GARÇOM, AQUI, NESSA MESA DE BAR…

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Em tempos de crise no futebol, vez ou outra é preciso ligar o microfone para mostrar aos torcedores que ainda tem alguém cuidando do boteco do lado de lá do balcão. Foi assim com Rui Costa e a coletiva de imprensa após a derrota para o Grêmio, mas a cena exaltou ainda mais os ânimos da clientela do bar, teve cadeira voando, enquanto outros permaneceram cabisbaixos com uma garrafa de Bavaria e um maço de Derby vermelho ao lado do jukebox. O cenário é deprimente.

O primeiro absurdo veio ao destacar tudo que esse elenco já fez na temporada. Nem dá para falar que o diretor chegou no meio do ano e não viu alguns micos de perto. Rui estava no cargo quando perdemos o estadual pelo segundo ano seguido e fomos eliminados da Copa do Brasil pelo time que está com um pé na segundona. Dono de um belo penteado, ele também assistiu de camarote à eliminação na fase de grupos da Libertadores e, na Sul-Americana, para o modesto Colón, da Argentina. Se citarmos a temporada 2018 então, o boteco fecha, Rui.

Passada a alucinação sobre os grandes feitos do elenco, veio o velho roteiro de lágrimas e abatimento geral no vestiário. Essa parte padrão das entrevistas alternam entre tristeza um grupo que está disposto a dar a vida daqui em diante. A única certeza é que teremos um lado emotivo para passar confiança aos torcedores de que a partir dali será diferente. Que possamos construir a Arena MRV no formado de vestiário para enxergarmos esses atletas motivados em campo.

Quando meu diretor de futebol disse que não sabia qual era o perfil de treinador a ser contratado, fui até a porta da bodega, olhei para o lado e entendi o motivo dos restaurantes ao lado estarem mais movimentados. A administração faz toda a diferença. Seguimos a mesma linha de raciocínio ao buscar técnico no mercado, não sabemos o que queremos, apenas conferimos qual é a opção mais fácil. Usando sempre as palavras de Rogério Micale, um dos maiores poetas e filósofos do nosso tempo, não dá para fazer um bolo de chocolate e morango, se você tem apenas laranja e baunilha.

Assim como o presidente, nosso diretor não conhece o que tem em mãos, nem que caminho quer trilhar. Rui também copiou o perfil dos últimos funcionários que exerceram essa função ao optar pelo mais fácil, o nome livre no mercado, e não pela melhor opção a longo prazo. A terceira característica presente no Galo há anos e já enraizada por Rui é a dificuldade de autocrítica. O diretor voltou a ficar exaltado ao ser questionado por Lucas Hernández estar na reserva contra o Grêmio, mesmo na ausência de Fábio Santos. Hulk ganhou a vaga e deixou o lateral de doze milhões de reais comendo poeira. Em qualquer clube do Brasil, Fábio Santos já teria perdido a titularidade há dois anos, no Galo, segue tranquilo, mesmo com o ato investimento na posição. Para Rui, uma situação normal. Se perguntarem ao presidente o que ele acha da atual situação do clube, certamente ouviremos que está tudo dentro da normalidade também. Acho até que eles sabem da possibilidade de rebaixamento, mas não comentam em local público para não deixar claro o nível do trabalho realizado pela dupla.

Quando achamos que a série de terror havia terminado, a Settflix lançou a segunda temporada. Vagner Mancini disse, em Alagoas, que foi dele a opção por três meses de contrato. Sendo assim, a ideia de Rui Costa era permanecer com Mancini para 2020? Aliás, amigo atleticano, não descarte essa possibilidade, pois já conhecemos o modus operandi desses dirigentes. Mancini ganha alguns jogos, consegue a última vaga da Sul-Americana com gol sofrido e Horto em festa… É mais fácil mantê-lo no cargo e na final do Mineiro 2020 a gente improvisa Leandro Zago, técnico do Sub-20, como técnico. Anota aí, a administração de Sérgio Sette Câmara é uma roda-gigante que volta sempre para o mesmo lugar. Antes de fechar o boteco, desce mais uma pinga com torresmo e um sal de frutas, por favor.

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