Durante a minha carreira como jogador de futebol, falei pouco e me preparei menos ainda para outra ocupação no pós-carreira.
Um dos motivos é que sempre estava focado em melhorar minha performance para o próximo jogo, o que tomava todo o meu tempo e pensamentos em relação à minha carreira, do primeiro ao último dia da temporada. Eu mantinha uma rotina intensa de treinamentos em busca da perfeição, que sabia ser inatingível, mas era necessário trabalhar constantemente para se destacar no futebol. Isso resultaria em diversos benefícios, como entrar para a história de um grande clube, conquistar títulos e alcançar estabilidade financeira, entre outros.
Viver no mundo do futebol é maravilhoso, exceto quando não se conquistam os três pontos (risos). Respirar futebol vinte e quatro horas por dia é incrível. A camaradagem, a liberação diária de endorfina após os treinos e a adrenalina em dias de jogos são incomparáveis. É nesses momentos que tudo acontece. No entanto, às vésperas das partidas, precisamos ter cuidado para não nos teletransportarmos mentalmente para o campo de jogo, o que, inconscientemente, gera gastos de energia não só emocional, mas também física. Isso, certamente, faria falta durante o jogo.
Sabe qual é o pior de todo esse misto de emoções e estresse físico a que somos submetidos quase diariamente? É esplêndido, intenso e viciante. É verdade que ao final da temporada eu me sentia um pouco saturado com tudo isso, mas bastavam dez dias de descanso, e eu já não aguentava mais ficar parado. Logo, reiniciava a rotina de treinamentos para a próxima temporada.
No meu caso, isso aconteceu quase sempre ao longo das dezesseis temporadas como profissional. No entanto, a realidade é que entramos no mercado da bola aos doze ou treze anos de idade. Claro, não com tantas responsabilidades como posteriormente, muitas vezes agindo de forma inconsequente, mas é nessa fase que começamos a compreender o verdadeiro significado dos três pontos e as consequências da perda deles.
Assim, desde a pré-adolescência, começamos a moldar nosso corpo e mente para suportar as intensas cargas físicas e emocionais que enfrentaremos ao longo de nossa carreira. Nesse momento, às vezes, o estudo passa a ficar em segundo plano, devido principalmente ao cansaço dos treinos, enquanto nos esforçamos para melhorar nosso potencial técnico e físico, superando nossos próprios limites.
Nessa fase, já sabemos o que queremos para a vida, embora tenhamos dúvidas sobre nossa capacidade. No entanto, a dúvida não é uma opção. A imersão deve ser total, e é assim que conseguimos superar a primeira e altamente competitiva etapa de uma carreira de jogador. No futebol de base, o nível de competição é absurdo e muitas vezes desleal. É uma guerra esportiva, onde o funil é estreito, e apenas um entre sete mil jogadores se torna profissional.
Minha estreia ocorreu aos dezessete anos de idade pelo União São João de Araras, no Campeonato Paulista de 2000. Até então, achava essa etapa a mais difícil e assustadora, embora eu ainda não conhecesse o que estava por vir após a carreira.