OS CINCO ANOS DE ABANDONO DA DEFESA

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Não importa se você curte um Fifa, PES, Brasfoot ou futebol de botão, provavelmente o foco do seu time sempre foi o ataque. Acontece também na vida real, no futebol de verdade, desde as peneiras, onde todo mundo quer a 10 ou a 9. Apresentar meia e atacante é mais chamativo, mais empolgante, o defensor é aquela obra que fica debaixo da terra e não dá voto para o prefeito.

O Atlético dos últimos anos tem sido assim. Robinho, Lucas Pratto, Judas Fred, Diego Tardelli e até na disputa por promessas, como Clayton, competimos com os milionários de Rio e São Paulo euro a euro, sem dó de gastar. Também ganhamos destaque nas manchetes com empréstimo, como o de Valdívia, sonho de vários times na época.

A fórmula não se repete lá trás. A lista de contratados para serem fiéis escudeiros de São Victor do Horto é pequena, fraca e de péssimos investimentos nos últimos anos. Ainda somos totalmente dependentes de um zagueiro de 39 anos contratado em 2011. Aliás, Leo Silva e Réver mostraram que é importante ter um gênio com a 10, mas não se chega a lugar algum sem torres de confiança lá trás.

Réver, em 2010, foi o último grande investimento por um zagueiro titular no clube. Já são oito anos desde então. O padrão é aproveitar jogadores escondidos em pequenos clubes (Ronaldo Conceição, Matheus Mancini, Tiago), sem contrato (Felipe Santana, Erazo) ou torcer para que surjam nomes na base (Jemerson, Gabriel), mesmo que contando com a “sorte” de lesões e suspensões para que eles tenham as primeiras chances.

Sentiu falta de um nome na lista? Talvez seja o de Otamendi, aliás, um ótimo nome. O melhor após Réver, em 2010, Leo Silva, em 2011, e Gilberto Silva, em 2013. O argentino ficou de fevereiro a maio e disputou dezenove partidas, cinco delas pelo Brasileiro, foi apresentado com data certa para se despedir. O último grande zagueiro apresentado para assumir a posição esteve aqui por quatro meses.

Vamos pela linha do tempo. Em 2014, dias antes de Otamendi ser apresentado, a torcida gritava “Edcarlos não”. OK, ok, o gol contra o Corinthians foi histórico, mas Edcarlos ficou por três temporadas no Atlético praticamente como reserva imediato. Não foram poucas as falhas nesse período. Ainda em 2014, os assistentes de Levir indicaram Tiago, que no final das contas só serviu como moeda de troca na negociação por Gustavo Blanco, em 2017. Foram apenas nove partidas disputadas somando as temporadas de 2014 e 2015. Quando teve mais chances, em 2016, percebemos que Tiago não era para um clube do tamanho do Atlético.

Não foi só na Copa do Brasil que o mundo do futebol nos abençoou em 2014. Após atuar em cinco partidas do Campeonato Mineiro, um zagueiro pouco falado na base embarcou para a disputa de amistosos na China. Otamendi já não estava no elenco, Réver tratava uma lesão e Edcarlos não passava confiança, sequência de fatos que fez Levir Culpi chamar por um tal Jemerson. Reza a lenda que Levir tinha dificuldades até para se lembrar do nome do menino lento para colocar o meião e a chuteira. Se Tiago tivesse desembarcado em Minas semanas antes, talvez tivesse sido o escolhido para entrar em campo.

Pronto! Problema resolvido para Alexandre Kalil, que tinha um zagueiro caseiro para o final do período como presidente. Daniel Nepomuceno conseguiu a proeza de não contratar um grande zagueiro sequer. Para a temporada 2015, aproveitou o que já havia de peças no elenco. Apenas Leo Silva, Jemerson, Edcarlos e Tiago estiveram em campo na equipe que sonhava com o título do Brasileiro.

Em 2016, Erazo, que não deixou saudades nas torcidas de Flamengo e Grêmio, foi o escolhido para substituir Jemerson. Estava sem contrato com os gaúchos após pedir um valor alto pela renovação. Quando Tiago deixou o clube, a diretoria “reforçou” o setor com Ronaldo Conceição, do River Plate do Uruguai. Edcarlos já não aparecia com a mesma frequência entre os relacionados. Gabriel foi derrubando a concorrência e contou com lesões de Leo Silva e Erazo para aparecer com frequência nas escalações e começar a preparar o terreno para se confirmar como titular na temporada 2017. Um parágrafo com Erazo, Ronaldo Conceição, Tiago, Edcarlos e você preocupado com o Rafael Carioca.

A impressão é que nenhuma lição foi tirada de tantos tropeços seguidos e apostas erradas. Parado há algum tempo para tratar lesão após passagem pelo Kuban Krasnodar, da Rússia, Felipe Santana foi apresentado com um eterno pedido de paciência, pois havia se destacado pelo Borussia sabe se lá em que ano. Um show de horrores do início ao fim da passagem pela Cidade do Galo. Bremer, contratado para o sub-20, atropelou os reservas e Matheus Mancini foi a outra aposta da temporada. Aposta é uma palavra que não faltou para a defesa, enquanto o meio e ataque ganhavam as manchetes pelos altos valores investidos, mesmo em atletas que, pela idade avançada, certamente não seriam negociados futuramente.

O setor continuava dependente de um Leo Silva inspirado e Gabriel começava a viver o pesadelo de altos e baixos com a camisa alvinegra. Mesmo sem o mesmo ritmo de outros anos, mesmo se aproximando dos quarenta anos, a renovação de Leonardo Silva era necessária, pois ele ainda era (e talvez seja atualmente) o principal homem da zaga. Presidentes, diretores e treinadores se esforçaram muito para que isso acontecesse.

Nos despedimos de Bremer e o treinador correu para os microfones para implorar por um zagueiro que chegue e vista a camisa de titular. Se pesquisar pelo histórico de ações dos dirigentes nos últimos anos, Larghi verá que é melhor se contentar com o que tem ou esperar por alguém encostado, em fim de contrato ou aposta. Temos, mais uma vez, uma das piores defesas do campeonato e, até o momento, a janela de transferências mostra que não aprendemos nada com as últimas temporadas. A defesa é um detalhe, apenas algumas peças para completarmos os onze em campo.

Vale investir muito em Chará, de 27 anos, o estrangeiro mais caro da história, mas não se cogita investir em um grande defensor. No Atlético, a gente segue jogando Fifa e Brasfoot na vida real.

Se esticarmos um pouco mais a pesquisa para entendermos o motivo de números tão ruins nos últimos anos, encontramos uma lateral direita com Marcos Rocha desfalcando a equipe por lesão em diversos jogos de várias temporadas e laterais tapa-buracos como opção. O que mais se ouve é que o reserva conseguiu “segurar as pontas”, “fazer o arroz com feijão”, o que é pouco para quem quer sair da fila de títulos do Brasileiro.

Na esquerda, Fábio Santos substituiu Douglas Santos, em 2016, e nunca houve um substituto para o careca. Leonan subiu com a necessidade de evolução em diversos fundamentos, Danilo foi contratado por ter se destacado em outra posição e foi utilizado na maioria das vezes em outra posição,  Mansur mostrou que contratos como o dele, de cinco anos, merecem uma CPI interna no clube.

Alexandre Kalil contou com a ajuda de terceiros para trazer Réver, um dos grandes zagueiros da nossa história. Foi esperto e pegou Leo Silva, dos maiores ídolos do Galo, em fim de contrato. Desde então, Daniel Nepomuceno colecionou péssimos nomes e a impressão é que Sette Câmara não percebeu a importância de uma boa defesa para sairmos da fila no Brasileiro. Por diferentes motivos, não temos nenhum zagueiro que inspire 100% de confiança atualmente. Não sou eu quem está pedindo reforços. É o seu treinador, Sette.

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