
No dia 27 de maio de 2021, o Atlético divulgou em seu site oficial um manifesto de apoio ao até então presidente da CBF, Rogério Caboclo, afastado no último dia 06. Ressalta-se que o clube alvinegro não foi o único a assinar o tal “documento”: Cruzeiro Esporte Clube, América Futebol Clube e Federação Mineira de Futebol, não só assinaram, como se declararam a favor da atual gestão da Confederação Brasileira de Futebol, através de seus presidentes; Sérgio Santos Rodrigues, Alencar da Silveira Junior e Adriano Guilherme de Aro Ferreira.

Manifesto de apoio dos clubes e FMF – Reprodução: Site Oficial Atlético
Diante deste cenário fica a pergunta: o que leva os presidentes dos maiores Clubes Mineiros e a Federação de Futebol do estado de Minas Gerais a apoiarem a atual gestão da CBF? Claro que você, caro leitor, pode estar pensando: “Tratar deste assunto agora, depois das acusações de assédio moral e sexual contra o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, fica muito fácil falar…”. Mas não! O problema não começou ontem, existe todo um histórico por trás que vale a pena ser relembrado.
Ricardo Teixeira
Entre os anos de 1989 e 2012, o mandatário da Confederação que rege o futebol brasileiro era Ricardo Teixeira. Genro do ex-presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, Teixeira chegou ao cargo com o apoio e indicação do sogro. Os 24 anos de mandato até poderiam ter ficado na lembrança pelas conquistas do Tetra e do Penta campeonato mundial. Contudo, não foi bem o que aconteceu… Não é assim que Ricardo Teixeira ficará lembrado!
Em 2010, a rede britânica BBC fez uma denuncia em que Teixeira e Havelange haviam recebido cerca de R$ 45 milhões em propinas e contratos de direitos de transmissão de partidas. Naquele momento, os dois pagaram multa de 9 milhões de reais, e ainda devolverem parte do dinheiro recebido para escapar das denúncias.
Ricardo Teixeira também é acusado de lavagem de dinheiro nos Estados Unidos. O ex-mandatário foi denunciado pela justiça americana, porém não foi preso por estar no Brasil, que não extradita cidadãos brasileiros. Por fim, em 2019, após investigação interna, a FIFA anunciou o banimento de Ricardo Teixeira do futebol, pois de acordo com a entidade máxima do esporte, Teixeira recebeu mais de R$ 30 milhões em propinas nos contratos da Libertadores, Copa América e Copa do Brasil. Além de todo o exposto, vale salienta que Ricardo Teixeira ainda acumula problemas com a justiça espanhola!
José Maria Marin
Durante anos, José Maria Marin foi um dos 08 vice-presidentes da CBF. Após o afastamento compulsório, devido as denúncias, de Ricardo Teixeira em 2012, assumiu o cargo daquele por ser o mais velho vice-presidente da Confederação, onde permaneceu até 2015. Político nos anos 80, Marin chegou a ser Governador do Estado de São Paulo por 10 meses, além de Presidente da Federação Paulista de Futebol entre 1982 e 1987, e tinha em Teixeira um aliado.
Nos quase 4 anos em que esteve comandando o futebol brasileiro, Marin foi mais um que acumulou diversas denúncias. Desde se apropriar indevidamente da medalha da Copa São Paulo de Futebol Jr., até situações mais graves.
Em 2017, quando já estava em prisão domiciliar nos Estados Unidos, o mandatário foi condenado por 6 crimes: organização criminosa, fraude bancária (3x) e lavagem de dinheiro (2x), todos ligados à Copa Libertadores, à Copa América e à Copa do Brasil.
Após cerca de 2 anos em prisão domiciliar e mais quase 3 anos em centros de detenção e penitenciárias norte-americanas, Marin foi solto devido a avançada idade, condições debilitadas de saúde e principalmente, ao novo Coronavírus.
Marco Polo Del Nero
Após a saída de Marin, quem assumiu a presidência da CBF foi Marco Polo Del Nero. No comando da entidade entre 2015 e 2017, Del Nero foi eleito com 45 de 47 votos possíveis. Ex-presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco teve o suporte e apoio de José Maria Marin para chegar ao cargo máximo do futebol nacional.
Já no seu primeiro ano de mandato, Del Nero passou a não sair do Brasil. O motivo? Investigações do FBI que apontavam seu envolvimento com esquemas de corrupção. Ainda em 2015, foi indiciado pelos mesmos crimes que seu antecessor: fraude, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Diante do ocorrido, o Comitê de Ética da FIFA também começou a investigar o mandatário. De acordo com promotores norte-americanos, Del Nero recebeu quase US$ 7 milhões em suborno para beneficiar empresas de marketing esportivo.
Ao final, assim como Ricardo Teixeira, Del Nero foi banido pela FIFA, e, não poderia mais atuar no futebol!
Rogério Caboclo
Em 2019, quem alcançou o comando da Confederação Brasileira de Futebol foi Rogério Caboclo. Paulista, Caboclo trabalhou como diretor executivo da CBF e ocupou o cargo de chefe do Comitê Organizador Local da Copa América de 2019.
Rogério Caboclo foi o escolhido por Marco Polo Del Nero para ser o candidato da “situação” e como não houve outra chapa, além de ter recebido 135 votos de 141 possíveis, ele se tornou o 20º presidente da entidade.
Além das graves acusações de assédio moral e sexual, a gestão Rogério Caboclo sofre com outra grave acusação: Marco Polo Del Nero, que tenta reverter o banimento dado a ele pela FIFA, estaria ainda “dando as cartas” dentro da Confederação Brasileira de Futebol, mesmo estando proibido de exercer qualquer cargo ou função dentro do esporte. De acordo com as acusações, até reuniões com diretores da CBF aconteceriam na casa do ex-presidente.
Reclamações Mineiras

Colagem com várias matérias de Atlético, Cruzeiro e América reclamando da CBF nos últimos anos.
Além de todas as questões expostas, que transcendem a questão esportiva, não é segredo para ninguém que Atlético, Cruzeiro e América fazem reclamações à gestão do futebol brasileiro: calendário apertado, atuações e escalas de árbitros… o filme se repete todos os anos.
Mas para todos ao redor ficam as dúvidas: como reclamar e apoiar? Como reclamar e não buscar mudanças? Como reclamar e votar á favor do que vem sendo feito nos últimos 35 anos?
Pode ser por medo de retaliação? Sim, pode! Pode ser por loucura? Sim, pode! Pode ser apenas para aparecer na frente das câmeras e microfones algum tipo de indignação? Sim, pode! Podem ser inúmeras as repostas! O que não podem, é achar que não estamos vendo. Que não estamos vivenciando todo o ocorrido.
Aurélio define em seu famoso livro, chamado “Dicionário”, sobre ser subserviente: “aquele que aceita ordens, vontades e desejos dos outros com facilidade”.
Não adianta apoiar e 48 horas depois reclamar! Não adianta se autoproclamar “O time do POVO”, e ir contra o interesse do povo. O futebol não é de ninguém, mas ao mesmo tempo ele é de todos!