Direto do gramado: é isso que o Atlético deseja para 2024?

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É da cultura do brasileiro olhar somente o resultado e ignorar o campo por completo. No Brasil, perdemos muito mais tempo discutindo arbitragem, especulações sem nenhuma lógica, declarações normais, mas que são repetidas até que alguém consiga ver algum tipo de polêmica vazia, ou até falas que são claramente desvio de foco. E por gastar tanto tempo e energia com coisas tão fúteis, pouco se fala sobre o que é mais importante: falar sobre o futebol praticado pelos times, falar sobre aquilo que os clubes apresentam, por muitas vezes um ruim e de baixo nível técnico.

O Atlético não foge disso. É um time que rotineiramente joga mal, mas como aqui pouco a gente conversa sobre desempenho, vale mais o aproveitamento, a situação fica cômoda para Luiz Felipe Scolari e tantos outros treinadores que entregam times que jogam mal, no entanto que conseguem alguns bons resultados, afinal estão enfrentando um monte de outras equipes ruins e/ou mal treinados. Porém, como se se dá muito mais destaque para o resultado, mesmo que o desempenho indique o time não será capaz de manter por um longo tempo a sequência positiva, a série recente de bons placares já foi o bastante para mascarar o futebol ruim do Galo. Antes do duelo com o então lanterna do Campeonato Brasileiro, o Coritiba, o Galo somava uma série invicta de cinco partidas, sendo quatro vitórias e um empate. Um gol sofrido em cinco jogos.

Números bons, resultados melhores ainda. Mas e o campo? O que o campo nos dizia sobre o Atlético do Felipão? Neste domingo fiz ponta para a Equipe Show Transamérica (uma expressão do rádio para o repórter que acompanha a partida atrás do gol), e do gramado da Arena MRV fica ainda mais fácil perceber o desempenho ruim do time, que nesta noite ganha destaque por causa da primeira derrota no novo estádio. Mas fica uma dúvida: qual a diferença do futebol apresentado pelo Atlético diante do Coritiba para aquilo que mostrou diante do Bahia, do Santos, do Cuiabá e do Inter? O triunfo sobre o Botafogo, a meu ver, foi o bom jogo desde a chegada de Felipão à Cidade do Galo.

O Coritiba foi melhor do início ao fim do jogo. Tanto que o Atlético fez 1 a 0 com Hulk, aos 14 minutos do segundo tempo, mas aos 19 a partida já estava empatada e com justiça. A virada era uma questão de tempo, afinal o Galo não conseguia criar, num 4-2-4 inventado por Felipão. Primeiro com Igor Gomes ao lado de Hulk, enquanto Paulinho e Pavón estavam nas pontas. Depois, no desespero, o Atlético teve Paulinho e Alan Kardec centralizados, com Patrick e Hulk pelas pontas.

Eu sempre gosto de olhar para o campo, de analisar o jogo, afinal um time que joga bem está mais próximo de vencer, embora essa obviedade não seja tão óbvia para muitos, que defendem futebol pobre puramente pelo resultado, mesmo que esse futebol pobre não sustente os resultados no longo prazo. E destaco nas transmissões da Transamérica, e não é de hoje, como o futebol do Galo não condiz com os resultados entregues recentemente pelo time de Felipão.

Mesmo contra a pior defesa do Brasileirão o Galo pouco criou e o treinador alvinegro teve a coragem de elogiar o bom sistema defensivo do Coxa, que sofreu 54 gols em 26 gols. Não fosse o erro de posicionamento de Jean Pedroso, que deixou Hulk sozinho dentro da área, possivelmente o Coritiba não sofreria nenhum gol. Tanto é que o jovem zagueiro de 19 anos foi consolado pelos companheiros de defesa após o lance. Numa noite que caminhava para ser perfeita, com a chance de retomar à zona de classificação para a próxima Libertadores após 15 rodadas, o resultado foi dentro daquilo que o campo do Atlético tem demonstrado.

Após mais um jogo ruim do Atlético sob o comando de Felipão, deixo duas perguntas no ar: é isso que o Atlético deseja para 2024? Com ou sem vaga na Libertadores, esse futebol satisfaz quem comanda o Alvinegro?

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