A BRIGA NÃO É MARCOS ROCHA VS ALEXANDRE GALLO

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Sempre que aquele bonde do Ronaldinho entrava em campo, eu me beliscava. Por diversas vezes, temi que fosse apenas um sonho pronto para ser interrompido pelo despertador a qualquer momento. Em maio de 2019, torço para que o despertador toque e interrompa esse pesadelo interminável. Não bastassem os resultados ruins em todas as competições que disputa, o combustível que alimenta as chamas nos bastidores do Galo parece não ter fim.

Após a derrota para o Palmeiras, Marcos Rocha associou a má fase ao trabalho de Alexandre Gallo, ex-diretor do Atlético. Alexandre não deixou por menos e disse que as palavras seriam fruto da mágoa por ver que o alvinegro seguiu a vida sem ele. O que podemos observar nas entrelinhas dessa briga?

Rocha nunca se preocupou em ser político nos microfones, seja com companheiros de time, torcida, dirigentes e rivais. Em novembro de 2017, o lateral sabia que não ficaria no clube para a temporada seguinte, um mês antes do anúncio oficial de empréstimo, um ano antes do término de contrato e dias antes da eleição do novo presidente. Rumores dos planos de Gallo estariam correndo no vestiário e alguns atletas, como Robinho, sabiam que dificilmente seguiriam em Belo Horizonte. Adilson também já estaria pronto para o comunicado de que não estava nos planos, não fez pré-temporada e foi para a Florida Cup, enquanto Arouca se apresentava. O bom desempenho do volante no início de 2018, as atuações ruins do time e a demissão de Oswaldo mudaram os planos.

Por mais que o atleticano esteja chateado com a transferência de Marcos Rocha para o Palmeiras, ouvir as palavras do ÍDOLO sobre o final de 2017 nos ajuda a entender o péssimo 2019.

– Primeiro, tem que respeitar os colegas de profissão, mas mudou bastante as características. O Atlético trouxe Alexandre Gallo em 2017 e deu liberdade a ele, deixou ele fazer uma revolução. Agora colhe os frutos disso aí – comentou, em entrevista à Rádio 98, de Belo Horizonte, sem entrar em detalhes.

“O Atlético trouxe Alexandre Gallo…” – Quem trouxe? O recado, segundo o meu entendimento, não seria para o ex-diretor, o atleta foi inteligente na maneira como transmitiu a mensagem. Quem deu liberdade a ele (Gallo) e deixou ele fazer revolução? Entrevista parecida com a do atacante Fred após a final do Mineiro, associando o momento atual ao início da gestão, onde a turbulência começou. Atletas se falam o tempo todo longe dos microfones, não é coincidência os discursos tão parecidos.

Associamos os momentos ruins a dezenas de jogadores, diversos treinadores e diretores, culpamos a arbitragem, a CBF, a FMF e os deuses do futebol. Colocar os pés no chão e eliminar parte das teorias da conspiração, como “corpo mole e badala excessiva”, nos trará a compreensão de que precisamos urgente da citada revolução na entrevista. Ou revolucionamos e mudamos muita coisa na instituição ou o despertador não tocará para interromper o pesadelo.

Como o nome citado foi o de Alexandre Gallo, o ex-diretor foi procurado pelo portal Globo Esporte e se pronunciou.

 Lamento bastante o que aconteceu, essa questão sem nexo, essa colocação desse atleta. Até porque não trabalhei com ele. Quando cheguei, não estava mais. Só tratei com o seu representante. E não entendi essa colocação infeliz que, inclusive, desrespeita os atletas que estão hoje no Atlético. Talvez seja por dois aspectos. Primeiro, porque não queria renovar com o Atlético. Seu representante foi enfático, que ele já se sentia desgastado e não queria mais jogar no clube. Insistimos e não aconteceu a renovação. E nós tínhamos que externar essa situação, até porque a torcida tinha que saber. O outro (motivo) talvez tenha sido por nós termos acertado muito na vinda do Emerson, um lateral que faz as duas funções verdadeiras que um lateral tem que fazer, que é atacar e defender. Até porque , no último ano (do Marcos Rocha no Galo), 68% dos gols que o Atlético tomou foi ali nas costas dele, do lado esquerdo.

Emerson, citado por Gallo, só chegaria em abril. Rocha, a princípio, foi substituído por Samuel Xavier, fato apagado da memória do ex-diretor. Alexandre ousou comparar o desempenho de Marcos e Emerson, o que seria de uma injustiça enorme com o garoto vendido para a Europa, ainda no início de carreira. Marcos Rocha colecionou taças em Minas e ganhou todos os prêmios possíveis, em Minas e no Brasil, o que o levou a vestir a amarelinha. Sempre entre os líderes de assistências nas temporadas, é disparado o jogador que mais deu assistências no Independência. Se não fosse gigante, o camisa 2 não teria despertado o interesse do Palmeiras pela continuidade, mesmo após meses de lesão. O comportamento de Alexandre lembra o comportamento de quem ficou, a culpa nunca é minha, sempre dos outros.

Relaxa, Gallo. O recado não foi para avaliar o seu desempenho. Quem foi que te deu essa liberdade para contratar dezoito jogadores? Quem é que não conseguiu estabilizar o avião após dezessete meses de turbulência? Seguimos com uma preocupante atrofia institucional às cegas, sem luz no fim do túnel. Quem é o responsável por tudo isso? O Rocha sabe, outros jogadores sabem, a torcida sabe, só ele não sabe ainda.

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