DISCURSO PADRÃO APÓS VEXAME É REPETIDO NA CIDADE DO GALO

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

A enciclopédia da Conmebol listando quatrocentas e treze mil regras para competições continentais dizia que dirigentes não poderiam falar com a imprensa na coletiva do treinador ou na zona mista onde os jogadores concediam entrevistas. O jeito foi esperar até o dia seguinte para ouvir o que Rui Costa tinha para dizer na Cidade do Galo. E ele não disse nada.

Era mais prático soltar uma nota por escrito, alguém montava o texto, o diretor de futebol assinava, todos os veículos teriam acesso, replicavam e a imprensa garantia conteúdo para debater até a partida do final de semana. O mesmo discurso das últimas tragédias do clube, e como elas tem ocorrido com frequência, já decoramos todo o roteiro. O elenco está chateado, o clima no vestiário era de partir o coração, deu para ver que esse grupo está querendo, podem esperar uma nova atitude daqui em diante e essa ladainha toda. Dava para fazer um bingo e riscar na cartela sempre que um clichê era dito.

Meu sentimento de angústia foi aumentando a cada minuto. Insinuações de que o futebol teria sido injusto com a equipe que mais treinou e mais mereceu, entre outras respostas deprimentes. Sou atleticano e afirmo com todas as letras de que o Colón mereceu a vaga de forma direta, sem pênaltis. A enciclopédia da Conmebol deveria acrescentar um parágrafo em 2020 dizendo que o time que demonstrar a covardia apresentada pelo Galo na Argentina será expulso da competição. Nós fomos eliminados por um Goiás dos hermanos, Rui. Talvez você não saiba ainda, pois chegou ontem, mas isso tem sido corriqueiro por essas bandas.

O auge foi usar o termo “tudo que esse elenco já fez”. A perspicácia de um dos setoristas falou mais alto e houve o questionamento de que feitos seriam esses, já que perdemos o estadual, a Sul-Americana, fomos eliminados na fase de grupos da Libertadores, pelo rival na Copa do Brasil e brigamos no meio da tabela no Brasileiro. Então Rui conseguiu piorar o discurso ao afirmar que não se tratava apenas dessa temporada, mas dos últimos anos. O certo seria alguém interrompê-lo nesse momento para não agravar a situação. Dirigentes, treinadores e jogadores não percebem que vivem em um mundo paralelo, muito distante da vida real.

Queria eu ter palavras bonitas para montar um grande discurso nesse momento e levantar o astral do torcedor, mas meu sentimento puro e honesto é de descrença total em todo o nosso cenário atual. Entrevistas como a de Rui Costa ou a de Santana após derrotas em sequência têm efeito contrário, desmotivam ainda mais o atleticano. Nos deixa a dúvida se os responsáveis detectam os erros e tentam consertá-los ou se realmente acreditam nas palavras ditas através dos microfones. Nem o pênalti perdido por Cazares fez meu sangue ferver tanto.

Não esperava anúncio de outro treinador e acho que a tragédia tem que ser maior para que tenhamos mudança no comando da equipe. Rui e Sette gostam do perfil de Rodrigo Santana, ainda inseguro pela primeira oportunidade em clube de série A. Nomes como o de Cuca, tantas vezes sondado desde que deixou o Atlético, não agradariam aos chefes nas janelas de transferências. É impossível frear todos os “excelentes negócios” oferecidos por empresários parceiros, mas a lista seria menor. Me refiro à excelente lista de apresentações: Arouca, Samuel Xavier, Tomás Andrade, Juninho, Terans, Denílson, Zé Welison, Edinho, Leandrinho Nathan, Rea, Vina, Maicon Lesma, Papagaio e Hernández.

Três diretores de futebol trabalharam com o presidente Sérgio Sette Câmara e nenhum deles foi questionado pelo excesso de bugigangas apresentadas como reforços na Cidade do Galo. Tem de tudo na lista, brasileiros abandonados na Europa, por empréstimo ou contratados, gringos que não vingaram em outros países, peças que não eram importantes nos times de menor expressão em que atuavam, teste com atacante da base de outros clubes, remessas de contratos de cinco anos, grana alta em gringos que pouco produzem. Em dez anos, triplicamos nosso orçamento, ficamos entre os primeiros de Pay-per-view, nossa camisa passou a valer mais, fizemos boas vendas de atletas, chegamos entre os primeiros nas competições que disputamos. Agora fica a sensação de iniciamos um processo de atrofia e temo pelo tamanho da queda nessa montanha-russa. Exagero nas palavras? Aprendi com o Rui.

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