GALO PRA ONTEM, GALO PRA HOJE, GALO PARA O FUTURO

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

No passado, nunca liguei para essas “baboseiras” de bastidores do futebol, finanças e aprovação de contas. O tempo passou e eu sofri calado, percebi que o Atlético, sempre com estádios lotados, de tantos craques do passado, o primeiro campeão brasileiro, não conseguia os resultados obtidos por outros clubes. Vi o Botafogo, Grêmio, Athl. Paranaense, Fluminense, Santos, entre outros, campeões do Brasileiro. Assisti Juventude, Santo André, Paulista e Sport levantando o caneco da Copa do Brasil, enquanto o Internacional levou duas Libertadores, uma Sul-Americana, duas Recopas e um Mundial. O Internacional, chamado por gremistas de Municipal, pois só ganhava o gaúcho.

Então, o que é que acontecia com o Atlético? O garoto percebeu que os homens que seguravam a caneta eram tão importantes quanto os atletas que calçavam as chuteiras. Entre Minhocas, Cury’s, Brant’s, RG’s, me empolguei por diversas vezes com soluções mágicas como a grande parceria com a Koch Tavares e o projeto do Vila Acqua Park. Quando os programas esportivos diziam que Ricardo Guimarães colocava dinheiro do próprio bolso no clube, sonhei com o topo do mundo e acordei no inferno da segunda divisão. Só um clube gigante como o Galo para passar por tudo isso e continuar de pé, o atleticano da arquibancada evitou um final tenebroso para nossa bandeira.

Será que estamos totalmente livres de um final assim? A Fifa tem distribuído punições aos caloteiros do mundo do futebol e exigências do Profut não podem ser ignoradas. Por muitos anos, usamos o patrimônio como muleta para justificar o alto crescimento da dívida sem qualquer preocupação, atualmente, a Arena MRV vem como solução para o futuro. Se mantivermos os erros da nossa história, nem mesmo o gigante estádio garantirá dias tranquilos.

A preocupação constante do cara de trinta e quatro anos não lembra em nada aquela eterna esperança do garoto de dez anos. O futebol é cruel e não te mantém vivo entre os grandes só por amor à camisa. Sendo assim, parei para ler os textos do Rodrigo Capelo, jornalista especializado em negócios do esporte. Nas matérias, Capelo analisa o cenário de cada clube de maneira clara, em palavras de fácil compreensão, mesmo sem meu diploma na área de finanças.

Li primeiro o do Bahia e invejei a transparência e democracia na comunicação com o torcedor. Lá, o presidente pega o microfone em uma sala com torcedores para sanar qualquer dúvida, com direito a transmissão no Youtube. Por aqui, conselheiro que questiona é visto como uma pedra no sapato, torcedor que não concorda é movimento da oposição. O “verdadeiro time do povo” só quer o povo para comprar ingresso e depois continuar da porta de entrada pra lá. Enquanto administram o Galo para o Conselho, o tricolor baiano faz questão de mostrar para o torcedor quais ações têm sido colocadas em prática para a evolução de um clube que amargou temporadas na terceira divisão do Brasileiro. O povo sentiu-se próximo do Bahia e começou a gastar mais com o clube, aqui as rendas caem ano após ano. Com orçamento limitado, o Bahia sonha em chegar na semifinal da Copa do Brasil, grana alta de premiação que seria bem-vinda aos cofres do clube.

O Internacional fatura muito com quadro social, bilheteria, áreas de marketing e comercial. Enquanto dependemos exclusivamente de Jemerson e Bernard para listarmos boas vendas das categorias de base nos últimos anos, o Inter consegue “fabricar” verdinhas nas categorias de base. Impossível não perceber que a grama dos vizinhos está mais verde quando o assunto é base. A lista por aqui teria João Pedro, Wescley, Kléber, Éder Luís, Leandro Almeida, Paulo Henrique e cia ltda.

Ainda no sul, o Grêmio mostrou que austeridade não é sinônimo de time fraco em campo. O tricolor gaúcho reduziu a folha salarial em 2018 e chegou às semifinais da Libertadores, quartas da Copa do Brasil e garantiu a quarta colocação do Brasileiro. Pagando menos em juros por empréstimos bancários, o Grêmio vive a expectativa de uma grande década pela frente.

Assim como o presidente do Grêmio, Sette Câmara paga também, do ponto de vista financeiro, pelas péssimas administrações passadas. Sentou-se para negociar dívidas de duas décadas atrás, pagou por reforços de Alexandre Kalil e Daniel Nepomuceno e não contou com luvas de TV. Sérgio tropeçou nas próprias pernas, prometeu time bom e barato, contratou muito e inchou o elenco com péssimas. Os emprestados Arouca, Samuel Xavier e Erik sequer terminaram o ano na Cidade do Galo. Ainda por empréstimo, Galdezani, Juninho, Leandrinho, Nathan, Martín Rea e Tomás Andrade pouco acrescentaram ao grupo. Edinho e Denilson ganharam contrato de cinco anos, meses antes de serem emprestados, Terans também assinou por cinco temporadas e, atualmente, busca um clube para jogar no segundo semestre.

A qualidade da equipe ficou clara nos resultados de 2018. Eliminado nas oitavas da Copa do Brasil, na primeira fase da Sul-Americana, derrotado na final do estadual e comemorando uma vaga na pré-Libertadores do ano seguinte. No Mineiro 2019, nova derrota, eliminado na fase de grupos da Libertadores e com todas as fichas no confronto contra o Botafogo, pela Sul-Americana, e no Cruzeiro, pela Copa do Brasil. Na arrecadação com a venda de ingressos, faturamos R$ 28,5 milhões, em 2016, apenas R$ 16,8 milhões em 2017 e assustadores R$ 8,1 milhões em 2018. O Galo Na Veia, programa de sócios do clube, respira com a ajuda de aparelhos.

Fica a impressão de que temos um bom discurso nos microfones, sem saber como colocar em prática na administração da instituição. Nos últimos anos, não tenho me preocupado só com a finalização dos atacantes, as decisões dos presidentes têm interferido muito mais na vida do atleticano.

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