NOSSA GRAMA É MENOS VERDE?

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

André Figueiredo participou do programa Arena 98, da rádio 98FM, durante a pausa do futebol para a Copa América, para falar sobre o período em que trabalhou no Atlético. Entre os diversos assuntos citados, o ex-diretor das categorias de base falou sobre a ascensão de Alerrandro na equipe profissional. André destacou que Alerrandro só ganhou as primeiras chances no time porque Papagaio se lesionou pela Seleção Brasileira antes de se apresentar na Cidade do Galo. Ele não mentiu.

Se Papagaio estivesse à disposição de Levir Culpi, provavelmente Alerrandro não teria balançado as redes treze vezes na temporada, nem teria contribuído para importantes vitórias. Marques e Sette Câmara buscaram um atacante que se destacava nas categorias de base do Palmeiras e esqueceram de olhar para o próprio quintal, afinal de contas, desde o sub-15, os números de Alerrandro na base não deixam a desejar. Se optamos  por testar um jogador durante uma temporada inteira, com importantes competições a serem disputadas e sem a certeza de continuidade para o ano seguinte, por que é tão difícil fazer o mesmo com o que já é nosso?

Vale também para apostas, investimentos e longos contratos como aconteceu com o atacante Denilson, contratado em 2018 e que treina à parte na Cidade do Galo à procura de um empréstimo para o exterior. Como fica a motivação para os que ainda estão na base ao ver que o clube valoriza os que são formados em outros clubes ou contratam peças que pouco entregam?

Sem comparar a qualidade dos atletas, mas Bernard e Jemerson passaram por situação parecida na Cidade do Galo. Bernard chegou a jogar improvisado como lateral direito e Jemerson conseguiu vaga no time durante uma excursão na China após a saída de Otamendi e com Réver visitando frequentemente o departamento médico. Por aqui é assim, ou o destino lhe sorri ou você precisa estar muito acima da média e não oscilar nas primeiras oportunidades.

Desde o último gol de Ricardo Oliveira, Alerrandro já balançou as redes em cinco oportunidades. Garantiu a classificação para a Sul-Americana ao marcar dois contra o Zamora, levou o confronto contra o La Calera para os pênaltis e brigou pela artilharia do Mineiro, mesmo ficando de fora da reta final do estadual. Bastaram três atuações ruins após a intertemporada, sendo que todo o time foi mal em duas ocasiões, para que Rodrigo Santana voltasse com Ricardo Oliveira. Dos dez jogos em que Alerrandro marcou, o Atlético perdeu apenas uma partida. Em sete ocasiões, não fossem os gols da prata da casa, a pontuação (ou classificação) obtida pelo clube não seria a mesma. O argumento de que não é artilheiro decisivo baseado apenas no clássico na Copa do Brasil é injusto e covarde.

Nós continuamos a ver nossa grama menos verde do que ela é. Mesmo com os bons números em 2019, sinto um clima parecido com o que Alerrandro enfrentou após o empate com o Ferroviário-CE, em 2018. Em noventa minutos, grande parte da torcida tinha certeza de que o garoto não deveria estar entre os profissionais. Meses depois, pediam mais chances para a vaga do instável Ricardo Oliveira. O pastor leva para a balança um passado que não tem entrado em campo, o currículo de um jogador de 39 anos leva vantagem ao ser comparado com quem soprou 19 velinhas em 2019.

Chávare e Rui Costa já iniciaram o planejamento que promete revolucionar o setor na Cidade do Galo. Novos nomes chegaram para reforçar o elenco do sub-20, já pensando na equipe de transição. Automaticamente, atletas mais maduros sendo entregues para o time principal. Que planejem também como será a transição para o profissional e que nós, torcedores, possamos aprender que essa transição não acontece do dia para a noite. Caso contrário, quando os dirigentes ouvirem que precisamos de uma base como a do Santos, eles simplesmente vão responder que precisamos de uma torcida paciente como a do Santos.

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