SEMPRE FOI A MASSA

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Queria eu comentar apenas os resultados bons, os de doce sabor, que não deixam meu travesseiro tão amargo por essas madrugadas. Cresci lendo Roberto Drummond equilibrando sempre suas opiniões, mas deixando claro que havia algo por trás dos resultados do Atlético. Hoje, seguro a mesma caneta na profissão de Drummond, mas deixei a poesia do preto e branco no passado. Como poetizar um casal sentado à beira da calçada cantando o hino se o título não é nosso? Me tornei um jornalista sóbrio e um atleticano chato.

Um inimigo do mundo mágico que envolve o Atlético, esse universo que nos embriaga, nos tapa os olhos e nos faz comemorar em meios às dores. Me tornei escravo do microfone que precisa espelhar a raiva da arquibancada nos programas diários. De repente, entre o hino e camisa, estavam as curtidas e os vídeos. Que porre, Roberto!

Nos últimos anos, limitei-me a falar sobre a fase do lateral careca, do volante pouco produtivo, do presidente mala pra caramba. A torcida saindo com a Charanga pelas ruas e no lugar do casal apaixonado cantando o hino, vejo o técnico e o assessor explicando o resultado.

Por isso peço, licença a todos vocês. Amanhã eu volto a falar sobre finanças, reforços e as dores da derrota, critico fulano, peço a saída do beltrano e estouro a veia do pescoço para me dirigir ao presidente. Coitado, às vezes acho que até desconto uns problemas da vida pessoal nele.

Hoje eu queria falar sobre a Massa. Eu não sei se, nessa noite, vocês fizeram os jogadores sentirem o que é vestir a camisa alvinegra, mas vocês levaram esse jornalista de volta ao Atlético do Drummond. Sempre foi mais do que resultado. Se fomos eliminados e continuamos cantando nossas canções, é porque vimos nosso verdadeiro Galo em campo. Aprendi que, no Atlético, a ferida pela derrota sara mais rápido que a ferida de ver apatia no gramado.

A apatia é um vírus e nosso amor não pode ser contagiado, mesmo que o ambiente seja insalubre. Que eles ironizem nossas canções e nossos gritos, afinal de contas, mesmo nos momentos de glórias, nós continuamos como referência para o outro lado. É que a Massa do Drummond é foda!

Amanhã a gente fala sobre o próximo adversário e a próxima competição. Hoje eu só queria encerrar a madrugada ouvindo o galo cantar aqui no terreiro ao lado. Em Minas é assim, sempre um casal para encerrar as noites nas calçadas entoando o hino. Nunca foi resultado, não é sobre quem calça a chuteira ou segura a caneta. Sempre foi a Massa!

Drummond, perdemos o Luciano na arquibancada essa noite. Ele estava lá, acreditando, cantando e atleticanizando o filho, explicando que o resultado era incerto, mas que era necessário deixar o estádio com o sentimento de missão cumprida. Mesmo para quem não o conhecia, não vai ser fácil continuar sem ele. É que nunca fui resultado, Drummond. Sempre foi a Massa!

IMAGENS: REPRODUÇÃO/INTERNET

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