Lásaro Cunha cobra Flamengo: “paguem as famílias dos meninos mortos”

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FOTO: REPRODUÇÃO / COLETIVA / ATLÉTICO

O imbróglio envolvendo o Flamengo e a Rede Globo vem gerando reações de diversas pessoas e entidades envolvidas com o futebol. Dessa vez, foi o vice-presidente do Atlético, Lásaro Cunha, quem entrou na briga. O advogado criticou a medida provisória que dá ao Flamengo o direito de transmitir os próprios jogos por gerar consequências para outros clubes, e ao ser confrontado por um torcedor do Flamengo, fez questão de relembrar a tragédia que matou 10 adolescentes em 2019. É de conhecimento público as brigas judiciais entre o Flamengo e as famílias dos garotos mortos sobre o pagamento das indenizações.

A MP 984, feita às pressas para beneficiar o clube carioca – cujo presidente se reúne constantemente com Jair Bolsonaro – pode inaugurar uma nova era nas negociações da transmissão de jogos. Ainda que o modelo atual seja consenso entre os cartolas que não é o considerado ideal, a mudança, do modo como aconteceu, pode ter consequências drásticas. Principalmente para os clubes menores.

Como funciona uma medida provisória

Uma medida provisória é uma medida tomada para situações de urgência em assuntos que precisam ser revolvidos e não tem o tempo hábil para a votação do congresso. Ela é feita pelo presidente e tem prazo de 60 dias. Dentro deste prazo, deve seguir o trâmite normal de votação na Câmara e no Senado. Caso os 60 dias não sejam suficientes, pode ser prorrogada por mais 60 dias.

Ou seja, tem validade máxima de quatro meses. Obviamente, a transmissão de jogos de futebol em meio a uma pandemia que já matou mais de 60 mil brasileiros não é um assunto de urgência a ser tratado em uma medida provisória. E diversos especialistas entendem que a MP vigente não altera os contratos feitos em períodos anteriores à sua publicação.

Histórico de negociações entre os clubes

Caso a MP se torne lei, existem dois possíveis caminhos: a negociação individual e a negociação em blocos. No primeiro caso, que é o que o Flamengo fez, a situação pode parecer boa para os torcedores do clube, mas não leva em consideração que negociar os direitos dos grandes clubes é fácil, dos pequenos não. E considerando que os estados costumam ter entre dois e quatro times grandes, isso poderia significar o fim dos estaduais e dos times menores, o que impactaria diretamente as séries inferiores do Campeonato Brasileiro e até a formação e captação de atletas, gerando uma bola de neve.

Por outro lado, o histórico de negociações em grupo dos times brasileiros sempre foi motivo de indignação. O clube dos 13, que por muito tempo teve essa função, além de ignorar os times menores, vivia entre eternas brigas de ego entre seus dirigentes, rachas dentro do grupo e foi implodido pelos próprios clubes que propunham uma negociação em bloco.

Com o abismo financeiro que hoje existe entre os clubes, parte pela má distribuição das cotas de TV, parte pela péssima gestão financeira dos clubes, a ideia beira o ridículo. Se os clubes não conseguem concordar entre si sobre a volta do futebol em meio a uma pandemia, não conseguem enxergar as diferenças entre os grandes e pequenos clubes, conseguiriam se unir em uma negociação financeira?

A torcida paga a conta

O próprio Flamengo, que está se utilizando da MP, deu sinais que não consegue bancar a própria atitude e que quem vai pagar a conta é o torcedor. O time tentou vender o jogo contra o Volta Redonda para os não-sócios, por 10 reais.

A transmissão ocorreria pelo MyCujoo, plataforma de streaming que também detém os direitos de transmissão dos jogos organizados pela CBF das competições femininas, do futebol de base e da série D do Campeonato Brasileiro. A plataforma é constantemente alvo de diversas críticas quanto a qualidade de transmissão.

Após muitas críticas, o Flamengo alegou que não conseguiu atender a demanda de venda da transmissão e liberou o jogo pelos canais oficiais, informando que os torcedores que se sentiram lesados poderiam pedir a devolução do valor pago. Claro, lembrando ao torcedor que isso “diminuiria a receita do clube para novos investimentos”.

 

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