VIVEMOS UM MUSEU DE GRANDES NOVIDADES

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FOTO: BRUNO CANTINI/ATLÉTICO

Tenho usado esse espaço como um psicólogo que não desconta nada no cartão de crédito, mas também não garante restituição no imposto de renda. É que eu cheguei em uma fase da vida que você pega algumas fotos do passado, dá boas risadas, mas pensa – fiz merda! Vale para todas as áreas, mas como eu vivo Atlético 25 horas por dia, vamos aos erros do passado quando o assunto é Galo.

Comecei a assistir vídeos registrados pelo Camisa Doze no Mineirão, Arena do Jacaré e Independência e me assustei com imagens de todo tipo de protesto, principalmente na Sede de Lourdes. Desejei muito não viver mais aqueles dias, mas encaramos agora um período de turbulência que pede reflexão. Raciocinar quando o mar está calmo é fácil, difícil é garantir a lucidez quando as ondas ameaçam virar a embarcação.

Antes de prosseguir, reforço meu orgulho por ter participado de vários desses protestos, como a luta contra a proibição da faixa ‘Vergonha na cara’ nos estádios, no início de 2012. Outros, como em 2011, quando carregamos caixões levando nomes que dedicavam todo o dia a dia para tirar o Galo das cinzas, me fazem refletir se não existe o risco de o futuro repetir o passado e vermos um museu de grandes novidades.

A internet trouxe grandes benefícios, acelerou a velocidade da informação, mas também intensificou a ansiedade e antecipou datas de validade em tudo, de piadas a qualidade dos atletas. Você ri de um meme pela manhã e à tarde não suporta mais vê-lo em destaque na grande rede. O jogador que chamava a atenção nas categorias de base certamente não vingará no profissional diante dos quinze primeiros minutos em campo e isso merece uma postagem para oficializar o fim precoce de uma carreira.

Para exemplificar o cenário do moleque da base, vamos ao novo reforço do Everton, na Premier League. Bernard foi o destaque do Galo na Taça BH de 2011 e finalmente ganhava as primeiras chances com Cuca na posição de origem. Quando não ia bem, era taxado por alguns de nós, torcedores, como um fracote que não sabia sequer finalizar e por isso não chegaria a lugar nenhum. Não estou sendo o juiz da corte que analisa erros de terceiros e mostra como sempre teve uma opinião fria e sensata. Eu também julguei o nanico de maneira errada por diversas vezes e é sobre isso que o texto fala, o risco de a própria torcida implodir o clube em momentos de intolerâncias nas turbulências.

Enquanto Bernard garantia a velocidade no ataque, Réver era a nossa segurança na defesa. Só que até erguer a desejada taça da Libertadores, o capitão viveu um verdadeiro inferno por aqui. Não se trata de ignorar desempenhos de jogadores quando eles se tornam péssimo custo-benefício para a instituição ou deixar de criticar nos momentos ruins. O que prego aqui não é a ausência da comunicação, mas sim a forma como se transmite a mensagem. Não deveria ser assim, mas a força da dupla teclado e mouse tem sido mais forte que muitas duplas de ataque, não só no futebol nacional, mas em todo o planeta. Cada vez mais, os presidentes cedem às pressões, mesmo em situações com a total certeza de que era possível reverter o cenário.

Deixei a área da imprensa, matei a saudade da arquibancada contra o Internacional e ouvi veredictos sobre o lateral Hulk, 19 anos, Emerson, 19 anos, Iago Maidana, 22 anos, Nathan, 22 anos, Terans, 24 anos. Para muitos ali, peças que não poderiam vestir o manto alvinegro e deveriam deixar o Atlético no dia seguinte. Desculpe ser repetitivo, mas não tento blindar donos de contratos milionário. Porém, se qualquer um desses jogadores vier a se destacar em outro clube futuramente, daremos os créditos a treinadores, estrutura para trabalho, menos à paciência necessária encontrada por ele ao vestir a nova camisa.

Aliás, sobre contratos, vale criticar também quem distribui cinco anos de contrato a cada janela de transferências sem olhar para trás e ver como isso já nos trouxe prejuízo. Mas dizer que essa decisão “jamais foi vista na Cidade do Galo e que estão acabando com o clube” é ignorar os tropeços de Alexandre Kalil e Eduardo Maluf, responsáveis por Mansur, Pedro Botelho, Emerson Conceição, Didira, Cambalhota, Juninho, Leonardo e tantos outros.

Eles erraram, mas trouxeram títulos? Por que não poderia acontecer o mesmo com o atual presidente? Aprender como desvalorizar competição internacional sai caro, aprender com o treinador demitido após a pré-temporada, o empréstimo do melhor lateral do país em troca de três nomes que não terminaram a temporada no elenco. É exatamente sobre isso, sobre o meio da balança, saber que o Sérgio Sette Câmara errou em diversas áreas, mas que pode corrigir futuramente. Não adianta pedir para o turco voltar, pois ele não vai, principalmente por ter deixado a saúde na cadeira do presidente após tanta hashtag #ForaKalil.

Nós éramos precoces e tentamos achar justificativas para mostrar que agora estamos certos. Talvez estejamos realmente ao dizer que o Sette Câmara não levantará um grande título, mas tudo é hipótese para os seis anos de comando na Sede de Lourdes. Emerson, o lateral desengonçado, pode nos fazer esquecer o lateral embrulhado de presente para o Palmeiras; assim como foi com o desengonçado Jemerson, que também enfrentou críticas nas primeiras oportunidades, muito antes da conquista da Recopa 2014.

Nomes que podem surgir, nomes que podem ser recuperados, nomes que podem cair no esquecimento. Cuidado, pois talvez as suas e as minhas ideias podem não corresponder aos fatos. Que a gente possa controlar a maluquez misturada com a lucidez.

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