Análise: Cruzeiro depende apenas de si mesmo, mas precisa compreender suas próprias limitações

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Durante o Brasileirão de 2023, o Cruzeiro teve inúmeras oportunidades de se estabelecer no bloco intermediário do campeonato e evitar chegar ao ponto atual: lutando contra o rebaixamento no momento mais crítico da temporada. Entretanto, faltando apenas quatro jogos para o final do Brasileirão, o Cruzeiro tem a chance de extrair uma lição valiosa de todo o percurso até aqui e modificar o cenário. É crucial reconhecer as próprias limitações e priorizar o que é prático em detrimento do que é ideológico. Abrir mão de ideias e conceitos em busca de resultados, dentro dos limites estabelecidos nas quatro linhas.

Um exemplo emblemático foi o jogo contra o Vasco, na última terça-feira (22). Após realizar o impensável ao buscar a virada, não houve qualquer intervenção para corrigir os problemas, mesmo que evidentes para todos. Manter a dupla de zaga com Neris e Castán, que já não vinham desempenhando bem há alguns jogos, é simplesmente persistir contra a lógica.

Lucas Oliveira destaca-se como o melhor zagueiro deste elenco. Apesar de uma temporada irregular, espera-se dele uma capacidade maior de segurança e construção de jogo. João Marcelo, contratado após se destacar no futebol português, mostrou nos poucos minutos em que esteve em campo ter pontos fortes a serem explorados, como o jogo aéreo.

Trabalhar com hipóteses sempre é desafiador, mas se a opção de tê-los em campo não desse certo, dificilmente seria pior do que a situação atual. Novamente, por falta (ou excesso?) de convicção, o Cruzeiro sofreu as consequências. E além desse caso, poderia citar outros como a insistência em Mateus Vital, Wesley e tantos outros. Mas o objetivo aqui não é personificar.

Até porque, é importante ressaltar que isso não é exclusivamente um problema de Paulo Autuori e sua comissão técnica. Zé Ricardo, com sua insistência em alguns jogadores de baixo rendimento, Pepa e sua dificuldade em ler e mudar o jogo, até mesmo Pezzolano e seu desinteresse que comprometeu toda a temporada. Tudo isso faz parte de uma “ideia institucionalizada” que, no momento, não contribui nem se alinha ao objetivo primordial: buscar os três pontos a todo custo.

Um novo rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro colocaria em xeque todo o bom trabalho que possa estar sendo desenvolvido no clube. Infelizmente, o futebol brasileiro é resultado e refém do imediatismo. Enfrentar esse “sistema” agora seria como lutar contra moinhos de vento.

O desafio do Cruzeiro não é o problema estrutural do futebol brasileiro, as práticas atrasadas, a arbitragem ruim, as condições defasadas, a falta de um fair-play financeiro, a profissionalização do futebol em geral e a falta de planejamento das federações.

O desafio do Cruzeiro é vencer o Goiás.

O objetivo é buscar os três pontos, independentemente de utilizar, ou não, as convicções, afinal, o Cruzeiro depende apenas de si.

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