É POSSÍVEL ENCONTRAR DIAMANTE POR AQUI

Compartilhe

FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Tenho a impressão de que a comunicação entre as pessoas nunca foi tão difícil como agora, a era da comunicação. Política, religião, biscoito ou bolacha, tudo termina em confusão e ofensas. No futebol, esse é um período extremamente delicado para discutirmos qualquer assunto em público. Elogiar qualquer time ou jogador é estar empolgado mais do que deveria sem levar em consideração a disputa do estadual e o baixo nível técnico das equipes adversárias. Também não ouse criticar, exigir desempenho melhor ou dar pitaco sobre escalações, pois tudo se resume a “cedo demais, mister precoce”. Ao ouvir qualquer assunto relacionado a esse esporte até março, beba um gole da sua cerveja e não diga nada para sua própria segurança.

Como eu não me importo com as pedras, convido os leitores a conversarmos sobre a titularidade do Marquinhos. Discutirmos o aproveitamento do garoto não é pedir a cabeça do treinador recém-contratado ou desvalorizar as peças que chegaram para o setor, como Hyoran e Borrero. Dia desses, falei nesse mesmo espaço que sou a favor de todo tipo de teste feito pelo Dudamel até que tenhamos a certeza de quem pode contribuir efetivamente para o elenco. Na ordem cronológica do aproveitamento de Marquinhos, Dudamel tinha como foco a Seleção Vinotinto e sequer estava em Minas quando o baixinho habilidoso voltou do empréstimo para a Chapecoense.

Tirei o chapéu quando o parrudinho topou deixar a séria A do Brasileiro e voltou para a base querendo mostrar em campo que poderia ser útil no profissional. O caminho é árduo e o travesseiro pode ser herói ou vilão entre a motivação e o lamento por ver Terans, Bolt e Geuvânio queimando tantos cartuchos, enquanto você sonha em ganhar uma única bala de prata na guerra. Ela veio, aos trancos e barrancos, dias antes da demissão do treinador, mas não dava para escolher a hora. Marquinhos confirmou que, apesar de ainda estar no processo de maturação, tinha bola para vestir o manto alvinegro entre os titulares do time principal.

Cresci ouvindo meu pai dizer que é bom ter jogador sem juízo em campo. O Fernandão se referia à boleirada que pega a bola e vai para cima, característica cada vez mais rara na atualidade. Aquele cara que chega no treino e toma uma bica do veterano para ficar “na humildade”. Cebolinha, do Grêmio, chamou a atenção do país ao repetir esse arranque com drible na Seleção. Segura a pedra aí, irmão. Não quero comparar nosso José Marcos Costa Martins com o Cebolinha (quem sabe no futuro). Só que um pouco de ousadia não faz mal a ninguém e enche os olhos, principalmente quando se vê que é possível potencializar o talento e corrigir falhas, como a percepção de tempo correto para o passe e a gloriosa cabeça erguida na conclusão do lance. Gosto de ver zagueiro e lateral dando passinho desesperado para trás sem saber onde será o corte seco.

O parrudinho já mostrou que pode contribuir, não só pelo gol no final de semana, enquanto torcedores comentavam na arquibancada que o atleta estaria gordinho. Eu também já cometi esse erro, em escala maior, no microfone de uma emissora de TV, quando José Marcos ainda estava na base. Quem diria que o mês de férias na academia literalmente encheria os olhos dos cornetas. Reclamaram por Marquinhos estar forte, pedimos uma academia extra para o Borrero. Nada nos agrada.

Voltando à relação Dudamel e Marquinhos, confesso estar levando o assunto para minha terapia e o Doutor Gilberto, meu psicólogo, pediu a mesma paciência com o Edinho. Retruquei explicando que o nome dá gatilho me fazendo associar o jogador aos pacotes de contratações ruins de outros períodos. Acho que estamos evoluindo na terapia, enxerguei o copo meio cheio ao ver o Edinho entre os titulares. Se não rendesse entre os reservas, essa seria a muleta para o restante do semestre. Já Marquinhos, quando jogou do lado esquerdo, território tão visitado em 2019, rendeu mais e mostrou para o professor venezuelano que o José Marcos está forte e não será fácil derrubá-lo nem na escalação.

Mesmo com a chegada de reforços, levanto a bandeira com antecedência pedindo as mesmas oportunidades para a joia da base que pode ser lapidada e agregar muito. Assim como garimpamos Emerson, Bremer, Guga, Mailton, Borrero, entre outros no mercado, devemos nos lembrar que nosso quintal também pode render diamantes. O nome dele é José Marcos, Marquinhos para os adversários, Zezé para os amigos. Fala, Zezé. Bom dia, cara.

Compartilhe