O PERFIL IDEAL DO GALO PRA 2019

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É normal que as coleções de camisas de futebol sejam recheadas por números 9, 10, 7 ou qualquer outro escolhido pela turma da frente, os que balançam as redes adversárias. Curiosamente, no Atlético existe uma atração pelos mantos do setor defensivo; a camisa 1, do Victor, 3, de Leo Silva, e, por um tempo, a 5 do Pierre e 8 do Donizete, os volantes da garra. Entrei nessa estatística ao preferir os números citados e ainda incluí a 2, do Marcos Rocha.

Para quem é viciado em planilhas, aproveitamento de jogadores, números de jogos, gols, grandes feitos em temporadas, em estádios e marcas quase inalcançáveis, como eu sou, o Rocha tem um peso diferente nas nossas páginas. Passamos por um longo período à procura de atletas que se identificassem com o Atlético e escrevessem uma história diferenciada, porém, chegava dezembro e trocávamos quase todo o elenco para o ano seguinte.

Veio 2012 e iniciamos a montagem de um grupo que mudaria esse cenário. Entre os diversos atletas que alcançariam números fantásticos, estava o lateral direito que já havia sido emprestado para Uberlândia, CRB, Ponte Preta e América. Foram oito títulos conquistados, 306 partidas, 13 gols e mais de 50 assistências. No Horto, disputou 130 jogos pelo Atlético, desde a reinauguração,  é o terceiro jogador que mais atuou no estádio, sendo ultrapassado por Leo Silva há poucas semanas, e, ainda no Indepa, contribuiu para gols do time com 29 assistências, sendo líder no quesito.

Mas futebol é feito por ciclos. Desgaste com dirigentes, companheiros de time e torcida pesaram para que Marcos Rocha optasse pelo Palmeiras na temporada 2018. Assim como não foi fácil nos despedirmos de diversos ídolos nos últimos anos, ver Marcos Rocha com outra camisa trouxe uma sensação estranha. Entregamos de bandeja para o Palmeiras o destaque da posição na última década e vimos o discurso de economia cair por terra quando o limitado Patric se tornou o principal nome da posição, com direito a prorrogação de contrato e aumento salarial.

O tempo passou e eu sofri calado. O que era óbvio aconteceu e a titularidade incontestável de Patric chegou ao fim. Sem Alex Silva, emprestado para o Goiás, e Carlos César, emprestado para o Coritiba, recorremos a Emerson, lateral vindo da Ponte Preta, com passagens pelas seleções de base. No Alterosa Esporte, parabenizei o clube pelo reforço em um setor carente, apostando em um nome com enorme potencial para o futuro e com o perfil que precisávamos para justificar o discurso de iniciar um novo ciclo, como aconteceu em 2012.

As manchetes de uma possível volta de Marcos Rocha martelaram na minha cabeça durante todo o dia que deveria ser de folga, longe do futebol. Lembrei de um jogador que pediu “gente para correr em 2018, pois o time estava ficando velho”. Rocha completa trinta anos em dezembro, dez a mais que Emerson, que soprará vinte velas em janeiro. Entraria para a lista dos trintões do atual time titular, que conta com Victor (35), Leo Silva (39), Fábio Santos (33), Adilson (31), Elias (33) e Ricardo Oliveira (38). Ele ainda tem muita lenha para queimar, levantará taças e exibirá números invejáveis a outros laterais pelo país, porém é preciso analisar todos os cenários que envolvem um retorno do cara de carranca.

Apesar da carência de nomes nas laterais pelo Brasil, após os trinta anos e sem passaporte europeu, Rocha dificilmente será negociado por um valor acima do que receberemos do Palmeiras em 2019. Voltando para a Cidade do Galo, continuará perseguido por parte da torcida, além de desgastes internos no clube. Provavelmente, não aceitaria a reserva, mesmo se Emerson mostrar melhor desempenho e, analisando os últimos anos por aqui, desde 2014, lesões o deixaram de fora de várias partidas em todas as temporadas.

Emerson tem 19 anos, certamente irá errar vez ou outra por inexperiência ou por lances do dia a dia do futebol. O próprio Rocha é uma lição para o comportamento dos atleticanos quanto a isso. Infelizmente, selecionamos alguns nomes para cota extra de paciência nos períodos ruins do atleta. Outro fator que é preciso ser pensado pelos dirigentes ao analisar a possibilidade de contratação é a chance de negociação futura. Clubes, como o Atlético, com orçamento muito abaixo dos times do eixo Rio-São Paulo, precisam reduzir essa diferença errando o mínimo possível nos investimentos e apostando em peças com grande chance de venda futura para, no mínimo, cobrir o investimento inicial. Emerson é um jogador com esse perfil, além de despencar a média de idade de um time titular “velho”.

Sendo assim, por mais que veja Rocha muito à frente de Emerson atualmente, pensando no início de um novo ciclo no Galo 2019, apostaria no garoto de 19 anos. E, independente do destino de Rocha, nada apaga ou diminui tudo o que ele fez por aqui. Talvez ele, eu e você teremos essa noção no futuro, já que não temos o hábito de valorizar o presente. Obrigado por tudo, Rocha, mas agora é a hora do Emerson.

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