NOVOS TEMPOS NAS CATEGORIAS DE BASE DO GALO

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FOTO: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

Desde o início da grande reformulação vivida pelo Atlético, iniciada no final de 2008, no primeiro mandato de Alexandre Kalil, várias áreas do clube deixaram de engatinhar e passaram a caminhar, mesmo que com tropeços vez ou outra. Se tivesse papel e caneta em mãos para listar o que ainda precisa mudar no clube, o atleticano certamente citaria as categorias de base como prioridade. Sérgio Sette Câmara teve o papel e caneta e se preocupou antes mesmo de tomar posse como presidente. Trocou André Figueiredo pelo ídolo Marques, manteve no discurso a preocupação em ver resultados melhores no setor e, atualmente, dá liberdade a Rui Costa e Júnior Chávare para que haja uma revolução na base alvinegra.

Talvez essa seja uma das mudanças mais silenciosas em gestões no futebol. É como obra subterrânea na grande cidade, de pouco alarde entre aa população, mas de grandes benefícios a longo prazo. Marques deu os primeiros passos, bem intencionado, mas talvez tenha faltado a experiência que Júnior Chávare tem para a área. Homem de confiança de Rui Costa, Chávare fez o mesmo processo de imersão de Rui na Cidade do Galo, optou por morar no CT por um período para entender como a engrenagem da base, trabalhando em uma das melhores estruturas do mundo, pode entregar resultados melhores para a instituição.

Quais são as pedras no caminho? Até onde nossas pernas permitem dar o próximo passo? Chávare já detectou pontos que podem fazer a diferença no Atlético para a próxima década. Projetos interessantes, como a chegada de jogadores semiprontos, atletas com potencial enorme de utilização no profissional e de valorização futura, mas que pedem a lapidação necessária antes dessa etapa. Bruno Silva, da Chapecoense, se encaixa nesse perfil, com permanência a longo prazo, valor de compra definido e tempo para colocar em prática o planejamento já traçado antes mesmo da sua chegada. O banco de dados construído pela dupla Rui e Júnior nos últimos anos pode ser o coringa na nossa manga.

Se Marques focou em testar diferentes maneiras de trabalhar a captação, Chávare traz um novo olhar com a criação de uma equipe de transição e parcerias para que atletas ganhem experiência em outros países, o que poderia facilitar negociações futuras sem o risco de adaptação para os clubes estrangeiros. Vale lembrar que oxigenar os caixas do clube é um dos benefícios trazidos pelo bom desempenho da base; contribui para a estruturação do próprio setor e permite que o presida anuncie os craques que você buscaria no aeroporto. Deixar tantas peças nas gavetas do elenco como quarta, quinta opção do setor, disputando três partidas por ano, é estagnar a evolução do atleta. Temos repetido essa fórmula ano após ano. André Figueiredo, responsável pela base do Atlético por anos, disse bem em entrevista à Rádio 98FM que Alerrando só se tornou o artilheiro da temporada e queridinho da torcida pela lesão do atacante Papagaio. Figueiredo tem razão ao citar o excesso de cautela do Atlético em iniciar essa transição dos jovens no time principal, Jemerson só conseguiu sua grande chance quando perdemos zagueiros em sequência por diferentes motivos. Não fosse a contribuição dos deuses do futebol, não me espantaria se Jemerson estivesse emprestado para o Uberaba atualmente.

Não confunda a equipe de transição com o sub-23 utilizado em 2017 na disputa da segunda divisão do Campeonato Mineiro. Acompanhei de perto assistindo várias partidas e me decepcionei com a maneira com que a ideia foi administrada dentro e fora de campo. A intenção não é se tornar um almoxarifado de quem não é utilizado no elenco principal ou retorna de empréstimo à espera do novo destino. O foco principal é a continuidade da lapidação, entender que muitos jogadores podem entregar muito mais se continuada a evolução pós Sub-20. Repito, se não estivermos falando de uma área utilizada como carta na manga em negociações com empresários e agentes, o trabalho é promissor. Tanto o Grêmio, campeão da Libertadores, como o Atl. Paranaense, campeão da Sul-Americana, colheram frutos de projetos semelhantes, o importante é seguir, mesmo com tropeços iniciais, e fazer com que nós, torcida e imprensa, possamos entender que o resultado final não está nos dígitos dos placares, mas na formação de grandes atletas para o futuro.

O departamento de futebol, de uma maneira geral, vive grande mudança desde a chegada de Rui Costa, que citou a continuidade do processo de avaliação e reestruturação em vários aspectos com o intuito de aprimorar processos. Vale também para a base, seja com medidas populares ou não. Por mais que nossa paixão faça com que a ansiedade peça resultados rápidos para os próximos meses, a expectativa é que os frutos plantados com a implantação dessas ideias sejam colhidos nas próximas temporadas. Para facilitar a compreensão do cenário, algo semelhante à Arena MRV, um longo processo burocrático antes de começarmos a colocar tijolinho sobre tijolinho. A continuidade e aperfeiçoamento do projeto pode nos render uma grande obra no futuro.

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