Não aprendi dizer adeus

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

“Não aprendi dizer adeus, mas tenho que aceitar que amores vem e vão”. Lá se vão quase trinta anos que Leandro e Leonardo recomendaram, pela primeira vez, que aceitemos o momento da despedida. Um amigo me dizia que não havia alguém mais nostálgico do que eu. Aliás, que saudade desse amigo. Sempre subi em caminhões de mudança, deixei casas, escolas e cidades para trás. Quanto mais nos despedimos, mais temos dificuldade em nos acostumarmos com o hábito.

No futebol, a despedida se tornou rotina no mundo de transferências e pouca identificação de jogadores com os clubes. No Galo é diferente. No Galo, sempre será diferente. Nós, atleticanos, somos intensos para tudo. Intensos no amor, na dor, na cobrança e no apoio. Quem entra funcionário, sai torcedor, mas nem sempre é fácil esse momento da despedida. Quantas vezes nos despedimos do Marques? Em cada adeus, uma bronca, em cada retorno, o estádio repetindo um “olê” como mantra de agradecimento pelo reencontro.

Quantas vezes nos despedimos do Tardelli? Ele tentou ficar longe, nós tentamos odiá-lo e o aeroporto lotado, onze anos após o primeiro encontro, mostrou onde é a casa do ‘Tatá’. Bernard trocou uma expulsão pela última oportunidade de dizer àquele povo que o amor será “uma vez até morrer”. Dinho foi sorrateiro. Logo ele, que sempre atraiu holofotes, aproveitou a disputa de uma taça para caminhar, solitário, devagar até o vestiário antes do apito final. Voltou para erguer a taça. Mais uma. A última!

A batida de pé girando o corpo que o Marques fazia e hipnotizava a marcação, Tardelli balançando as redes do Mineirão para confirmar a freguesia mineira, o até logo de Bernard, Ronaldo batendo no braço para mostrar que aqui é Galo. Nada, nunca, se aproximará de um pé esquerdo isolando a bola no Horto aos 48 do segundo tempo e dando novo significado à palavra ‘fé’. Ninguém é intenso como o atleticano, nenhum lance jamais será tão intenso como foi aquele.

Acreditar se tornou tatuagem e o dia 30 de maio nunca mais será o mesmo. As maternidades e cartórios nunca mais foram os mesmos. Confesso até que, se fosse possível, trocaria meu próprio nome. Riascos, Rodríguez, Miranda e tantos outros, vítimas de um roteiro que não aceitava outro fim. E talvez ele tenha chegado. O fim. Nostálgicos que não aprenderam dizer adeus? Talvez! E se o fim estiver próximo, que seja da melhor maneira. Se esse é o momento de vivermos o lado frio do futebol, recheado de cifras e cálculos, que não esfrie nosso coração que lutou tanto para permanecer batendo após aquela noite.

Agora ou daqui a alguns anos, apenas me avisem quando começar a contagem regressiva. Quero olhar para esse gigante vestindo nossa camisa e agradecer quantas vezes forem necessárias. Torcida mais chata do Brasil, se o problema era goleiro não é mais. Nós contratamos um goleiro e recebemos um ídolo, uma lenda.

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