LEVIR DRIBLA OS MICROFONES PARA BLINDAR ATLETAS E DIRIGENTES

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IMAGEM: REPRODUÇÃO TV GALO

Desde a passagem de Levir Culpi pela Cidade do Galo nas temporadas 2014 e 2015, passei a encarar as entrevistas dos treinadores após as partidas como um zero à esquerda. Aguirre, Marcelo, Roger, Micale, Oswaldo, muda o sotaque e as frases de efeito, mas a essência é a mesma. Ao entrar na sala de imprensa em buscar de respostas quanto às decisões do comandante, sempre deixei o espaço com mais interrogações do que exclamações .

Por ironia do destino, Levir está de volta ao clube após três anos e, cada vez mais, encaro esse momento pós-jogo sob outra perspectiva. Assim como o torcedor, o cara está de cabeça quente, mas, diante de microfones com enorme alcance, administra em cada palavra a balança entre a autocrítica e o respeito, motivação e hierarquia no elenco. Não deve ser fácil! O treino da semana foi por água abaixo, você quer abrir o jogo ali mesmo no vestiário e deixar claro quais foram os erros de cada um, sem poupar ninguém, mas encosta a porta e vai onde está a imprensa para dizer que foram apenas detalhes e repete até mesmo o que nem você acredita. Difícil para os experientes e um teste de resistência para os inexperientes, como Thiago Larghi.

O início de Levir na última passagem também não foi dos melhores. Um empate, que resultou na eliminação da Libertadores 2014, e uma derrota para o Goiás, no Horto. Porém, naquela ocasião, o técnico fez uma leitura rápida dos erros e detectou o que precisava de mudança imediata, o que não aconteceu atualmente. Se detectou, ao contrário de 2014, não expôs nas entrevistas por opção ou por achar que se trata de um assunto para ser resolvido internamente. Confesso que fiquei angustiado com as palavras do professor após a derrota, pois as respostas de todas as perguntas iam além dessa noite, são carregadas de decisões e tropeços desde o final da temporada 2017 e não sofreram qualquer influência de Levir. Como grande profissional que é, o burro com sorte matou no peito, desconversou para a política do país e arrastou cada segundo até o encerramento do interrogatório, protegendo os atletas e, de quebra, os dirigentes. A missão de ir aos microfones diariamente deveria estar nas mãos de Sette Câmara e Alexandre Gallo até o final da temporada para que o treinador fosse poupado.

Talvez a gente só tenha a verdadeira entrevista sobre Ceará e Atlético no final de 2019. Sabe quando o Levir já está na casa há um ano e se torna o amigo sincero nas coletivas de sexta à tarde? Pode ser que em uma dessa ele solte – “Lembra daquela derrota para o Ceará? Como que eu ia falar que assumi uma bomba com elenco limitado a oito jogos do final do campeonato e com uma desorganização tática assustadora? Meu diretor não segurou o ambiente no grupo, o salário estava atrasado e os atletas sentiam que já haviam alcançado a meta estipulada pelo presidente. Eu sei que naquela segunda-feira eu falei na capital cearense que o problema foi só finalização, mas a gente sabia que estava muito além disso. Ninguém se movimentava um centímetro para receber a bola, eu olhava para o banco e via nos olhares que a covardia de uma fuga da Sul-Americana havia contagiado definitivamente a equipe. Nós éramos um grupo covarde e mal administrado externamente”.

Te entendo, Levir. Nem sempre dá para falar o que a gente pensa. No fundo, você já sabe de tudo. O problema é que a gente não sabe nada.

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