EU SOU ESPIÃO, DUDAMEL

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

As coletivas de Dudamel após as partidas têm contribuído para variadas manchetes da mídia esportiva. O técnico já reclamou da postura extremamente defensiva dos times do interior, condenou torcedores que vaiaram Zé Welison como se o volante tivesse matado ou roubado alguém, segundo palavras do próprio treinador e, após a eliminação para o Unión, Dudamel pediu uma imprensa mais “parceira”.

O termo pode soar estranho por vir do comandante da equipe, mas essa é uma ideia que vem sendo trabalhada de forma subliminar há algum tempo, principalmente por parte dos torcedores de todo o país através do fácil contato com os profissionais na internet. Boicotes a jornalistas que publicam matérias investigativas por trabalharem contra a “minha instituição”, campanha para monitorar o comportamento do repórter que faz questionamentos nas coletivas ou a tática da camaradagem através das redes sociais mostrando à imprensa que ser “parça” do clube que eu amo é um incentivo a ler matérias com mais frequência.

Duda, os veículos de comunicação também foram prejudicados durante meses de treinos fechados. Não há imagens dos atletas e pouco pode ser repassado para o torcedor, já que não há muito o que falar sobre os quinze minutos de aquecimento. É que são dois CNPJ’s diferentes, o da empresa que eu trabalho e o do Clube Atlético Mineiro. Existe o interesse da mídia em ouvir mais atletas nas coletivas, conseguir mais entrevistas exclusivas e, do outro lado, o trabalho da assessoria em frear a exposição em excesso para que não gere desgastes e deslizes, seja da comissão técnica, jogadores ou dirigentes.

O vazamento da escalação com antecedência antes de uma partida decisiva pela Copa Sul-Americana deve ser conversado e investigado internamente pelo clube. Dudamel tem razão quando se mostra frustrado por perder a arma secreta, mas erra o alvo quando busca a solução para o problema. É como culpar a torcida ou a imprensa pela troca excessiva de treinadores nos últimos anos. Ambos têm comportamento padrão em todos os estados do Brasil, então cabe ao clube agir diferente, blindar o profissional, ter convicção do que quer e seguir com o trabalho. Torcedor e mídia que se adaptem diante da decisão da instituição.

Certa vez, estava ao lado do repórter Leo Gomide quando o diretor de futebol Eduard Maluf se aproximou. Com a voz rouca, disse a Gomide que um dia descobriria quem era a grande fonte dele. Maluf poderia reclamar do excesso de competência do jornalista, mas não havia como citar qualquer falsa especulação apenas para ganhar audiência. O jogador apresentado naquela ocasião apareceu primeiro nas famosas tuítadas do Leo.  Reza a lenda, que o ex-presidente Alexandre Kalil fora consultado pelo dono de uma empresa que queria contratar um setorista para cobrir o dia a dia do Atlético. Alexandre teria indicado Leo Gomide, mesmo com as trocas de farpas e dores de cabeça com as perguntas indigestas do jornalista durante a gestão de Kalil. Ele nunca foi parceiro, porém nunca foi desonesto, atitude que garantiu o respeito do turco.

Nem mesmo na mídia partidária, como o meu caso, representando o clube e a torcida na TV, rádio e internet, deve se omitir informação do público com a intenção de camaradagem com a instituição, principalmente visando troca de favores no futuro. Caso eu tenha acesso às escalações com antecedência, negociações com atletas ou importantes decisões do Atlético, o torcedor saberá através do Alterosa Esporte e do Deus Me Dibre.

Já que os dirigentes alvinegros citam o outro lado da lagoa quando falam sobre excessos de gastos, aproveito para usar o lado azul ao exemplificar os riscos de criar MITOS nos microfones. Eu sou atleticano, Dudamel. E estou doido para vazar sua escalação na final da Copa do Brasil 2020, mas sem parceria.

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