O PRIMEIRO PASSO PARA SETTE CÂMARA E RUI COSTA

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Chegou aquele período de certezas em dezembro. Presente ruim no amigo oculto, uva passa no arroz, chuva quando você saiu sem sombrinha, trânsito quilométrico para qualquer lugar da cidade, ficar ansioso pelo nome do novo treinador do Atlético. Acredito que o subconsciente tenha associado a experiência da escolha do novo técnico à chuva, uva passas e trânsito pelos traumas do passado. Vou conversar a respeito com o Gilberto, meu psicólogo. Enquanto não chega o dia da terapia, sente aqui no divã do Deus Me Dibre e relembre comigo as últimas vezes em que vimos esse filme e o motivo de associá-lo às películas de Hitchcock.

Como você definiria o Atlético dos últimos dois anos? Certamente teríamos dificuldade para descrever as principais características do funcionamento da equipe sem fatiarmos o calendário em várias partes. O time não tem cara, pois nunca sabemos qual é a identidade que queremos ao tomarmos decisões cruciais, como a contratação do técnico. Medidas paliativas são tomadas gerando um prazo de validade com, aproximadamente, três meses. Começou ainda em outubro de 2017 com o início de Oswaldo de Oliveira em clima de ressurreição no Brasileiro e o fim deprimente tomando sufoco do Atlético do Acre nos primeiros dias de fevereiro de 2018.

Veio o período de transição na interinidade de Thiago Larghi e logo surgiram os três meses bons no Brasileiro com o time sendo letal nas chances que criava. Passado o prazo, veio a intertemporada e a mesma equipe parecia praticar outro esporte. Não havia criação e o grupo não esbanjava qualquer reação para salvar a pele do treinador. Levir chegou com o Galo ofensivo, nos colocou na Libertadores e iniciou 2019 com o rodízio perfeito, classificado nas primeiras fases da Libertadores e utilizando reservas em vitórias no Mineiro. Janeiro, fevereiro, março e… Malditos três meses! Derrotas que custaram a eliminação na fase de grupos da Libertadores e atletas que mostravam superioridade apenas contra os adversários mais frágeis do estadual.

Anote aí, estamos em abril de 2019. Rodrigo Santana emplaca com vitórias no Brasileiro que fazem o atleticano sonhar com a conquista da competição após tantos anos. Elenco maduro, alcança a classificação na Copa do Brasil, cresce fora de casa, mas os noventa dias chegam e as onze peças de Santana se tornam um amontoado sem cara, sem cheiro, sem gosto. Vagner Mancini fechou o ano trabalhando em outubro, novembro e dezembro. Anotou quantos meses? Três!

Considerar que é apenas mera coincidência o ciclo curto de alta produtividade durar tão pouco é ignorar fatores óbvios, o que dificultam a correção e evolução. Não havia convicção de que Oswaldo era o homem certo para iniciar a temporada de 2018, mas ele ficou por já estar na folha salarial e tivemos uma pré-temporada em vão. Não trarei à discussão se Thiago Larghi e Rodrigo Santana têm qualidade para treinarem clubes de primeira divisão. O erro é não saber qual é a razão de efetivá-los no cargo, tomando a decisão apenas pelos poucos dígitos do salário depositados mensalmente e a fácil aceitação dos treinadores quando diretores empurraram reforços que não foram solicitados ou não se encaixavam na ideia proposta por ambos.

Hoje vamos para o norte, amanhã para o sul, semana que vem para o leste e em três meses para o oeste. Estamos perdidos por não termos utilizado a bússola quando começamos o trajeto; e o início da estrada é a escolha do técnico tendo algum motivo como referência. Nós, corneteiros de arquibancada, não sabemos descrever qual é a cara do Galo há dois anos e os responsáveis pelo futebol também não conseguiriam definir.

De volta à encruzilhada, precisamos definir quem será o dono da prancheta na próxima temporada. Quais questionamentos são feitos nesse momento? Soaria como música ouvir que Rogério Ceni é o melhor nome pelo trabalho apresentado no Fortaleza de transição da defesa para o ataque com a bola no chão e Rui Costa entende que nossas peças podem jogar dessa maneira, caso sejam exaustivamente treinadas assim. Como eu queria estar na mesa durante a conversa com Sampaoli para ouvir as vantagens capazes de convencer o gringo a vir para Minas. Perceber que finalmente o Galo tem um norte, sabe qual o motivo de cada decisão e qual será o próximo passo.

Os primeiros reforços já foram anunciados e dificilmente os responsáveis pelo departamento de futebol questionaram se Gabriel e Mailton serão úteis para o futebol proposto em 2020. Perguntar para quem? Carille, o Mailton é promissor, com facilidade para apoiar, driblar e conduzir a bola. Talvez o Atlético esteja comprando galões de gasolina para carro a álcool, estocando carne na casa de vegano, assinando o pacote do Brasileirão primeira divisão para cruzeirense. Investimento em vão, se não for corretamente utilizado.

Uva passas, trânsito, chuva e meia no amigo oculto eu até aguento, mas temer que os mesmos erros sejam cometidos novamente é demais para o meu Natal. Como o clima é de paz, reconciliação e esperança, eu sigo acreditando no Rui.

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