GUILHERME PANÇA, AMADO OU ODIADO?

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IMAGEM: GALO DIGITAL/DIVULGAÇÃO

É sempre bom ter uma carta na manga para os momentos em que não houver assunto nas reuniões de família e resenha com os amigos, seja no bar ou na igreja. Então anote essa dica para o próximo encontro: Pergunte se Guilherme Pança é ídolo, um jogador qualquer na história ou inimigo da Massa do Galo. Pronto! O caldeirão vai ferver e até a dona Odete, que fazia um pavê na cozinha, virá para dar a opinião dela.

Dia desses, conversava com amigos sobre montarmos um sistema de pontuação para definirmos como ficaria o ranking de ídolos. “Jogadores que passaram pelo rival perdem pontos?” – indagou André. “Perde!” – retruquei sem pestanejar, mas coloquei ressalvas logo em seguida. “Quer dizer, existem agravantes e atenuantes em casa situação. Jogou antes e não voltou pra lá, se tinha proposta daqui quando optou por vestir azul, voltou para o Galo depois”…

Vale para Reinaldo, Éder, Luizinho, Cerezo cia. Ltda. Não incluí Guilherme na lista, pois ele sempre figurou na lista de artilheiros, mas nunca apareceu nas listas montadas por torcedores com os maiores ídolos da história. Só não dá para negar que falar sobre o GGG, Guilherme Goleador Galã, segundo Dadá Maravilha, envolve um turbilhão de sentimentos. É como arrumar o guarda-roupas, achar um presente da ex e o rádio tocar Pixote ao fundo. Já o critiquei tanto, mas quando um garoto cheio de espinha na cara disse que “nem sabia quem era esse aí” e que “aquele gol de peito nem foi tão bonito”, cogitei dar um tapa na boca do moleque para aprender a respeitar.

Em entrevista à ESPN, Guilherme deu a seguinte declaração – “”Foi uma relação difícil no começo e só mudou quando parei de jogar. Aí deu saudades (risos). As pessoas não vivem mais o momento de estar jogando pelo rival e tempo cura a ferida”

Cura mesmo, Guilherme. Com Aerosmith ou Sorriso Maroto, principalmente. Digo o mesmo para os que ofendem Diego Tardelli atualmente, mas seu caso traz agravantes que, para alguns, podem levar à prisão perpétua. Pesquisar sobre a história nem sempre é bom. Já li entrevistas do Rei Reinaldo que me fizeram abaixar o punho por um longo período. O tempo passou e eu sofri calado, tive a oportunidade de conhecer o Rei pessoalmente e vi sentimento de amor sincero pelo Galo, de torcedor. Em Marrocos, Reinaldo andava pelos corredores do estádio com a mesma tristeza que estava no olhar dos súditos. Trabalhei com Éder Aleixo e ouvi palavras que me arrepiavam, segredos em histórias que envolviam paixão pelo Atlético e que ele ganharia holofotes ao contar, mas preferiu guardar no coração alvinegro. Em 2019, décadas após pendurar as chuteiras, Éder Aleixo se destaca pela vibração no vestiário após as vitórias do Galo. É ducarai, Éder!

A última mágoa é com Cerezo, queria meia hora de prosa boa para esvaziar meu peito desse sentimento ruim com quem tanto vestiu nossa camisa. Tive pouco mais que essa meia horinha com Guilherme, em 2014. GGG falou sobre os bons momentos vividos em Belo Horizonte e comentou sobre a mancha azul na carreira. Filho da p*&%#! Eu me senti péssimo por sentir indícios de perdão naquele momento. Queria sentir raiva, mentalizei ao máximo da cena dele correndo para a torcida e fazendo o sinal de silêncio, mas aquele senhor gordinho de cabelo grisalho detalhava tudo o que ouviu e viveu no período, dentro e fora de campo.  Deixei para dar o veredito depois que ele pagasse o almoço, pois eu estava desempregado. Almocei e tirei minha linda camisa de 1.999 da mochila. “Assina aqui, por favor” – pedi. O turbilhão de sentimentos dizia que ele deveria assinar com sangue para sofrer, mas dentro do peito batia meu coração de adolescente que voltou no tempo naquele momento.

O filho do ex-camisa 7 cresceu em São Paulo e dividiu o amor pelo Corinthians com a paixão pelo Galo após ouvir o pai falando todos os dias sobre a Massa. O tempo cura tudo, Guilherme. Nem sempre a vida nos dá o tempo que precisamos, então optei por perdoar não só no futebol, antes que meu tempo acabe por aqui. Vá e não peques mais.

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