POR AMOR OU VAIDADE, SETTE CÂMARA?

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FOTO: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

A administração de Daniel Nepomuceno como presidente do Atlético esteve longe de se tornar padrão para outros clubes do Brasil. Exagerou nas despesas, não se preocupou em reduzir dívidas, mesmo com bons valores recebidos, não conquistou título de expressão, errou na demissão e contratação de treinadores e diretores e o time entregue no final da gestão pedia grandes mudanças para a temporada seguinte. Como atleticano criado em arquibancada, Sérgio Sette Câmara acreditou que poderia fazer algo melhor, colocando em prática a experiência dos vinte anos de bastidores no Atlético.

Na teoria até que é muito fácil, mas na prática é diferente. Dez jogadores apresentados no primeiro semestre, sete por empréstimo, apenas o lateral Emerson exigiu investimentos do clube. Dos dez, quatro já não estavam na reapresentação após a intertemporada. Sette mudou a fórmula no segundo semestre e apostou em convencer atletas a vestirem a camisa do Galo através de longos contratos.  Cinco anos para Denilson, Edinho, David Terans e José Welison, além de insistir nos empréstimos com Martin Rea, Leandrinho e Nathan.

Outra maneira eficiente de conter gastos foi forçando a eliminação da Sul-Americana na primeira fase da competição. O saldo positivo do torneio continental foi a entrevista concedida ao canal Fox Sports após a eliminação. Ali já víamos traços da resposta que buscamos na primeira indagação dessa crônica. Surgiu a vaidade ao expor a necessidade de ouvir a torcida ecoando o nome do dirigente nos estádios – “Esses que estão protestando aí, vão ser os mesmos que vão gritar o meu nome quando nós formos campeões e vão dizer que eu estava certo” – bradou, Sette. Vimos também a raiz que dificulta Sérgio de aprender a valiosa lição da autocrítica. “Hoje, o que eu tenho ouvido por aí é que o nosso time está sim, muito bem, está jogando bem” – afirmou o presidente após a eliminação da Sul-Americana, derrota na final do estadual, dias antes da eliminação na Copa do Brasil e queda livre no Brasileiro. Talvez, se os funcionários do clube deixassem a bolha em que vivem, entenderiam qual é a nossa situação. Como recebe tapinhas nas costas por onde passa, o dono da caneta se convence que o trabalho é bom. Quem ousa criticar dentro da Sede de Lourdes?

A metralhadora de pérolas não parou durante a entrevista. Logo após chamar torcedores de imediatistas, o presidente dispara “eu estou aqui para fazer um Atlético melhor”. Já são dois anos, Sérgio. Ainda somos considerados imediatistas? Você conseguiu fazer um Atlético melhor? Até o momento, seu único acerto é que a torcida gritaria seu nome no estádio, mesmo que de maneira diferente.

Sérgio, eu sei que isso doi em você, por diversos motivos, mas o time do Daniel conseguiria uma goleada acachapante contra o seu amontoado de jogadores. Você não melhorou o Atlético como imaginava, pelo contrário, temos a sensação de voltar à pior década da nossa história. Voltamos a fazer cálculo contra o rebaixamento, vemos atletas no elenco que não passariam dos portões do centro de treinamento da falida Portuguesa, perdemos o respeito reconquistado ao jogar em casa, colecionamos micos e eliminações precoces, desvalorizamos nossa marca, perdemos até mesmo o domínio do estadual, apesar da freguesia do concorrente. Aliás, levante as mãos para o céu e agradeça ao rival, pois é a crise do lado de lá que coloca uma nuvem de fumaça no péssimo trabalho feito na nossa instituição.

Levaremos anos para consertar o estrago produzido por Sérgio Sette Câmara, até o momento. Encontrar destino para peças que não serão aproveitadas e possuem longos contratos é a principal pedra no sapato para 2020. Estamos comendo poeira na tabela para Bahia, Goiás, Athletico e Vasco. Em campo, tomamos baile para Avaí, CSA, Fortaleza e cia ltda. Protestos censurados na arquibancada e o anúncio de um dos piores treinadores do país fecham as portas do inferno com chave de ouro.

Você construiu esse caos, Sérgio. O coração atleticano que bate em você consegue perceber isso? Não existe um mínimo de autocrítica? Você queria fazer algo melhor e não conseguiu, futebol não é a sua praia, continue contribuindo nos bastidores, mas deixe alguém reerguer o clube. Vai ficar no cargo até o final do mandato? Por amor ou vaidade?

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