FOTO: REPRODUÇÃO / CRUZEIRO E.C.
O Cruzeiro oficialmente se tornou uma Sociedade Anônima do Futebol quando, no último dia 26 de novembro, foi registrado junto ao Cartório do 9º Tabelionato de Notas a Escritura Pública de Constituição da SAF. O documento de 46 páginas é público e pode ser consultado por qualquer pessoa que comparecer ao cartório onde está registrado. Nele é possível observar os detalhes que constituem a Sociedade Anônima de Futebol da Raposa.
Representado pelo atual presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, a construção desse que será o estatuto da SAF passou pelo advogado Bruno Volpini Ramos, também citado no registro. Respeitando as diretrizes da Lei 14.193/2021, que trata justamente da transformação do clube-empresa em SAF, o clube aguarda a liberação do novo CNPJ para dar início às tratativas e notificar as federações – tanto FMF, quanto CBF, CONMEBOL e FIFA – sobre a transferência do futebol do clube (tanto amador, quanto profissional) para o Cruzeiro SAF.

Página inicial do registro do Cruzeiro SAF. (IMAGEM: reprodução)
Como já noticiado pelo portal ge.globo, o Cruzeiro SAF é registrado com um capital social de R$22.990.000,00 e esse valor se dá a partir do somatório dos direitos econômicos e federativos dos atletas que hoje pertencem à categoria de base do Cruzeiro, sendo esse o atual “patrimônio” do Cruzeiro SAF.
A princípio, com a associação Cruzeiro detendo a totalidade das ações do Cruzeiro SAF, o atual presidente Sérgio Santos Rodrigues também é o executivo responsável pelas tomadas de decisões. Sérgio também faz parte do “Conselho de Administração”, junto com o conselheiro e ex-presidente Alvimar de Oliveira Costa e com o conselheiro e empresário Paulo Henrique Pentagna Guimarães (Banco BS2). Esse conselho tem o mandato de três anos, conforme estipulado na escritura. Mesmo tempo para a “Diretoria” do clube, formada também pelo presidente Sérgio Santos Rodrigues e por Edson Potsch.
Apesar do período de três anos ultrapassar o período de mandato do atual presidente Sérgio Santos, o advogado Bruno Volpini Ramos falou sobre um possível “conflito” entre os estatutos em entrevista à rádio 98FM. De acordo com Bruno, isso é algo que pode ser alterado pelo próximo presidente do clube ou pelo próprio investidor.
“Eu entendo que não é um conflito. O presidente do Cruzeiro pode nomear e destituir quem ele quiser, enquanto o Cruzeiro deter 100% da SAF. Se o mandato do Sérgio acaba ano que vem e o presidente José for eleito, o presidente pode determinar no dia seguinte que o Conselho de Administração seja trocado. Eu não me preocuparia nesse momento com esse tipo de questão. Nós temos que preocupar em possibilitar que o Cruzeiro receba investimento. Nós temos que preocupar que o estatuto do clube permita essa alteração de controle. Nós temos que dar ao investidor todas as possibilidades para investir no Cruzeiro. Lá na frente, se o investidor tiver a maioria, o investidor vai colocar quem ele confia. O próximo presidente pode mudar todos os membros do conselho de administração, todos os Diretores e todos os membros do Conselho Fiscal. Inclusive, o estatuto pode ser mudado, se for determinado pelo investidor, ele pode ser alterado. O que não pode deixar de ter são as estruturas de administração.”
Apesar de não se configurar, inicialmente, como uma empresa de capital aberto, que negocia suas ações de forma individual, ficou estabelecido 22,92 milhões de ações ordinárias (valor correspondendo ao atual capital social da SAF) no valor de 1 real cada uma. Essa ações, indivisíveis, correspondem cada uma a 1 voto nas deliberações de uma Assembleia Geral, participam da distribuição de lucros e conferem “prioridade no reembolso do capital” caso a SAF se dissolva por algum motivo.
A parte que trata das ações é importante pois, diante da possibilidade de alteração do estatuto para que a associação Cruzeiro deixe de ser “majoritário” na SAF, o clube consequentemente terá um poder menor de decisão e interferência na empresa. E é justamente o que seria um fator atrativo para conseguir um investidor para o clube.
Conselheiros e associados irão votar, no próximo dia 17, uma alteração que permita que a associação Cruzeiro seja participante de, no mínimo, 10% da SAF e não 51%, que é o que determina o estatuto atualmente. Bruno Volpini, ainda em entrevista à rádio 98FM, também falou sobre a necessidade dessa mudança de porcentagem de alienação.
“Ninguém vai colocar 500, 600 milhões no futebol e não ter o controle da gestão. E não ter sobre as suas rédeas aquilo que ele está aportando. Ninguém queima dinheiro. O conselheiro precisa tomar essa consciência, se o Cruzeiro não mudar o estatuto, não alterar essa condição de que hoje só é permitido a alienação de 49%, ninguém vai investir no Cruzeiro. Não adianta o trabalho que foi desenvolvido de constituição da SAF. A SAF é um veículo de investimento. Até dia 31 de dezembro, estamos em um período pré-operacional, preparar a estrutura para que possamos conversar e discutir aportes financeiros, entrada de investidor.”
Uma das grandes preocupações da torcida sobre a transformação do futebol do clube em SAF também é tratado nas disposições finais da escritura. Questões como escudo, marca, cores e demais aparatos que identificam o Cruzeiro como ele é hoje, estão estabelecidos no artigo 63. Cores oficiais do clube, fontes, escudo, bandeiras – e suas proporções, regidos pelo atual Manual de Identidade Visual do Clube – bem como marcas e nomenclaturas ligadas ao Cruzeiro, como Toca da Raposa e outros estão protegidos pelo que virá a se tornar o estatuto da SAF.
Por fim, é preciso ressaltar que até o dia 31 de dezembro de 2021, a SAF está sendo gerida de modo “pré-operacional”, de forma que vários trâmites – jurídicos e burocráticos- ainda precisam ser feitos para que, só em 2022, o clube possa firmar contratos com atletas e treinadores, patrocinadores, entre outros movimentos comerciais. A ideia é que o Cruzeiro SAF seja iniciado de forma íntegra em janeiro. Segundo apurações recentes da nossa reportagem, outros investidores deverão trabalhar com a SAF para que o Cruzeiro tenha dinheiro suficiente para pagar dívidas urgentes (como o transfer ban), arcar com salários e ser um clube operacional até a possível entrada do investidor – prevista pela atual diretoria para acontecer entre abril e maio de 2022, obedecendo os processos ditos pelo head da XP Investimentos, Pedro Mesquita, em entrevista realizada ao portal DMD (você confere clicando aqui).