FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO
No último Alterosa Esporte do ano, a bancada do Alterosa Esporte recebeu Lásaro Cândido, vice-presidente do Atlético. O dirigente falou sobre a rescisão com Fred e como foi definido o valor da multa a ser paga, caso o atacante fosse contratado pelo Cruzeiro.
Fael: Explica pra gente porque é que existe esse caso Fred, como surgiram esses dez milhões, se é real a história de que o clube deveria receber cem milhões e abriu mão de 90%. Se existia a proposta do Flamengo, se já existia a proposta do mundo árabe, que veio depois, uma “proposta fantasma”.
Lásaro: No caso do Fred, eu vou contar pra vocês e é muito importante o que eu vou falar aqui. Estava em uma sala da presidência e houve o interesse. O Fred, obviamente, viu que estava perdendo um pouco de espaço, mas o clube também não ia desfazer de um capital que ele tem, que ele pagou caro e ainda tinha mais um ano de contrato, ia ficar com ele.
Abaixo, o diálogo que, segundo Lásaro, aconteceu antes da rescisão do atleta com o Atlético.
Fred: Estou vendo, tenho uma proposta do Flamengo e tal, o Flamengo inclusive pode fazer uma contrapartida para vocês.
Lásaro: Chamamos o Flamengo, o Flamengo ofereceu um valor em termos de colocação de jogadores etc. Estava tudo certo, o contrato ia ser redigido, de repente aparece o agente (Francis Melo) do jogador e mudou.
Francis: Nós não vamos mais para o Rio não. – Teria dito o agente.
Lásaro: Como?
Sérgio Sette Câmara: Eu não aceito.
Lásaro: Nós temos uma alternativa, se você ficar aqui na praça, no mesmo mercado, porque isso é uma não concorrência, isso é um direito de qualquer empresa, você concorda que se você for para o Cruzeiro, você paga uma multa?
Fred: Perfeitamente.
Representantes do clube: Então vamos ficar essa multa para não ficar exagerado. Qual que é a multa hoje se você for sair, tentar sair de qualquer forma? Cem milhões. Vamos fixar em dez? Está de acordo?
Representantes do atleta: De acordo.
Representantes do clube: Então está acertado. Vamos eleger uma Câmara Arbitral para não deixar isso para o poder judiciário? Vamos eleger?
Representantes do atleta: Vamos.
Chamamos os advogados, os advogados do Fred, o agente do Fred, redigimos o contrato.
Representantes do clube: Está tudo certo?
Representantes do atleta: Tudo certo!
Representantes do clube: Vamos assinar?
Representantes do atleta: Vamos. Nós vamos para o Catar.
Representantes do clube: Ah, que bom. Você pode ir para o lugar que você quiser. Só que se for para aqui, vai ter que..
No dia seguinte, assinamos e ele foi para o Cruzeiro.
Aí ele me aparece com uma proposta do Cruzeiro de três anos de contrato, ganhando inclusive um pouquinho mais do que ganhava no Atlético, segundo ele afirmou. Então nós fizemos assim, se você for para lá, nós vamos notificar. Perfeito? Notificamos ele, ele juntou um documento em que o Cruzeiro falou – “Ah, que isso… Essa multa? Eu assino, assumo a responsabilidade, não tem problema nenhum”.
Ô Fred, isso não me interessa, isso é um problema seu com o Cruzeiro, nós vamos te executar, porque você que fez o compromisso.
“Não, mas o Cruzeiro vai me ressarcir – teria respondido o jogador.
Vibrantinho: Essa questão hoje é Atlético com o Fred?
Lásaro: Com o Fred. Aí o Cruzeiro quis entrar no processo, ele quis entrar no processo e a Câmara Arbitral negou o ingresso dele como réu, porque não é réu, aí ele entrou como assistente. Quando o caso foi julgado, eu vi notícias, que deu entrevista… Gente, é um caso complexo, mas ele é de simples compreensão. Qual que é a tese do jogador? O jogador está se defendendo? Lógico, ele tem que se defender, pois ele fez um compromisso lá e eu não sei, ele nos apresentou um documento em cartório que o Cruzeiro, inclusive, franquiou as contas correntes, assinaram nota promissória, está tudo lá.
Agora, quando o caso vai ser julgado, seja pela corte arbitral, seja pelo poder judiciário, ela considera todos os fatos, gente. Todos os fatos. É uma multa abusa, arbitrária?
Vibrantinho: Pode ser que sim.
Lásaro: Não, não é. Por que no caso do Fred é um valor que seria dez por cento do valor de cem milhões. Se ele ganhasse um salário mínimo ou se a gente fixasse, por exemplo, cem milhões, a gente estaria impedindo ele de trabalhar. Tanto não impedimos, que o clube que o contratou disse “essa multa não vale nada não, essa multa é muito pequena, isso pra nós tá ótimo, isso nós vamos pagar”.
E a eleição de uma Câmara Arbitral? Pessoal, hoje a lei permite. Se você quiser contratar, ao invés de poder judiciário, para árbitros privados, tem aqui em Belo Horizonte várias Câmaras. Agora, tem uma do futebol, foi criada em 2016, que os clubes têm escolhido ela, inclusive. Outro dia, por exemplo, o Cruzeiro fez uma transação envolvendo o jogador Mancuello, salvo engano, e a eleição da Câmara foi a Câmara Arbitral. O que é que o Flamengo fez? Depois da gente, evidentemente, nós temos feito escola nisso, ele foi lá, executou o Cruzeiro e o Cruzeiro fez um acordo. Definido aonde? Na Câmara Arbitral.
Não tem nenhum problema, gente. É direito de discutir, desde que o nível precisa subir, precisa subir o nível.
Leopoldo: Você fala do nível com relação à declaração do vice (presidente) de futebol do Cruzeiro que o Atlético parece ter alguma influência nessa Câmara?
Lásaro: Eu não entro nesse debate, porque cada pessoa responde pelos seus atos, mas eu penso assim, mesmo porque a mim, não foi dirigido nada. Em relação às pessoas das quais ele, eventualmente, se a alguma pessoa dirigir, ele tem que responder por elas.
Agora, quem lê a causa, e o advogado do Fred deu uma entrevista, doutor Fernando, que também é um excelente advogado, ele entendeu – “Olha, realmente é uma causa de alta complexidade pelas questões que envolve”.
Mas se você limpar bem… Vocês sabem que nós, nós do jurídico, a gente adora complicar. A questão é muito simples, não tem essa fantasia toda que está criando precedentes no futebol. Não, é um sujeito que ganha um milhão por mês.
Leopoldo: Não está proibindo ele de atuar, de trabalhar.
Lásaro: De jeito nenhum. Se o Siqueira, se a Tv Alterosa colocasse para o Siqueira “se você sair daqui e for para a TV Globo, você tem que pagar dez milhões”. É evidente que é uma cláusula abusiva.
Leopoldo: Se eu assinar, tenho que pagar.
Lásaro: Mas é uma cláusula abusiva. Aí dá até para discutir a cláusula, mas no caso dele…
Vibrantinho: O ano de 2009 já está começando, isso vai ser uma constante na mentalidade jurídica? Inclusive o doutor Sérgio Sette Câmara é um grande jurista, assim como o senhor, então vocês vão pensar que todo profissional que, supostamente, possa ir para a mesma praça, vocês vão começar a fazer isso?
Lásaro: Não. É um caso singular, um caso absolutamente singular. Se um jogador que nós dispensamos, vamos dispensar ou dispensamos a pouco, ele pode ir para onde ele quiser. Agora, se você tem um capital que você investe, se o Luan chegar e falar “olha, eu tô querendo sair, não dá para me liberar não?”. Lógico que não. Como? Tem mais três anos de contrato, moço. Não é assim não. Se ele fizer, nós vamos tomar as medidas, por que nós estamos defendendo o clube. Essa é a nossa obrigação.