LEO SILVA, CANDIDATO A MAIOR DE TODOS OS TEMPOS

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FOTOS: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Chegou a hora de nos despedirmos de Leonardo Silva. Vinte e um de abril, o dia que veremos um dos maiores da história do Atlético pela última vez. Aliás, um dos maiores ou o maior?

Em conversa com um amigo, discutimos se seria possível criar uma tabela para definir o tamanho dos ídolos. Quantidade de jogos, gols, títulos, se jogou em rivais DEPOIS (atenção nessa palavra) de vestir o manto alvinegro, ações pós-aposentadoria etc. Mas como pontuar o roteiro que não entra em campo? Como colocar nesse ranking aqueles jogadores que não temos imagens, mas que foram peças importantes no início da nossa história? As injustiças, as histórias que não chegaram até o ouvido do torcedor, seria um cálculo interessante.

Cresci ouvindo que Reinaldo sempre foi o maior pelos gols e a genialidade. Ao pesquisar sobre a vida do Rei, passei a admirá-lo ainda mais. Perseguido por zagueiros covardes, por apitos corruptos e por tribunais da entidade que administra nosso futebol, o cara continuou calçando a chuteira e se preparando para o próximo duelo. Já nem percebia quando o médico segurava a seringa e a agulha penetrava no joelho para aliviar as dores. É simplesmente o maior artilheiro da história e, atualmente, está no dia a dia da Cidade do Galo como funcionário do clube. Recomendo a leitura dos vários livros que citam o baby craque, inclusive os que ele comentam sobre o grande adversário da vida, o vício.

Foi em uma dessas pesquisas que li a matéria que me deu a sensação de ter levado um soco no estômago. Reinaldo falava sobre o desejo de jogar pelo Cruzeiro ou pelo Flamengo, pensando em fazer história e se aposentar no clube que escolhesse. O Cruzeiro dos zagueiros covardes ou o Flamengo dos apitos corruptos? Nesse momento, vale o que falei sobre histórias que não chegam ao ouvido do torcedor. Como nossos dirigentes trataram Reinaldo? Como estava a cabeça do atleta após uma carreira tão difícil? A ausência de alguns títulos de destaque na lista do Rei não muda o tamanho do trono, mas o erro cometido em 1988 arranha e muito. A cartilha azul prega que todo ídolo atleticano deve, no mínimo, receber uma proposta para jogar do outro lado da lagoa. Obteve sucesso ao contratar vários e fracassou em outros, como Marques, Tardelli e Ronaldinho.

Dario José dos Santos, concorrente de helicóptero e beija-flor, marcou o gol que nos garantiu a taça do Brasileiro de 1971, não jogou no rival e tem média de gols superior à de Reinaldo. Foram três passagens pelo Galo com histórias de arrepiar, como o dia em que enterrou um filho e correu para o estádio para marcar os gols do título que dava início à caminhada do hexa do Mineiro. Figura entre os maiores, é uma lenda viva, mesmo com as dificuldades para dominar os lançamentos recebidos dos companheiros de time. Já Ronaldo, o dono da 49, dominava como poucos no mundo. Vestir a camisa do gênio em qualquer lugar do planeta é perder a paz com a quantidade de pessoas querendo conversar sobre a sensação de ter Dinho com a camisa do meu time. O monstro nos deu Libertadores, Recopa e Mineiro, derramou lágrimas vestindo preto e branco, provocou adversários e gritou ‘AQUI É GALO’! Foram poucos jogos e poucos gols, mas dois anos intensos e que deixam Ronaldo entre os maiores, mas, na minha opinião, atrás de dois companheiros daquele time fantástico.

Reinaldo, Dadá, Éder, Diego Tardelli, a tendência na maioria dos clubes é exaltar os que balançam as redes, deixando de lado os que impedem os gols adversários. A atual década mudou esse cenário na Cidade do Galo. Pé esquerdo passou a ser sinônimo de milagre e os cartórios em breve terão que barrar novos registros de Victor. Sobre Victor, deixaremos a análise para o momento em que o santo se despedir definitivamente, o que, graças a Deus, está longe de acontecer.

Hoje é dia de falarmos sobre Leonardo Silva, candidato a maior jogador da história do Clube Atlético Mineiro. Em 2019, Leo se despede do Galo como zagueiro com mais gols na história e o zagueiro com mais gols na história do Brasileiro, marca que certamente será batida por Réver nas próximas edições do campeonato. Com quase 400 jogos vestindo o manto alvinegro, Leo terá tempo para tratar o ombro após levantar as taças da Libertadores, Recopa, Copa do Brasil, além de quatro Mineiros e Florida Cup. No Brasileiro, bateu na trave por duas vezes com o vice de 2012 e 2015. Colecionador de marcas históricas, é o terceiro atleta com mais jogos em Libertadores, o décimo artilheiro do clube na história do Brasileiro, o quarto que mais balançou as redes do Independência após a reinauguração, em 2012.

Participou do período de transição da administração Alexandre Kalil, deixando para trás o período em que a única meta da temporada era alcançar quarenta e quatro pontos. Contribuiu na transição de jovens zagueiros para o profissional e, ao lado de Réver, formou a histórica dupla de zaga “torres gêmeas”. Não havia parceiro melhor para os últimos dias da carreira. Ao pendurar as chuteiras, coloca a gravata e continua no Atlético ao lado de outros ex-jogadores, provavelmente em algum cargo próximo ao do ídolo Marques. Ou seja, o capítulo muda, mas teremos mais páginas de Leonardo Silva na história desse clube.

“Mas você não disse que perde pontos por ter jogado do outro lado da lagoa?” – Sim eu disse! Inclusive fomos vítimas da cabeçada fatal de Leo, maaasssss o caminho foi de lá para cá. Leo teve a chance de escolher que clube queria jogar e ele optou pelo Galo. Estreou em clássico, já marcou gol contra os azuis e faturou um título nacional em cima desse povo que não aguenta a imensa dor de cotovelo sempre que o encontra.

Nesses quatro meses que restam, queria que o tempo passasse devagar como naquele dia em que a bola demorou anos entre a cabeçada de Leo e as redes de Martín Silva. Foi o último a marcar nas penalidades e ouviu de Victor ao abraça-lo em seguida – Avisa lá que acabou! – Não acabou não, Leo. O que você fez é eterno para a Massa. Quando você já não estiver por aqui, diremos ao Lucas, seu filho, que o pai dele é um dos maiores, senão o maior da história desse clube.

No mundo onde imortalizamos as camisas em homenagens aos ídolos, o certo seria imortalizar a braçadeira de capitão. Obrigado por tudo.

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