Texto: Duda Abranches – @dudaabranchess
Sábado pela manhã, a ficha ainda não tinha caído: eu ia trabalhar em mais uma final, e dessa vez, a
final da Copa Libertadores da América. Para quem vive o futebol, especialmente para nós,
jornalistas, essa é uma das maiores realizações profissionais. No entanto, ao longo do dia, a
realidade foi se impondo. Estávamos prestes a presenciar o Atlético, o Galo, em mais um capítulo
grandioso de sua história.
Essa caminhada não começou agora. Ao longo de toda a temporada, acompanhamos de perto a
evolução desse time. Vimos o início do trabalho de Gabriel Milito, um treinador que, com sua calma e
intensidade, deu alma a esse elenco. Ainda na terceira rodada do Campeonato Mineiro, o Galo
tropeçou diante do rival Cruzeiro, perdendo em casa por 2 a 0. Mas foi no mesmo estadual que
começou a construção dessa história, com a vitória incontestável na final: 3 a 1, um placar que serviu
como um aviso. A partir dali, o Atlético ganhou corpo, confiança e, sobretudo, uma mentalidade
vencedora.
Depois, veio a Copa do Brasil. Cada fase foi um degrau de superação. O Sport foi o primeiro
obstáculo, seguido pelo CRB. Contra o São Paulo, o Galo mostrou maturidade, e nas semifinais
contra o Vasco, viu-se a força desse elenco. A final contra o Flamengo, sempre um rival duro, foi um
capítulo à parte: um jogo difícil, tenso, daqueles que o torcedor só compreende com o tempo. E ainda
assim, o Atlético prevaleceu.
Na Libertadores, o roteiro foi igualmente épico. Caracas, Rosário Central, Peñarol, San Lorenzo.
Cada adversário, cada estádio, cada noite de Libertadores fortaleceu o espírito desse time. Mas foi
no jogo contra o Fluminense que os olhos do continente se voltaram de vez para o Galo. E depois,
claro, o River Plate. Aquele 3 a 0 no na Arena MRV ficará eternizado na memória do torcedor
atleticano, não apenas pelo placar, mas pelo simbolismo: foi ali que o Atlético mostrou ao mundo que
estava pronto para sonhar com o título.
Mas o futebol, como sempre, nos ensina sobre a incerteza e o imponderável. No Monumental de
Núñez, diante de um adversário igualmente grandioso, o Galo lutou. Lutou como sempre. Mas, dessa
vez, o resultado não veio. Não foi por falta de esforço, não foi por falta de coração. É que o futebol,
às vezes, nos dá lições duras, nos fazendo lembrar que o jogo nem sempre premia quem mais sonha
ou quem mais acredita.
Esse time cresceu. Esse time ganhou casca. Enfrentou provações, suportou pressões e transformou
sofrimento em aprendizado. Gabriel Milito trouxe mais do que táticas: trouxe a “passion y la
mentalidad”, que são o alicerce de grandes equipes. E, ao lado dele, os jogadores, que suaram a
camisa e foram além dos próprios limites. E a torcida, como sempre, esteve presente: vibrando,
apoiando, chorando. Não há derrota que apague isso.
Estudando para o jogo, li uma crônica do Fred Melo Paiva que resume bem o sentimento. Ele
escreveu: “Hoje, quando o Galo entrar em campo no Monumental de Núñez, oito milhões estarão
perfilados junto com o time naquela hora em que cantamos o nosso hino no lugar do Hino Nacional,
porque a nossa pátria é o Atlético”
E mesmo após o apito final, esses oito milhões continuam perfilados. Continuam nas ruas, em Belo
Horizonte, em Minas Gerais, no Brasil. Porque o Atlético não é apenas sobre vitórias e troféus. É
sobre resistência, é sobre acreditar, é sobre transformar dor em esperança. É sobre olhar para uma
derrota e entender que ela não define a história, apenas prepara o terreno para a próxima glória.
O Monumental de Núñez não viu Reinaldo erguer a taça, mas viu algo tão grande quanto: um clube
que luta, que se entrega, que representa milhões. Porque o Galo não é apenas um clube. É a certeza
de que, por mais difícil que seja o caminho, a jornada sempre vale a pena. E, mesmo na derrota, o
grito do Aqui é Galo permanece na garganta do torcedor.