NO FUNDO DO POÇO, A MASSA CANTOU!

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FOTO: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

Eu caí, vivi essa dor e nunca neguei. Preferia nunca ter pisado no maldito solo da série B, mas não estava ao alcance dos que ficam apenas na arquibancada. O que podíamos fazer então para manter a essência da camisa alvinegra quando tateamos o fundo do poço? Nós cantamos! Do fundo da alma, cantamos pela camisa e pela bandeira, mostramos que era verdade o verso que juramos ir com o Galo até morrer.

Quem diria que aquela cena seria uma goleada em clássico com catorze anos de antecedência. Nos acostumamos a ofuscar a torcida rival, mas essa sequência de cenas com intervalo de mais de uma década teve uma simbologia especial. No passado, acontecia com a polícia tirando a cordinha e empurrando o lado azul para o cantinho. Na atualidade, nosso povo ocupa apenas dez por cento da arquibancada e cala o outro lado em uma cena constrangedora para os jogadores adversários.

Nunca cantamos por enfrentar o time X ou Y, por posição na tabela ou para ficar bonito na câmera da TV. Nosso ritual é celebrar a existência do Atlético e o melhor exemplo disso é a tradicional reunião em frente à Sede de Lourdes todo 25 de março, quando a avenida Olegário Maciel se arrepia, como arrepiou o Mineirão no dia 27 de novembro de 2005. Quando cantamos após aquele empate contra o Vasco, era uma maneira sutil de dizer “tá doendo, Galo, mas nós vamos passar por essa juntos”. Quando Leo Silva cabeceou aquela bola contra o Olimpia, quando Victor isolou o chute de Riascos, nós voltamos no tempo por um segundo e a dor vivida no passado deixou as noites douradas ainda mais prazerosas, pois o eu acredito não se referia apenas àqueles lances. Eu acredito agora, pois acreditei antes.

Em toda a história, a Massa colecionou momentos que justificaram o respeito conquistado em todo o país. Por onde se anda nesse Brasil, torcedores de outros clubes se referem ao Atlético citando a força da camisa doze. O nono gol da goleada iniciada em novembro de 2005, veio nesse dia 8 de dezembro de 2019. O estádio vazio, em silêncio, a mesma fuga do duelo contra o CSA se repetindo contra o Palmeiras. Não me causou estranheza, pois é algo comum por quem só se apega a metais que enferrujam com o tempo. Se não tem metal para levantar, não há motivo para estar aqui, então a arquibancada estará vazia. O povo alvinegro só deixou o buraco por formar um cordão humano, uma mão segurando a outra, uma garganta cantando pela outra quando a voz ficava embargada.  Por isso repetimos que o nosso time é IMORTAL. Se nunca vierem metais e medalhas, ainda assim o Mineirão irá se arrepiar com nosso hino.

Não foi o topo do pódio que mostrou a essência das duas torcidas, foi o fundo do poço. No fundo do poço, a Massa cantou. O cruzeirense fugiu.

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