Venda do Shopping é questão de tempo?

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FOTO: PEDRO SOUZA/ATLÉTICO

A internet é uma fábrica de “tudólogos”. Para não ficar de fora das discussões da timeline nas redes sociais, opinamos sobre economia, beisebol, tratamento de doenças, reprodução dos camelos albinos da Malásia, entre outros assuntos que o brasileiro já é especialista há muito tempo – como o futebol. Cada vez mais, falando para um ou um milhão de seguidores, a opinião pede pressa, tem que ser para ontem, mesmo que a chance de erro seja maior. Ficar em cima do muro não é opção.

O Atlético deve vender o shopping Diamond Mall? Minha resposta sempre foi “não sei” e isso é um pecado capital para comunicadores na era da timeline das opiniões virtuais. Sempre achei muito atrativo encerrar as dívidas, exceto as tributárias, e resetar o vídeo-game para o período pós Arena MRV. Com o estádio mais moderno do país em mãos, você continua com um patrimônio alto e se livra da bola de neve dos juros anuais. Tive essa convicção por meses, mas o tempo passou e eu sofri calado. Não deu para tirar o Afogados do pensamento. Como seria o resultado do empreendimento nas mãos de um clube de futebol que não sabe administrar nem mesmo o futebol? Shopping continuará atrativo na troca da minha geração, a que está só dando uma olhadinha, pela geração e-commerce? O fato de termos mais interrogações que exclamações me deixou observando as opiniões de cima do muro, mas a sensação é que a decisão já está tomada.

O Diamond só não é mais rentável que o Morumbi, entre os shoppings administrados pela Multiplan, uma verdadeira mina de “diamante”. Dias após a efetivação da venda de 50,1% pelo Atlético, a Multiplan anunciou o investimento de R$ 68 milhões para a ampliação do Diamond. Com a criação do quarto andar, previsto para inaugurar no final de 2021, o shopping receberá 49 lojas a mais. Parte do dinheiro, poupado na própria negociação com o Galo, já que o percentual do faturamento repassado ao clube cairá de 15% para 7,5%, de 2022 a 2026. Usando como base o balanço de 2019 (ainda não divulgado), economia de 5 milhões por ano. Matemática simples e nem precisa ser tudólogo: 20 milhões a menos repassados para o Atlético, fora a prorrogação do arrendamento até 2030.

A gigante que administra shopping está investindo em… shopping. Opa! Sinal de que os estudos apontam para a permanência da clientela. A pulga atrás da orelha é pelo alto investimento da companhia em algo que ela terá “apenas” 50,1% a partir de 2030. Talvez a Multiplan já tenha percebido ou ouvido o que é inevitável: o Atlético venderá o Diamond. Falta decidir a data. Quanto tempo até convencer centenas de conselheiros, frequentadores de shoppings há décadas, de que essa é a melhor opção? Dessa vez, não há o discurso de construção da Arena MRV. Com o Galo pacificado, a batalha não será fácil, em ambiente de stress político, fica praticamente impossível. Em entrevista ao jornalista Rodrigo Capelo, Sette Câmara colocou panos quentes em um possível atrito com Alexandre Kalil ou o Castellar Guimarães filho, presidente do Conselho Deliberativo. A bandeira branca poderia selar a paz e a venda.

Há anos, dirigentes usam o patrimônio como muleta para um endividamento maior. “Se tudo der errado, tem o Diamond”. A cada ida aos microfones, Sérgio Sette Câmara faz questão de repetir que os juros sufocam o clube e que se desfazer de patrimônio para zerar a dívida é uma possibilidade. Quando era parceiro, Alexandre Kalil era a favor da venda do Diamond. “Se shopping fosse bom, Barça e Real teriam cinco”, afirmou o prefeito da capital mineira durante a votação para a venda de 50,1%. Dois anos depois, já em um cenário político conturbado no clube e opositor a Sette Câmara, Kalil publicou, no Twitter, uma opinião contrária à venda.

 

A solução para pagar a dívida, principalmente com Ricardo Guimarães, é vender o patrimônio? No dia 19 de dezembro de 2005, o então presidente do Atlético, Ricardo Guimarães, recebeu o parecer do Conselho Fiscal com o seguinte trecho:

“Contudo, sentimo-nos no dever de alertar o Conselho Deliberativo para a delicadíssima situação econômico-financeira do Clube Atlético Mineiro, notadamente quanto à conta “empréstimos com terceiros”, cujos juros vêm sendo mensalmente capitalizados, em decorrência da falta de capacidade de pagamento do clube.

Parece-nos que, a persistir a presente situação, a dívida do CAM para com terceiros tornar-se-á impagável, o que resultaria, ao cabo, em cessão de patrimônio imobiliário do clube, solução totalmente desaconselhável”.

Pouco abaixo, o documento destaca o aumento da dívida com Ricardo Guimarães em 67,99%, um salto de R$ 18 milhões, no período de nove meses. Quanto cresceu quinze anos depois? Para preservar o patrimônio, o documento de 2005 aconselha um plano de amortização das dívidas. O que fizemos? Aumentamos a “RG dependência” com o acréscimo da “Menin dependência”. Sempre que sente dor, o Galo aprendeu a pedir morfina aos mecenas atleticanos. A cada eliminação para Unión e Afogados, mais morfina, mais um metro quadrado do shopping indo por água abaixo para quitar tanto empréstimo. A previsão de gastar R$ 20 milhões com contratações na temporada foi para o espaço. Gastaremos muito mais e arrecadaremos muito menos. A conta não fecha. Aliás, ela é certeira!

O Diamond Mall será vendido, decisão que já ultrapassou a fronteira dos favoráveis e contrários à decisão. Se não for amanhã, na semana que vem, daqui a alguns anos. Melhor a gente falar sobre a reprodução dos camelos albinos da Malásia.

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