FOTO: REPRODUÇÃO / TV GALO
Por Natália Andrade
Vitória Calhau, atleta de futebol profissional do Atlético, foi vítima de um possível caso de assédio na tarde de ontem, dentro do gramado do Mineirão, enquanto era apresentada à torcida do Atlético. O momento, mais do que constrangedor, foi protagonizado pelo mascote “Galo Doido” – a identidade do profissional que vestia a fantasia não foi divulgada pelo clube.
A tarde tinha tudo pra ter sido história para todo o elenco feminino. Seria a primeira vez que as jogadoras teriam contato com a torcida do Atlético em número considerável no gigante da Pampulha. O clima nos bastidores, conforme relatado pelas jogadores, era de emoção e felicidade. Infelizmente, terminou da pior maneira possível.
O primeiro ponto triste foi quando as atletas passaram pelas torcidas organizadas que, em sinal de total desrespeito às jogadoras e ao time, gritavam “vem pra Galoucura, vem, gostosa”. A atitude gerou críticas da imprensa, inclusive. Esse comportamento, que busca objetivar e tirar qualquer identidade da mulher para transformá-la em um mero “produto” já foi considerado aceitável no mundo do futebol – hoje em dia não é mais.
Mas a situação constrangedora não parou por aí. Quando as imagens da apresentação foram divulgadas é que se tomou conhecimento de um possível caso de assédio. Durante a apresentação individual da Vitória Calhau, o mascote girou a atleta para mostrar o corpo dela para a torcida e saiu esfregando as “mãos” e levando até a “boca” em clara apologia sexual.
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Em campo, ninguém havia percebido o ato. A jogadora acreditou que o mascote estava mostrando a numeração dela para a torcida. Suas colegas também não perceberam, tanto que continuaram a brincar com o mascote até a saída de campo.
Vale ressaltar que assédio é crime. E o mascote representa a instituição Clube Atlético Mineiro, estando a trabalho, paramentado com as vestes do clube, no exercício da função. Da mesma forma que Vitória Calhau também estava. O caso gerou repercussão nacional, sendo debatido nas principais mesas redondas esportivas do país. A expectativa era de que atitudes mais severas por parte do clube fossem tomadas, como a demissão do empregado. Mas não foi o que ocorreu. O Atlético informou por nota que o funcionário foi apenas afastado. E repudiou a atitude. Nada sobre a identidade do funcionário foi publicada.
Talvez a certeza de impunidade venha da reincidência. Assim que os vídeos começaram a circular, usuários do twitter lembraram que não foi o primeiro caso envolvendo o mascote, que já havia se envolvido em outros problemas que também podem caracterizar assédio. Uma funcionária do Cruzeiro foi “encoxada” e hostilizada em um clássico alguns anos atrás. Na ocasião, nenhuma atitude foi tomada.

REPRODUÇÃO / TWITTER
Cabe ao Atlético orientar seus funcionários quanto ao tratamento destinado a suas atletas. O anúncio da presença das jogadoras em campo foi feito dias antes, o clube teve tempo hábil para orientar todos os envolvidos na ação sobre como se comportar, ainda que seja triste imaginar que um homem adulto não saiba se portar de maneira respeitosa diante de uma mulher.
O Atlético, até o momento, não informou se está sendo prestado auxílio psicológico específico para a atleta ou se ela foi orientada quanto a uma queixa formal. A assessoria disse apenas que oferece apoio psicológico e jurídico a todas as atletas. Procurados, o funcionário e o agente da atleta não retornaram os contatos.
O que aconteceu ontem, tanto por parte da torcida quanto do funcionário é inaceitável e desrespeitoso não só com Vitória Calhau, mas também com todas as atletas, torcedoras, jornalistas e mulheres como um todo. Assédio não é engraçado, não é piada, não é coisa boba. É crime.