor de Finanças e Orçamento. Na entrevista, Sérgio revelou que pretende discutir, com o Conselho Deliberativo, a bola de neve de juros que sufoca o clube e se tornou um problema crônico há décadas. A venda dos 49,9% que possui do Diamond Mall foi citada, mais uma vez, como possível solução para encerrar as dívidas, exceto as tributárias. Dívidas do passado também são citadas constantemente pelo presidente como uma pedra no sapato na tentativa de colocar a instituição nos trilhos em busca de um futuro com menos turbulência.

Empresas de auditoria, como a Ernst & Young, Falconi e ICTS foram contratadas para que o clube possa detectar os setores e métodos que pedem mudanças imediatas. A Kroll ficará responsável por identificar procedimentos de gestões passadas que possam explicar como o Galo chegou ao atual cenário. Sette Câmara diz que a intenção é saber se foram “erros de gestão ou se teve algo mais”. Paulo Braz citou um possível erro no balanço de 2015, período em que Carlos Fabel era o responsável pelas finanças do Atlético. Segundo Braz, o clube teria tomado um empréstimo de R$11 milhões e lançado como receita, quando o correto, segundo o diretor, seria registrar a quantia como despesa.

Ao falar sobre “readequação do estatuto” e “criar regras de governança e compliance”, Sérgio reforça o discurso que ganha força no Atlético há algum tempo. A intenção é evitar que aventureiros causem estragos irreversíveis no futuro. Difícil prever quando o plano será colocado em prática, principalmente pelo relacionamento abalado entre Sette Câmara e Castellar Guimarães Filho, presidente do Conselho Deliberativo. Castellar, que já havia revelado o desejo de concorrer às eleições para presidência do clube, em 2020, demonstrou descontentamento com o vazamento do balanço e a falta de informações ao conselho, mesmo diante de inúmeras tentativas de contato, segundo o portal O Tempo.

Se a relação com Castellar pede atenção, a proximidade com a família Menin vai muito bem. Rafael Menin, vice-presidente do Conselho Deliberativo tem ótimo relacionamento com Sérgio e o lançamento, no balanço, da doação de R$ 49 milhões, feita por Rubens, pai de Rafael, garantiu que o Atlético se encaixasse nas regras do Profut. O clube quer centralizar as dívidas. Dever muito para pouca gente e, o principal, dever para pessoas que não vão bater na porta para cobrar. Ricardo Guimarães e Rubens Menin, apesar de estarem entre os credores do clube, ainda são vistos como mecenas, não só pela torcida. Questionado por Capelo se o percentual do salário de Sampaoli, pago pelos empresários, seria doação, patrocínio ou empréstimo, Sérgio garantiu que se trata de uma doação dos atleticanos.

Caso Sette Câmara não vença as eleições no final de 2020, a ala Kalil também se entende bem com Rubens, a quem o prefeito de Belo Horizonte chama de “Rubão”. Já com Ricardo Guimarães, desentendimentos podem interferir nessa confiança de que o credor terá paciência. Até que os votos da urna sejam contados, os Guimarães e Menin seguem como investidores em um roteiro de final imprevisível.

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