2020 JÁ COMEÇOU NOS BASTIDORES DO ATLÉTICO

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FOTOS: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

“É da panela, claro”. Assim respondeu Alexandre Kalil, em março de 2014, ao ser questionado sobre quem o sucederia no cargo de presidente do Atlético. Na mesma entrevista concedida ao programa Camarote PFC, Kalil afirmou que chegou a ser procurado por algumas pessoas que sugeriram mudar o estatuto do clube para estender o período como presidente. A ideia teria sido recusada, mas era preciso começar a pensar no nome que representaria a panela na continuidade do trabalho iniciado no final de 2008. Meses antes, Rodolfo Gropen fora intimado pelo mandatário máximo do clube a se candidatar na eleição que aconteceria no fim de 2014. Gropen era o homem de confiança, presente desde os primeiros dias da gestão em negociações de dívidas quase impossíveis e colocando em prática o prometido planejamento que ajudaria a colocar o Galo nos trilhos.

Com a recusa de Gropen, coube ao vice-presidente Daniel, filho de José Nepomuceno, a missão de continuar o trabalho feito pela panela nos seis primeiros anos, desde a saída de Ziza Valadares. Em diversas entrevistas desde então, Kalil foi questionado sobre a possibilidade de voltar ao posto de presidente do alvinegro, mas o prefeito de Belo Horizonte sempre foi enfático ao dizer que o período no futebol havia terminado. Segundo Alexandre, a nova rotina não envolvia o Atlético e que apenas acompanhava de longe, sem dar pitacos nas gestões de Daniel Nepomuceno e Sérgio Sette Câmara.

Pessoas ligadas ao clube garantem que, na prática, a realidade foi outra. Kalil teria participado ativamente, sendo consultado sempre nas principais decisões durantes os anos em que Daniel Nepomuceno esteve na função e nos primeiros meses de Sérgio Sette Câmara. Em negociações de atletas, contratações e demissões de treinadores, a voz do ex-presidente teve peso grande em cada passo dado pelo clube nos últimos anos. Nem todas as decisões renderam bons frutos para a instituição e a relação foi se desgastando com o tempo, já que a pressão da arquibancada e imprensa caíam sobre Daniel e Sette Câmara. A panela já não era a mesma dos primeiros anos da década.

Incomodado por indiretas de Sette em entrevistas, Daniel Nepomuceno seguiu a vida política no Ministério do Turismo do governo Bolsonaro, Adriana Branco deixou o clube para reforçar a equipe de Alexandre na Prefeitura de Belo Horizonte e Carlos Fabel se despediu após dez anos na instituição. Rodolfo Gropen se tornou presidente do Conselho Deliberativo, mas não tentará a reeleição e fecha seu ciclo de grande colaboração com o Galo. Os nomes fortes de Kalil se despedem um a um, dias antes de Castellar Filho assumir como novo presidente do Conselho com Rafael Menin como vice. Após longo debate interno, a escolha do nome de Castellar veio como bandeira branca na guerra fria dos bastidores. Castellar foi anunciado pelo prefeito da capital mineira como novo Procurador-Geral, mas também é próximo de Sette, já Rafael Menin, mandatário da MRV Engenharia, é peça chave do atual presidente, não só na continuidade da construção da nova Arena. Antes cotado como vice da chapa, Luiz César Villamarim, assessor da presidência na era Kalil, é mais um que seguirá fora do cenário. O jogo de xadrez conta ainda com outros nomes fortes, que não ocupam grandes cargos atualmente, mas que seguem como conselheiros do clube.

Apesar dos péssimos resultados em campo nos dois primeiros anos da gestão, Sette e Lásaro acreditam que será possível deixar o cinto menos apertado no segundo triênio, como aconteceu na reeleição de Kalil. Novas mudanças acontecerão nos próximos meses, deixando claro que é a dupla quem dita as regras na Sede de Lourdes.  A temporada 2020 promete episódios interessantes nos bastidores do Atlético. Diversos fatores podem alterar os caminhos da política do clube até a eleição de um novo presidente ou a reeleição de Sérgio Sette Câmara. A grande dúvida é se ânimos ainda estarão exaltados quando as urnas se abrirem ou se teremos um acordo de cavalheiros para que a panela continue, mesmo com remendos, como aconteceu na chapa do Conselho Deliberativo. Aliás, a lista de conselheiros “eleitos” em 2019 já não teve a mesma revisão dos últimos anos. Alexandre terá outras dores de cabeça, apesar da continuidade na prefeitura pareceR garantida, a última etapa antes de um passo maior visando o governo estadual.

Há anos o Atlético não sabe o significado da palavra oposição. Teria chegado a hora?

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