
O Cruzeiro terminou 2016 livre do rebaixamento após uma campanha de tormenta e, de forma surpreende, chegou às semifinais da Copa do Brasil sendo eliminado para o Grêmio, que viria a conquistar o título. Naquele ano ficou claro a fragilidade da equipe e a necessidade de um jogador para liderar e assumir a responsabilidade de ser o para-raio de um time instável. Arrascaeta começava a se afirmar e teve números impressionantes, Rafael Sobis chegou para trazer experiência e Robinho era um talento que passava muito tempo no DM. Em janeiro de 2017, Thiago Neves foi anunciado após uma novela e quase cancelamento do negócio com o jogador a caminho da apresentação (sim, isso aconteceu).
Em campo, o começo foi oscilante. Após 4 anos nos Emirados Árabes, jogando em média 28 partidas por ano, o aspecto físico nitidamente pesava. Chegou ao ponto de ser vaiado, na derrota em casa contra a Chapecoense, na 4ª rodada do Brasileiro. A partir daí, o jogo virou. Thiago foi se tornando o principal jogador do Cruzeiro, tirando a pressão dos ombros do Arrascaeta e aparecendo em diversos momentos importantes. Com personalidade para crescer em jogos grandes, liderou a equipe rumo ao penta e foi bola de prata do Brasileiro.

Thiago Neves foi bola de prata no Brasileiro de 2017.
Thiago foi o dono do time em 2017. Em 57 jogos, marcou 17 gols e distribuiu 14 assistências. No Brasileiro, esteve diretamente envolvido em 18 dos 47 gols marcados pelo Cruzeiro (38,2%). Com números expressivos, a expectativa era de um 2018 ainda melhor, mas não foi isso que aconteceu. E aí que entra a necessidade de ter uma sombra para estimular a competição e o jogador não entrar na zona de conforto. Thiago é um cara decisivo, gosta de jogos grandes, mas, diferentemente de 2017, tivemos Libertadores em 2018, uma competição a mais e que todo jogador quer disputar. Com o excesso de jogos, o rodízio precisava acontecer e o Thiago admitiu que tinha dificuldade em focar no Brasileiro (confira aqui).
Thiago Neves na Temporada (2017)
57 jogos 17 gols (1° do time) 14 assistências (1° do time) 162 finalizações – 82 ✅/80 ❌ (1º do time) 101 assistências para finalização (1° do time) |
Thiago Neves na Temporada (2018)
54 jogos 14 gols (1° do time) 2 assistências (7° do time) 120 finalizações – 49 ✅/71 ❌ (1° do time) 69 assistências para finalização (3° do time) |
Apesar do número de gols não ter ficado tão abaixo em relação ao ano anterior, nota-se uma queda vertiginosa no desempenho do atleta em termos de finalização, assistências para gol e passes para finalização. Além disso, entre o gol marcado contra o Racing pela última partida da fase de grupos da Libertadores e o gol marcado contra o Flamengo pelas oitavas de final da mesma competição, Thiago teve um hiato de 11 partidas sem balançar as redes ou dar um passe para gol. Esse jejum voltou a se repetir entre o jogo contra o Bahia, pela 19º rodada do Brasileiro e a final da Copa do Brasil contra o Corinthians, totalizando 10 partidas sem gol ou assistência. É verdade que, apesar do jejum, o camisa 30 apareceu na hora certa e foi decisivo nessas partidas. Porém, a temporada irregular sinaliza a necessidade de se pensar num estímulo a mais. Essa “motivação” vai além dos salários, premiações ou qualquer outro aspecto financeiro. Sabemos que os jogadores são mimados e vivem num mundo paralelo à realidade normal. Infelizmente, é o cenário brasileiro e até mundial. A competição afasta a acomodação e no nosso elenco não há nenhum jogador com características capazes de ameaçar a titularidade de Thiago Neves dentro do sistema 4-2-3-1 adotado pelo técnico Mano Menezes.

Seria a hora de abrir disputa entre Robinho e Thiago Neves? Foto: Vinnicius Silva/ Cruzeiro E.C
Comentei que essa sombra pode ser um meia para jogar centralizado ou até mesmo um velocista, deslocando o Robinho para ser o “cara” a disputar posição numa zona do campo que ele próprio admite preferir. E motivos para isso não faltariam, Robinho atuou em 58 partidas no ano, marcando 4 gols e distribuindo 10 assistências. Foi, ao lado de Arrascaeta, o principal garçom do time. Além disso, também foi responsável por 118 passes para finalização, atuando pelo lado direito, posição que sacrifica seu futebol.
Thiago é um jogador de grupo, gosta de jogos grandes e é decisivo. Foi assim na final do Mineiro, nos jogos contra La U, Vasco, Racing e Flamengo pela Libertadores, além da importante participação na Copa do Brasil, onde esteve envolvido em 5 terceiros passes (o anterior a finalização) que geraram gols do Cruzeiro. Quem não se lembra dos tentos anotados por Hernán Barcos contra o Palmeiras? Todos tiveram início nos pés de Thiago Neves. A partida realizada contra o Corinthians no Mineirão também ficou marcada. Sem Arrascaeta, o camisa 30 assumiu a responsabilidade e todas às jogadas de perigo (incluindo o gol) passaram por ele. Não sou ingrato, quero sua continuidade, mas também não posso fechar os olhos para sua oscilação ao longo da temporada. Se fisicamente o atleta já dá sinais de que pode eventualmente estar em declínio, então que seja buscado outra peça para revezar com ele e assim garantir sua plenitude para partidas importantes em 2019, algo que não faltará.
Saudações celestes!
#MeDibre