O QUE O CASO GUGA ENSINA AOS CLUBES?

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FOTO: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

Flamengo campeão da Libertadores. Existe cenário pior do que esse? Cláudio Rodrigues Gomes, conhecido como Guga no mundo do futebol, nos mostrou que existe. Quando Wolverine, dos X-Men, disse ao Charles Xavier que o mundo já não era mais o mesmo, acho que ele se referia a um jogador do Atlético comemorando título do clube de futebol que, com a ajuda de forças ocultas, mais sacaneou nossa instituição no passado. A alma de milhões de irmãos alvinegros que já nos deixaram arrepiou nesse momento. Eu nem era nascido quando o apito soprou, mas veio no DNA a obrigação de nunca deixar essa memória morrer.

Guga veio ao mundo em agosto de 1998, dezessete anos e oito dias após o desgosto do Serra Dourada, em 1981. Nasceu na capital carioca, terra abençoada por José Roberto Wright, Romualdo Arppi Filho, José de Assis Aragão, cresceu assistindo a programas de TV bem editados para que a sujeira do apito não ofuscasse a santa imagem que criavam de um galinho de quintino. Faltou abandonar o galinho e respirar o Galão das Minas Gerais, ver o time da infância campeão, mas lembrar que o grupo que ele faz parte ainda briga contra o rebaixamento, sentir-se frustrado por não garantir a titularidade, mesmo disputando posição com um dos menos populares entre a torcida.

De quem é o erro? Difícil definir, mas ele não é só do Guga, nem é exclusividade mineira, creio que começa lá nas categorias de base, quando atletas passam semanas confinados, tendo acesso somente aos aparelhos de celular e redes sociais. Assim como a maioria dos internautas, a meninada cresce tendo a certeza de que aquele é um espaço sem lei. Ao deixarem os centros de treinamentos, imergem na bolha do tapinha nas costas dos parças que consolam sempre que qualquer merda é feita. Para os amigos e familiares, o atleta nunca está errado, é sempre a vítima de uma injustiça cometida pelo clube, por dirigentes, por torcida ou pela imprensa.

Consolidada a carreira e apresentado em clube de série A, o jogador tem à disposição outra estrutura, contando com profissionais da instituição e o próprio empresário para errar o mínimo possível. O assessor não precisa sentar o reforço em uma cadeirinha de quinta série e passar horas falando sobre a história do clube para que o cara ganhe um diplominha de fanático de chuteiras. Só que o caso Guga deixa claro que não se pode receber atletas sem um mínimo de instrução sobre a camisa que irá vestir. Não consigo definir o método ideal por não conhecer tão bem o comportamento da boleirada no dia a dia, mas que seja um vídeo bem humorado de fácil envio no Whatsapp ou com certo capricho na edição inserindo trilha dramática quando mostrarem Márcio Rezende e Simon pelo nosso caminho. Apostila impressa ou o Reinaldo chutando a porta do quarto da concentração no melhor estilo Zé Pequeno. A psicóloga do CT pode indicar a melhor maneira, de acordo com o perfil do aluno.

Pode pegar mal para o clube? Existem meios de deixar esse processo extraoficial ou os próprios empresários podem instruir suas joias após as transações. Guga se complicou com a torcida e deixou companheiros de time em maus lençóis. Assim como todos se tornaram “baladeiros” quando Cazares virou a noite em uma festa e foi direto para a delegacia, os demais jogadores do elenco são “descompromissados” com o clube a partir de agora, segundo a teoria dos que generalizam. Por isso a necessidade do pedido de desculpas diante das lentes e testemunhas da imprensa na Cidade do Galo.

Os passos dados pela diretoria foram corretos. Afasta da concentração, foca na decisiva partida do final de semana e depois fala sobre o assunto. Pune financeiramente, se reúne com o representante e o coloca de frente para o time. Cabe à torcida ter a mesma sabedoria nesse momento. Cortar toda a bajulação, iniciada principalmente por coreografias nos gols de companheiros de time, mas refutar qualquer perseguição com o garoto de vinte e um anos. Atire a primeira pedra se você nunca errou. Eu já, inclusive com nosso Galo. Perdão é algo extremamente saboroso quando seus erros são esquecidos, mas se torna amargo quando é nossa a decisão de perdoar alguém. Ainda mais se envolve um verdadeiro pecado com o escudo do Atlético.

Caso exista dificuldade da sua parte em perdoar o jogador, pense nele como um ativo do clube. Diante da nossa delicada situação financeira, Guga, lateral de seleção em ano de Olimpíadas, é a porta para um Galo mais forte em 2020. Mas o melhor motivo ainda é o perdão, sem os tapinhas nas costas da bolha que ele vive, mas outra chance para que Cláudio Rodrigues Gomes mostre que pode contribuir com o Atlético, inimigo do clube do Right.

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