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O Atlético está, no momento, encaminhando a concretização da transformação do seu futebol em Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Conforme adiantado por nossa reportagem, a ideia de contar com o grupo “The Football Co.”, encabeçado pelo norte-americano Peter Grieve, não avançou nos últimos meses, após diversas tratativas e sem que o empresário conseguisse mostrar que havia conseguido os recursos necessários para ser dono de 51% das ações.
Vale ressaltar que a ideia inicial da diretoria alvinegra era, sim, buscar um investidor estrangeiro que aportasse valor considerável para lidar com as dívidas, tanto do clube, quanto da Arena MRV. Mas a ideia acabou não avançando por vários motivos: além do já citado, que é a dificuldade de Peter Grieve em captar recursos, o “perfil” da dívida do clube afastou muitos investidores.
Perfil da dívida
Hoje, o Atlético tem uma dívida que, somando o montante da associação com as dívidas contraídas do estádio, chega a R$2,3 bilhões, a maior do futebol brasileiro. Grande parte desse valor (mais de R$800 milhões) está em dívidas com instituições financeiras (bancos como o Inter, BMG, Daycoval, Indusval, XP, BTG, Genial, etc), o que complica um pouco mais a situação do clube: são dívidas que não entram em processos como o de Recuperação Judicial, acionados por outras SAFs, como fizeram Cruzeiro e Botafogo.
Vale ressaltar que tais dívidas tem aval dos 4R’s. Por este motivo elas não entram em processo de Recuperação Judicial.
Outro ponto importante é a Arena MRV, que por conta de diversos fatores (como a pandemia) que aumentaram os preços da construção, precisou recorrer a duas emissões de Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI), um instrumento de captação de recursos destinados a financiar transações do mercado imobiliário, que totalizam uma dívida de aproximadamente R$450 milhões, também repassadas aos sócios proprietários da SAF.
Esse perfil de dívida pode representar uma certa insegurança para os futuros sócios da SAF, uma vez que, conforme informado pelos próprios gestores do clube, o novo clube empresa irá assumir toda a dívida do clube – e de forma solidária também seus proprietários, caso necessário, conforme o texto da própria Lei da SAF (14.193/2021, Seção IV).
A reportagem do Deus Me Dibre entrou em contato com o advogado Marcio Andraus, sócio do CCLA Advogados, para saber quais os riscos para os sócios da Holding que está sendo criada:
“A responsabilidade do sócio em uma S/A (e a SAF é um tipo de SA) está limitada ao valor das cotas que foram adquiridas, salvo se houver fraude ou confusão patrimonial. Em reclamações trabalhistas, se a sociedade não responder pelos débitos, há o risco da desconsideração da personalidade e responsabilização pessoal do sócio, mas isso é um longo caminho.”
Plano B vira plano A
Sem poder contar com um grupo estrangeiro para aportar dinheiro e se tornar sócio majoritário, coube à atual diretoria uma nova solução: vender 75% das ações da SAF para um grupo de investidores, que irão formar a “Galo holding”. A ideia é que um grupo de empresários atleticanos, encabeçados por Rubens Menin, assumam o controle do futebol e seus derivados.
Na última sexta-feira (7), em reunião do conselho deliberativo do Atlético, os empresários apresentaram a proposta: comprar os 75% por R$915 milhões. Esse aporte, a princípio, pode parecer convidativo para resolver os problemas do passivo circulante (aquelas dívidas que precisam ser pagas em curto prazo), mas esse valor já contempla o mútuo de R$315 milhões, valor aportado pelo colegiado dos 4R’s em outros momentos. O CEO do Atlético, Bruno Muzzi, confirmou essa informação em entrevista à rádio Itatiaia:
“O aporte inicial de R$915 milhões já contempla R$315 milhões de conversão da dívida de Rubens/Rafael e Ricardo Guimarães. São R$600 milhões que vão diretamente para o caixa da SAF.”
Além do colegiado dos 4R’s, o Atlético se movimenta para convencer empresários a entrarem no “Galo holding” como sócios. Alguns possíveis nomes já foram procurados pela diretoria, mas, segundo apurações da nossa reportagem, o atual nome de um dos interessados é o de Marcelo Patrus, empresário do ramo de transportes. Patrus deve entrar como pessoa física na sociedade e não através de sua empresa, informação inicialmente publicada pela rádio Itatiaia e confirmada por nossa reportagem. A tendência é que o empresário não invista grandes cifras no montante total do aporte.
Processo e due diligence
Agora, cabe ao Atlético apresentar a proposta aos conselheiros e aguardar pela aprovação. Enquanto isso, aos empresários interessados, caberá realizar a “due diligence”, ou seja, a identificação do negócio em detalhes para entender os riscos de realizar esse tipo de transação.