O ATLÉTICO E OS FDP’S

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FOTO: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

 

Dia desses, um amigo do interior me mandou mensagem pedindo informações de como comprar ingresso para ele, o filho e a esposa. Providenciei tudo, acompanhei até na compra do tropeiro e tentei destacar todos detalhes positivos para que o moleque ficasse empolgado. Diante do momento do clube, quis me precaver e puxei o assunto para outras temporadas, encerrando sempre que não cabia ficar cabisbaixo, mesmo se o resultado não fosse dos melhores naquela tarde. Realmente não foi. Hoje, o pai voltou a me procurar, o moleque FDP (P de Patrícia, a mãe) quer uma camisa do GabiGol, do Flamengo.  Tive taquicardia, procurei ter uma atitude de adulto responsável e aconselhei ao Fabrício (pai) que faça ameaças de abandoná-lo em outra cidade se o filho da Patrícia repetisse o pedido. Tenho a sensação de que perdemos o menino.

Sabe o que é pior? Esses números não aparecem nas planilhas de finanças da instituição. O Gustavo FDP só falava no Galo, fazia o pai consumir tudo do clube e agora, como muitas crianças, foram hipnotizadas por quem está em destaque. São milhares de Filhos Da Patrícia a menos todos os anos, no interior e na capital, mas quem passa da porta da Sede de Lourdes e bate o ponto, ignora e desconversa sobre a situação. Muitos leitores também dirão que era missão do pai, que fica por aqui quem quer… E assim vamos sobrevivendo com muitos arranhões.

Para não falar apenas da influência dos que calçam chuteiras, cito também ações criativas que levariam nossa marca aos quatro cantos do mundo. Quando chegar o dia das mulheres, flores na portaria, no dia das mães, nome na camisa, no máximo, a batida ideia do terceiro uniforme ser todo preto, afinal de contas, a Massa adora e se contenta com isso. O canal de Youtube do Santos, a camisa do rival sobre a violência contra a mulher, o engajamento do Bahia em causas importantes, a interação de tantos outros clubes do país, nada disso é importante, me deixa quietinho aqui no século dezoito, preocupado apenas com a bola na casinha. Se pelo menos a bola estivesse entrando na casinha…

Agora é hora de conversar sobre os donos das chuteiras e canetas. Economias são necessárias para garantir o Atlético saudável no futuro? Qual é a fórmula ideal? O Gustavo FDP tinha sete anos quando assinamos por cinco anos com David Terans, Edinho, Denilson e Zé Welison; terá doze anos quando os contratos terminarem. Não quero dizer que o atual mandatário é o responsável pelo grand canyon de dívidas, mas ele tem comportamento semelhante ao de presidentes que não pensaram no futuro do Galo quando eu tinha sete anos de idade.

Até quando os outros FDPzinhos vão suportar as eliminações precoces para clubes modestos? Nada disso é preocupante, afinal de contas, o que vai para o relatório de orçamento anual? Vocês concordam que o trabalho “deles” é ruim para a garantia de um futuro legal para as próximas gerações? Então vamos falar sobre como nós temos falhado também.

Tento observar comportamento de torcedores pelo Brasil e comparar com aquela arquibancada que imortalizou a camisa doze em Minas Gerais. Em todo o país, as redes sociais potencializaram o hábito de distribuir ofensas que seriam pesadas demais até para pressionar o goleiro adversário em final de campeonato de várzea. “Você é um câncer”, “lixo de pessoa”, “seu bosta”, são termos rotineiros, despejados repetidamente na caixa de comentários. Acontece em todos os clubes, inclusive por aqui, mas os dirigentes não erram por todos os cantos e nós destacamos as falhas dos que cuidam do nosso quintal? Então agora é o nosso momento autocrítico.

Quando começar a acompanhar as redes sociais, o Gustavo vai crescer acreditando que Victor e Leonardo Silva foram um peso morto na história, basta ler os comentários na publicação que anuncia a volta do arqueiro aos treinos (28/10). Marcos Rocha é um traidor, Tardelli deve ser apagado das páginas e o Gilberto Silva pagou com traição… O que é que mudou de uns anos para cá? O Rei jogou do outro lado e me ensinaram primeiro que eu deveria erguer o punho, só depois falaram dos deslizes cometidos por ele. Precisamos ensinar os mais novos que erguer o punho é mais gostoso que ofender nossos ídolos na internet. Um clube precisa de ídolos, então que os dirigentes contratem e que a gente não mate os que conseguirem chegar a esse patamar.

Um dia, um FDP chamado Fael conheceu o futebol, olhou para os dois clubes, as duas torcidas, e contou ao pai azul que queria o Galo. Tinha FDP na cadeira de presidente, em campo e na arquibancada, ninguém me ensinou a digitar, meu vizinho bêbado, colocou o manto no cachorro Champ (in memorian), disse que a gente era cachorrada e me ensinou a erguer o punho. Ganhamos do Flamengo de Romário, muito maior que Gabigol, escalamos o filho do vento, muito mais rápido que Bolt, com o goleiro tetracampeão do mundo debaixo das traves.

Vamos pensar no Galo, FDP’s.

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