
FOTO: PEDRO SOUZA / ATLÉTICO
O final da temporada 2020 enfim chegou e com ela, a despedida do técnico Jorge Sampaoli. O nome do treinador é um dos temas que mais gera discussões e debates entre os torcedores alvinegros. O “ame-o” ou “odeie-o” parece ter virado quase uma obrigação nas redes sociais.
Sampaoli alcançou números expressivos no Atlético. Foram 45 jogos, sendo 26 vitórias, 9 empates e 10 derrotas, com 64,4% de aproveitamento, 1 título ganho (Mineiro 2020) e o 3º lugar no Campeonato Brasileiro.
Números e campanha no Campeonato Brasileiro
Ao analisarmos os números do Brasileirão fica notório que o grito de campeão ficou no “quase” para o atleticano. O clube ficou a apenas 3 pontos do título. A notícia boa foi que Sampaoli conseguiu recuperar a ofensividade que o torcedor alvinegro tanto sentiu falta. O clube acabou o campeonato com o 2º melhor ataque da competição, com 64 gols (média de 1,68% por jogo). Além disso, o resgate da força jogando em casa. O clube acabou o Brasileiro com a melhor campanha como mandante. Dos 68 pontos conquistados ao fim das 38 rodadas, 46 foram no Mineirão. Essa é a 2ª melhor campanha do Atlético jogando em casa na década, perdendo apenas para 2012, quando o clube conquistou 47 pontos.
O fato de o time ter o melhor desempenho jogando nos seus domínios, somado ao 2º melhor ataque da competição, mas não ter ganho o título, resulta em duas coisas: uma campanha pífia como visitante e um sistema defensivo nada sólido. Realmente, o que aconteceu! Jogando longe de Belo Horizonte foram 6 vitórias, 4 empates e 9 derrotas e apenas 22 pontos conquistados. Esta foi apenas a 9ª melhor campanha como visitante do Brasileirão. Na parte defensiva, o Atlético foi o 3º time entre os 10 primeiros que mais levou gols: 45 ao todo!
É inegável que o Atlético conseguiu, durante uma parte do campeonato, apresentar o melhor futebol. Um jogo ofensivo, tendo linhas altas, pressionando de forma incansável a saída de bola do adversário. Foi o time com o maior número de finalizações (619) e com o maior número de finalizações certas, em direção ao gol (253). O Atlético esteve, durante todo o campeonato, entre os clubes que mais roubavam bola no setor defensivo do adversário. Números que só fortalecem a fome de gol do time de Jorge Sampaoli.
O grande problema foi que essa “sede ao pote” acabou por prejudicar o time em algumas oportunidades. Faltava um equilíbrio entre os setores, defensivo e ofensivo, e Sampaoli não conseguiu corrigir isto. Exemplos, são as partidas diante de Botafogo, Bahia e Fortaleza, todas fora de casa. O que elas tiveram em comum? Os 3 venceram o Atlético, tendo muito menos oportunidades de gol, e jogando nos erros e espaços que o clube alvinegro dava.
Essas 3 partidas são utilizadas para exemplificar como Sampaoli insistia no erro e não buscava mudar sua forma de jogar. Outra demonstração para tal fato, a dificuldade que o Atlético apresentava contra equipes que abdicavam de atacar, como Sport em BH, ou Goiás fora.
O Atlético também apresentou o maior número de bolas cruzadas na área do adversário durante o Brasileirão. No total, foram 972 cruzamentos, porém apenas o 12º, entre os 20 times do campeonato, em aproveitamento neste quesito, com 21% de aproveitamento. A insistência em cruzar, para jogadores como Sasha e Vargas, que não tem como característica esse tipo de jogo, demonstrou sim ser uma falha!
Este problema mostre talvez um dos principais erros de Sampaoli nesses quase 12 meses a frente do Atlético: a montagem do elenco pensando em apenas um modelo de jogo.
Montagem do Elenco
O Atlético, ao acertar com Sampaoli, tinha uma certeza, precisaria refazer todo seu elenco. E foi isso que aconteceu. Dos 22 jogadores que foram relacionados para a primeira partida do time em 2020, contra o Uberlândia pelo Campeonato Mineiro, apenas 6 estavam no clube no último jogo, diante do Palmeiras.
As mudanças começaram a acontecer. Com Sampaoli escolhendo os atletas que não iria contar no grupo e os quais queria que fossem contratados, o então diretor de futebol Alexandre Mattos, com o apoio financeiro dos conhecidos empresários que aportam dinheiro no clube, começou a executar a tarefa. Diversos jogadores foram emprestados, outros tiveram seus contratos rescindidos e a engrenagem Atlético Mineiro, começou a girar.
A “Era Sampaoli” teve ao todo 11 contratações: Everson, Mariano, Bueno, Alonso, Alan Franco, Zaracho, Léo Sena, Marrony, Keno, Sasha e Vargas. Alguns nomes bastante conhecidos. Outros eram apostas. Tinham aqueles de confiança do treinador, outros indicados pela diretoria. E assim foi sendo montado o elenco.
O grande problema nas contratações, acabou sendo a utilização delas. Mariano, por exemplo, lateral experiente, com idade avançada e salário alto, foi pouco utilizado pelo treinador. O zagueiro Bueno, até então desconhecido da maioria, foi mais um pedido do técnico argentino que não foi aproveitado.
O que falar então da exigência pela contratação do chileno Eduardo Vargas, que pertencia ao Tigres do México e estava em final de contrato? O jogador possui um salário alto, realiza a mesma função que Sasha e Marrony vinham fazendo no time (que ainda teria a volta de Diego Tardelli) e ainda assim foi contratado. O jogador não conseguiu performar o que se esperava dele, acabando no banco de reservas nas partidas finais do Brasileirão.
Como já foi narrado anteriormente, Sampaoli acredita muito no seu estilo de jogo e não abre mão de sua proposta. Esse ponto foi muito importante também na montagem de elenco. Nomes de “camisa 9”, goleador, jogador de área, foram oferecidos algumas vezes para o técnico, que nunca aceitou, porém, a equipe continuava a cruzar bolas para a área, sentindo falta deste jogador.
Na reta final da competição, Keno sofreu grave lesão no cotovelo, ficando de fora de partidas importantes como Goiás, Fluminense e Bahia, onde o Atlético conseguiu apenas 2 de 9 pontos. Nestes jogos, Sampaoli precisou de um jogador do “drible”, para abrir linhas, características do jogador. Insistiu com Vargas e Sasha por ali, sem resultado. Ficou evidente a falta de opções para esta função.
Outro problema enfrentado por Sampaoli foi com a lesão de Nathan, no início do campeonato. O técnico não conseguia achar um substituto para fazer o que o meia vinha fazendo. Até que Hyoran, que vinha sendo pouco aproveitado, teve a chance e conseguiu exerce-la bem.
Final
Analisar o trabalho de um treinador com apenas uma temporada disputada, nesta situação, é difícil. No Brasil exige-se de treinador que ele dê resultado de forma rápida. Levar em consideração o número de contratações ou os valores pode também ser um erro, já que o elenco do Flamengo, Bi-Campeão Brasileiro ainda é muito mais caro. Para se ter uma ideia, apenas com o valor gasto pelo clube carioca para adquirir Gabriel Barbosa, o Atlético comprou Marrony, Zaracho, Nathan, Keno e ainda sobrou alguns trocados. O Galo, diferentemente do adversário rubro negro, precisou montar uma equipe e não apenas reforça-la.
As cobranças e análise ao trabalho de Sampaoli precisavam e precisam sim existir. O treinador não conseguiu fazer, com que sua equipe, apresentasse o futebol do início do Campeonato Brasileiro na parte final.
Um time é muito mais do que apenas um treinador. É diretoria, elenco, torcida… É confiança no trabalho que está sendo feito. Vejamos os próximos capítulos nessa história alvinegra!